Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
A UTILIZAÇÃO DE METODOLOGIAS ATIVAS NO ENSINO DE BIOQUÍMICA CAPILAR: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Camila Panzetti Alonso, Ednéia Albino Nunes Cerchiari, Rogério Renovato
Última alteração: 2015-10-19
Resumo
Apresentação e Objetivos: As Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) para a graduação em Farmácia defendem a formação de um profissional generalista, crítico e reflexivo, capaz de atuar em todos os níveis de atenção à saúde. Para tanto, as DCN se basearam no Parecer nº 1300 do Conselho Nacional de Educação, de 2001, que consideram que os alunos dos cursos de graduação devem aprender a aprender, aprender a ser, aprender a fazer e aprender a viver juntos (SOUSA, 2014). Para Anastasiou (2003) os elementos da discussão da ação do docente são exatamente os que se referem ao ensinar, ao aprender e ao apreender, pois muitas vezes estas ações não são executadas como ações conjuntas, pelo fato de muitos docentes ainda acreditarem que ensinar é a apresentação de conteúdos na forma de exposição, onde o professor fica como fonte de saber, transmitindo as informações e os alunos são apenas receptores. A globalização e a facilidade de acesso da população às informações por meio de mídias digitais traz a necessidade de um repensar da prática docente, a fim de agregar maior conhecimento, tornar a sala de aula mais dinâmica e proporcionar a quebra do paradigma professor-aluno, onde o aluno não deve mais ser visto apenas como um ser passivo, mas estimulado a construir seu conhecimento, sendo o professor o facilitador desse processo de aprendizagem (LIMBERGER, 2013). Nessa nova era da educação, é necessário o docente entender e se posicionar nesse contexto, voltando seu olhar para os alunos e perceber que a aula totalmente expositiva é monótona, não cativa a atenção dos alunos e, consequentemente, não permite a apreensão de conhecimentos (JUNIOR, 2009). Assim, para que haja uma prática efetiva, que englobe tanto a ação de ensinar como a de apreender em um processo de parceria entre professor e aluno, de maneira a superar a exposição tradicional como única forma de explicitar conteúdos, é que se inserem as estratégias de ensinagem (ANASTASIOU, 2003). Desta maneira, o objetivo deste trabalho é relatar a experiência vivenciada como docente no curso de Farmácia do Centro Universitário da Grande Dourados (UNIGRAN) utilizando as estratégias de ensinagem como ferramenta de construção do conhecimento, bem como as repercussões positivas no processo de aprendizagem dos alunos envolvidos no processo. Desenvolvimento: O assunto abordado foi bioquímica capilar e os procedimentos estéticos de alisamento, onde é possível a discussão sobre os aspectos químicos e bioquímicos da queratina, sua estrutura proteica e a influência do pH; aspectos biológicos relacionados ao couro cabeludo, produção de sebo, forma do fio e as fases de crescimento capilar, bem como os aspectos químicos dos alisantes capilares e os danos à saúde causados, especificamente, por produtos contendo formol, o que é proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) por causar irritação ocular, dermatites, quedas capilares e, até mesmo, câncer de vias aéreas superiores através da inalação de vapores tóxicos emitidos durante o procedimento de alisamento (HALAL, 2014; DELFINI et al., 2011). As aulas aconteceram semanalmente por 3 semanas consecutivas e participaram das aulas trinta alunos do oitavo semestre do curso na disciplina de Tecnologia de Cosméticos. As estratégias escolhidas para as aulas foram baseadas nas estratégias de ensinagem (ANASTASIOU, 2005), trabalhando-se com oficinas e utilizando estudo de texto, tempestade de ideias/cerebral, aula expositiva dialogada, painéis, bem como vídeos e um jogo tipo quizz. Como aporte teórico foram escolhidos os artigos de Abraham et al. (2009a, 2009b) “Tratamentos estéticos e cuidados dos cabelos: uma visão médica”, partes 1 e 2. Na primeira aula, os alunos foram divididos em quatro pequenos grupos e receberam assuntos diferentes dentro do tema. Os grupos construíram painéis com a síntese do assunto e cada grupo elegeu um aluno para apresentação do conteúdo. Neste caso, o painel foi utilizado para a construção do conhecimento e discussões e, segundo Anastasiou (2005) esta estratégia permite a habilidade de atenção e concentração, síntese de ideias e a formação de argumentos. No segundo encontro, inicialmente foi realizada uma tempestade cerebral com a pergunta “O que é alisamento capilar?”, em que os alunos foram dando opiniões utilizando frases curtas, sendo importante ressaltar que nessa técnica não há certo ou errado (ANASTASIOU, 2005). Após, foi realizado um estudo de texto, utilizando os artigos de referência teórica, para que os alunos pudessem discutir e relacionar com o que foi dito durante a atividade de tempestade cerebral. No terceiro e último encontro, foi utilizada a estratégia de um jogo tipo quiz, a fim de motivar os alunos para a busca de conhecimentos para a sua formação profissional (JUNIOR, 2009) e aula expositiva dialogada, sendo o forte dessa estratégia o diálogo, com espaço para questionamentos, críticas e a síntese do assunto (ANASTASIOU, 2005). Resultados: Durante as atividades, foi possível perceber a participação ativa dos alunos e o envolvimento com as tarefas e também foi possível verificar a construção e desconstruções do conhecimento e a possibilidade de relacionar os conteúdos dos três encontros. Os alunos discutiram sobre a influência do pH de xampus e condicionadores na fibra capilar. Houve muitos questionamentos sobre outros assuntos relacionados, como o uso de xampus sem sal, o uso de suplementos vitamínicos para crescimento capilar, entre outros. Os alunos acreditavam que apenas formol alisava e “descobriram” que há outros tipos de alisamento e que estes últimos são permitidos pela ANVISA e, ainda, puderam ter uma análise crítica e reflexiva com relação aos riscos que são expostos os profissionais cabelereiros durante a realização deste procedimento. Na última aula, os alunos foram convidados a fazerem uma avaliação da metodologia aplicada e muitos se manifestaram dizendo que desta maneira “aprendem mais” e que são capazes de “entender melhor” o conteúdo, pois os assuntos tratados estão relacionados com o cotidiano das pessoas. Este é um ponto positivo da utilização de metodologias ativas no processo de aprendizagem, que possibilita ao aluno o pensamento autônomo e crítico sobre o conhecimento adquirido e as evidências científicas encontradas (ZEFERINO; PASSERI, 2007). Por outro lado, os novos métodos de ensino também são desafiadores e exigem do professor a seleção de estratégias pedagógicas que possibilitem a participação ativa dos alunos, sendo importante que os docentes conheçam uma grande variedade de atividades pedagógicas e que possam combinar diferentes métodos para manter o interesse do aluno (SOBRAL; CAMPOS, 2012) e desta maneira, a utilização de diferentes estratégias de ensinagem propostas por Anastasiou (2005) foram fundamentais para alcançar os objetivos propostos. Considerações finais: A utilização das técnicas de ensinagem como metodologia ativa proporcionou um aprendizado mais dinâmico e participativo, abrindo caminho para a formação de um aluno mais crítico e reflexivo, caminho esse longo, árduo, porém possível.
Palavras-chave
Metodologias ativa de ensino-aprendizagem; Bioquímica; estudantes de farmácia
Referências
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ABRAHAM, L. S.; MOREIRA, A. M.; MOURA, L. M.; GAVOZZONI, M. F. R.; ADDOR, F. A. S. Tratamentos estéticos e cuidados dos cabelos: uma visão médica (parte 2). Surgical & Cosmetic Dermatology. n. 1, v. 4, p. 178-185, 2009b.
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