Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A maturidade em movimento contra a Síndrome Metabólica na Estratégia Saúde da Família
Ricardo Henrique Vieira Melo, Rosana Lúcia Alves Vilar, Tházia Costa, Antônio Medeiros Junior, Nayara Santos Martins Neiva Melo, Francijane Diniz Oliveira, Ligiana Nascimento Lucena, Marise Soares Almeida

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


Apresentação: A Atenção Primária à Saúde (APS), orientada pela Estratégia Saúde da Família (ESF), necessita de ações cotidianas longitudinais de promoção da saúde que sejam capazes de compor circuitos virtuosos, pela circulação e capilaridade entre os usuários e os profissionais de saúde nas práticas desenvolvidas e compartilhadas. Nesse sentido, o programa viver a vida com mais saúde, da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) do município de Natal (RN), é uma ação intersetorial que teve início no ano de 2008 e atualmente desenvolve a promoção de atividades físicas em 32 unidades de saúde no município, contemplando pessoas portadoras de doenças como diabetes, hipertensão, transtornos mentais, problemas reumáticos, com atividades como caminhadas, ginástica e alongamento. A USF Cidade Praia elaborou um projeto de extensão, em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), redimensionando seu grupo de ginástica em função do programa supracitado. Este trabalho relata a vivência de um projeto de extensão denominado cabelos de prata: a maturidade em movimento, que teve por objetivo promover a melhoria da qualidade de vida do idoso a partir da prática de atividades físicas supervisionadas, na Unidade de Saúde da Família (USF) de Cidade Praia, no Distrito Sanitário Norte I, em Natal (RN). Desenvolvimento do trabalho: A extensão fez parte de um estudo mais amplo denominado Corpo, cultura e cuidado de si: reflexões e ações em Estratégias de Saúde da Família, aprovado por Comitê de Ética em Pesquisa da UFRN, no CAAE nº 07562712.0.0000.5537, desenvolvido em 2013/2014. A natureza (qualitativa) do relato se aproxima das características de um estudo de campo, onde o objeto é abordado em seu meio próprio ambiente, ancorada no suporte da fenomenologia de Merleau-Ponty e na teoria da dádiva de Mauss, interpretando a circulação de bens simbólicos entre os participantes. Participaram regularmente das atividades 53 idosos e algumas pessoas de outras gerações (cuidadores e familiares), moradores na região de abrangência da USF. Os critérios de inclusão dos idosos foram: possuir 60 anos e mais; ter participação voluntária, ser participante regular da ação coletiva, ter capacidade comunicação, ter feito inicialmente uma avaliação física multidisciplinar, ser portador de alguma doença componente do quadro de Síndrome Metabólica, e ter recebido alguma prescrição medicamentosa. Para a coleta de dados foram utilizadas a observação participante e a entrevista semiestruturada. Logo após a realização de medidas antropométricas, foi aplicado um questionário com perguntas fechadas para averiguar a prática, a frequência, a duração de exercícios, e os motivos para a não realização de atividade física, bem como averiguar a adesão total, parcial ou ausente à dieta. A Escala de Morisky foi aplicada, durante as entrevistas, para saber se os usuários seguiram a prescrição da última consulta e os motivos em caso contrário. As atividades físicas aconteceram todas as terças e quintas entre as seis e sete horas da manhã, e tinham duração de quarenta minutos em média. Foi feita a aferição da pressão arterial de todos os participantes, antes e após os exercícios físicos. O educador físico, supervisor das atividades, fez o controle da intensidade dos exercícios, das caminhadas, bem como: sua duração, frequência, execução correta, aquecimentos e alongamentos. E uma nutricionista verificou o índice de massa corporal (IMC), fez o preenchimento de mapa nutricional, revisão e acompanhamento da dieta, incentivando a adesão dos participantes às recomendações e orientações para uma vida mais saudável. Resultados e/ou impactos: Metade dos entrevistados não aderia às atividades físicas. Dentre os que aderiam, 66,66% realizavam exercícios pelo menos três vezes por semana; enquanto que 33,33% alegaram frequência inferior. Dentre os motivos para a não adesão às atividades corporais, tem-se, principalmente: a falta de motivação (33,33%); a disponibilidade de tempo (33,33%) e agravos à saúde que impossibilitam a atividade física (20%). Cerca de um terço dos participantes (33,33%) alegaram adesão total à dieta, 26,67% e 40% indicaram, respectivamente, adesão parcial e não adesão à dieta. Dos que aderiram total ou parcialmente à dieta, 22,22% receberam orientações de um nutricionista e 77,78% não foram orientados; Dentre os principais motivos alegados para não adesão ou adesão parcial à dieta, tem-se: 46,67% não conseguem seguir a prescrição devido a fatores motivacionais e ao sabor desagradável dos alimentos; e 40% não sentiram a necessidade de realizar a dieta proposta, pela falta de informações quanto à importância e às repercussões da dieta para a saúde. De acordo com a escala adaptada de Morisky, para avaliação do seguimento diário ao tratamento prescrito, 46,67% dos pacientes tiveram máxima adesão, 50% moderada e 3,33% baixa adesão; Dentre os motivos para as respostas negativas, o mais citado (60%) foi intolerância (efeitos adversos) aos medicamentos. Através das práticas compartilhadas, com a comunicação e a afetação mútua promovida pelos encontros, os participantes compreenderam-se de maneira diferente, também observando o mundo através dos movimentos, percebendo a importância da interação para que suas vidas cotidianas pudessem fluir cada vez melhor, de forma mais prazerosa, por estar carregado de sentido para os sujeitos envolvidos. Em relação às atividades coletivas, o que se tem a dar ou doar durante a vivência? A percepção e a consciência de si, do autocuidado e do próprio corpo, a estabilidade do equilíbrio, as habilidades apreendidas a partir da entrega de si à experiência. E o que se recebe? O sentimento de abertura para outras possibilidades, de descobertas e curiosidade para o novo, de acolhimento e integração com o grupo, novos conhecimentos, as dinâmicas interativas, reflexivas e meditativas. A maioria dos participantes demonstra ou desperta o potencial de cuidar de si após as aproximações com seu corpo e sua consciência (mente), experimentando a sensação de valorização pessoal, familiar e comunitária, retribuindo: a vontade de reproduzir a prática, compartilhando as vivências; o desejo de continuidade da experiência; o compromisso espontâneo de incorporação das atividades nos serviços de saúde. Considerações finais: A promoção à prática de exercícios físicos regulares, parte essencial do tratamento das doenças relacionadas à Síndrome Metabólica, constitui um desafio para os profissionais de saúde. Os motivos para a não adesão podem guiar um trabalho multidisciplinar, o qual deve estar pautado no incentivo e na formulação de meios que propiciem uma mudança nos hábitos de vida dos usuários. A continuidade das atividades poderá constituir um dos pilares de sustentação para a redução da dependência de terapias medicamentosas exclusivas, consolidando a prática cotidiana de exercícios físicos associados a outras iniciativas que reforcem a cultura de hábitos de vida saudável, para que possa ocorrer a diminuição do número de hospitalizações e sequelas provenientes de complicações referentes às doenças crônicas não transmissíveis, prevenindo sofrimentos emocionais, pelo combate aos estados de ansiedade, tristeza, depressão e isolamento social.

Palavras-chave


Saúde do Idoso; Promoção da Saúde; Saúde da Família.

Referências


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