Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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EU, ESTUDANTE DE ENFERMAGEM E ENFERMEIRA: UMA NARRATIVA AUTOBIOGRÁFICA SOBRE FORMAÇÃO E PRÁTICA PROFISSIONAL
Bianca Joana Mattia, Maria Elisabeth Kleba

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


Apresentação: As mudanças no sistema de saúde do país que requerem novas formas de gerir e de cuidar fazem emergir a necessidade de transformações na formação profissional em saúde. Buscando orientar o modelo de ensino em saúde, com bases nos princípios e diretrizes do SUS, o Ministério da Saúde criou, em 2005, em parceria com o Ministério da Educação, o Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde). A Universidade Comunitária da Região de Chapecó – Unochapecó – aprovou seu primeiro projeto no edital do Pró-Saúde para o curso de Enfermagem no ano de 2005, fortalecendo a revisão curricular deste curso, que já vinha ocorrendo. A primeira turma a ingressar no curso de graduação em Enfermagem com a nova proposta curricular foi do ano de 2007, tendo egressos no primeiro semestre de 2011. No ano de 2009, iniciam na Unochapecó atividades do Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde), como estratégia complementar do Pró-Saúde para a integração ensino-serviço-comunidade. A motivação em realizar a narrativa, está relacionada às vivências como acadêmica do curso de Enfermagem da Unochapecó, integrante da turma que iniciou no ano de 2007 e também como bolsista do PET-Saúde. Ainda, em 2011 iniciei minha atuação como enfermeira em uma Secretaria Municipal de Saúde. Trata-se de uma narrativa autobiográfica por entender como Bondía (2002) que o saber da experiência é individual, subjetivo, relativo e pessoal, sendo que duas pessoas ainda que compartilhem um mesmo acontecimento não fazem a mesma experiência e ninguém pode aprender pela experiência de outro.  Objetivo: Narrar a experiência enquanto estudante de graduação do curso de Enfermagem da Unochapecó e a repercussão em minha prática profissional. Desenvolvimento: A nova organização curricular do curso de Enfermagem na Unochapecó propõe metodologicamente, agrupar as áreas de conhecimento geral e específico por afinidade, formando núcleos de conhecimento capazes de contribuir para a formação de forma integrada. Durante a graduação, diversas atividades foram realizadas de forma conjunta ao Pró-Saúde, como visitas a diferentes instituições, que possibilitaram visualizar a atuação do enfermeiro em diversos cenários de prática. Dentre estas, viagens de estudos que possibilitaram a ampliação de conhecimentos culturais, percebendo novas formas de ensino-aprendizagem e também o desenvolvimento de sentidos como audição, sensibilidade e percepção, além de aprender sobre história, cultura e arte. Também, atividades como o VIM (Vivências Interdisciplinares Multiprofissionais) que possibilitou a interdisciplinariedade, o trabalho em equipe multiprofissional na realidade do SUS e a integração ensino-serviço. O mapeamento do território foi outra atividade realizada no curso, experienciado como importante instrumento para o planejamento em saúde. No ano de 2009, iniciei minhas atividades junto ao PET-Saúde da Família, participando da realização do diagnóstico das potencialidades e fragilidades do território. Nesta experiência, diferentes ferramentas dos Sistemas de Informação em Saúde foram apreendidas, por meio da pesquisa e intervenção no território. Como prática de aprendizado da gestão e gerência em saúde e enfermagem, foi aplicado o Planejamento Estratégico Situacional (PES), uma ferramenta que viabiliza maior coerência com os princípios do SUS, como a participação social e o uso da epidemiologia no estabelecimento de prioridades. Resultados: A formação no curso de Enfermagem da Unochapecó foi ancorada nos eixos do Pró-Saúde, conforme segue: O Eixo A: Orientação Teórica, destaca que os profissionais devem ser capazes de reconhecer, para além dos determinantes biológicos, os determinantes sociais do processo saúde-doença, base para que realizem uma avaliação crítica da situação de saúde da população a fim de direcionarem ações que transformem essa realidade. As experiências de aprendizagem, como visitas a diferentes realidades e o mapeamento do território, possibilitaram esse reconhecimento. Para Freire (1980), a conscientização consiste na capacidade de os sujeitos imergirem na realidade, aproximando-se do objeto admirado e, em seguida, se afastarem desse objeto, de forma a tomar consciência de seu contexto e suas implicações. Essa experiência favorece que os sujeitos proponham respostas criativas de enfrentamento, capazes de transformar a realidade. Nisso consiste o saber da experiência que, para Bondía (2002), é adquirido no modo como as pessoas respondem ao que vai acontecendo ao longo da vida e no sentido que se dá a esses acontecimentos.  No Eixo B: Cenários de Prática: a formação deve priorizar cenários desinstitucionalizados para a aprendizagem da prática profissional, agregando espaços educacionais e comunitários, garantindo a interação dos estudantes com a população, o que também foi vivenciado desde o início do curso de Enfermagem. Conforme Freire (1987) A educação acontece entre os homens porque esses são incompletos e, tentando completar-se, relacionam-se por meio diálogo e, mediatizados pelo mundo, tornam-se mais humanos. O conhecimento é dessa forma produto das relações humanas. É agindo no mundo que os sujeitos constroem o conhecimento, ou seja, o conhecimento nasce da ação e interação. Quanto ao Eixo C, da Orientação Pedagógica, propõe-se uma metodologia que possibilite ao estudante ocupar lugar de sujeito na construção do conhecimento e ao professor assumir papel de facilitador do processo, que deve ter como base a problematização.  Freire (1980) refere que a problematização, vivenciada em todo processo de formação, fomenta a criticidade dos estudantes, estimulando a criatividade, por meio da reflexão e da ação dos estudantes sobre a realidade.  Freire (1987) diz ainda que a vocação ontológica do homem é a de ser sujeito, não objeto, e refletir sobre a realidade na qual está inserido.  Em relação à prática profissional, sempre tive afinidade pela atenção básica. As vivências nos cenários de prática fortaleceram esse interesse e também a vontade de ingressar na carreira acadêmica, atuando durante três anos atuação como enfermeira em uma equipe da Estratégia Saúde da Família em um município de pequeno porte no oeste catarinense, momento enriquecedor e que também contribuiu para formação como profissional do SUS. Durante esse período foram desenvolvidas ações com base na integralidade, buscando o diálogo, em todas as situações de enfrentamento, para mediar conflitos. Além disso, a formação instigou a inserção na carreira acadêmica, possibilitando dessa forma, em 2014, o ingresso no mestrado, tendo como tema de pesquisa o Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde: Repercussões na Prática de Enfermeiros. Considerações Finais: A experiência da formação teve influências relevantes nas escolhas e caminhos percorridos na prática profissional e no meio acadêmico. Por isso, tomando por conceito de experiência o que Bondía (2002) traz “A experiência é o que nos passa, o que nos acontece, o que nos toca. Não o que se passa, não o que acontece ou o que toca”. O Pró-Saúde, por meio das iniciativas do curso de Enfermagem da Unochapecó, gerou oportunidades de aprendizado de envolvimento e maior comprometimento com a construção do SUS, bem como de protagonismo, sujeito do processo permanente de formação profissional.

Palavras-chave


Formação em Enfermagem; Prática Profissional; Reorientação da Formação Profissional em Saúde;