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O MOVIMENTO DOS TRABALHADORES RURAIS SEM TERRA SOB A VISÃO DE UMA VIVENTE DO VER-SUS
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
Introdução O ano de 2002 foi marcado pela criação da Assessoria de Relações com o Movimento Estudantil e Associações Científico-Profissionais de Saúde, a fim de aproximar estudantes da construção de projetos que tenham o objetivo de estabelecer uma política de educação para futuros profissionais do SUS. Nesse ano, surgiram diversas propostas de vivência, dentre elas a Vivência e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde (VER-SUS) (CANÔNICO; BRÊTAS, 2008). O VER-SUS tem como eixos primordiais propiciar aos participantes a oportunidade de vivenciar conquistas e desafios inerentes ao SUS e aprofundar a discussão a cerca do trabalho em equipe, gestão, atenção à saúde, educação, além do controle social. Ainda, discute sobre a importância dos movimentos sociais, principalmente o movimento estudantil (CANÔNICO; BRÊTAS, 2008). Sendo assim, este trabalho tem como objetivo relatar a experiência propiciada pelo VER-SUS durante visita ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). O MST tem como objetivos principais a luta pela terra, pela Reforma Agrária e pela construção de uma sociedade mais justa, sem explorados nem exploradores (CALDART, 2003). Metodologia A experiência foi desenvolvida por uma acadêmica do curso de Enfermagem da Universidade Federal do Pampa do Campus Uruguaiana/RS, a mesma é bolsista PET MEC do Programa Práticas Integradas em Saúde Coletiva, o qual tem como objetivo promover a integração entre os acadêmicos participantes, desenvolver relações de cooperação entre a universidade e a gestão municipal, promover a maior integração entre ensino e serviço, otimizando as relações dos cursos com os serviços de saúde. Ainda, o programa vislumbra a promoção da saúde, a reabilitação de danos e agravos e a prevenção de doenças, além de possibilitar trocas de práticas e saberes de forma integrada e interdisciplinar através de ações com a comunidade. Dessa forma, através do programa, a acadêmica e bolsista teve a oportunidade de participar das atividades propostas pelo VER-SUS, as quais ocorreram entre os dias 20 de julho a 02 de agosto de 2015, na cidade de Santa Maria/RS. Nessa edição havia um grupo de 42 participantes, dentre eles graduandos, pós-graduandos e, ainda, outros profissionais de diferentes áreas. Durante as vivências o grupo era dividido em subgrupos, a fim de facilitar as visitas e se ter um melhor aproveitamento delas. Nesse período, foram realizadas visitas em diferentes localidades que proporcionaram a aproximação dos participantes com a realidade do Sistema Único de Saúde, dentre essas, foi visitado, no dia 25 de julho, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). A visita ocorreu pelos turnos manhã e tarde, os participantes se deslocaram até é o município de Júlio de Castilhos, o qual fica em média 68 km da cidade de Santa Maria/RS. Após a chegada ao local o grupo foi dividido em 3 subgrupos os quais foram distribuídos em diferentes residências a fim de conhecer a história de vida, dificuldades e conquistas dos moradores dessa região. No primeiro momento, os subgrupos foram recepcionados e apresentados às famílias que constituem esse assentamento, conhecendo assim os hábitos de vida, as plantações, formas de cultivo, entre outros. No segundo momento, os subgrupos juntamente com as famílias residentes dessa comunidade, participaram de um almoço coletivo, no qual os alimentos eram frutos do cultivo dessa região. Nesse período, houve grande integração entre o grupo participante do VER-SUS e as famílias do MST, tornando assim um momento bastante rico para todos. No terceiro e último momento, o grupo se reuniu em roda para apresentação individual de cada participante e morador e, posteriormente, foi debatido com um representante da EMATER acerca do que é o MST, os problemas enfrentados pelos componentes desse movimento e suas conquistas. O MST é um movimento de luta pela reforma agrária em resposta a desigualdade de acesso à terra no Brasil e possui outros objetivos além da reforma agrária, uma vez que estejam presentes ainda as discussões a cerca das transformações sociais importantes ao Brasil, principalmente àquelas no tocante à inclusão social. Resultados e Discussão Observou-se que durante a visita ao assentamento no município de Júlio de Castilhos/RS, foi possível compreender a cerca da história de vida e de luta pela terra desses indivíduos. Após a vivência nesse contexto, foi possível compreender e verificar o quanto é justa e importante a luta dessas pessoas por um pedaço de terra. São pessoas bastante acolhedoras e que lutam pelos seus direitos, pois acreditam e tem conhecimento deles. Foi possível verificar que, segundo relatos, essa região era conhecida como um latifúndio com apenas 50 cabeças de gado e, hoje, apresenta-se como um assentamento produtivo, o qual acolhe dezenas de famílias de pequenos agricultores. Antigamente, esses eram explorados por outros fazendeiros, uma vez que deveriam entregar parte da sua produção. Contudo, hoje são assentados e possuem suas próprias terras e apresentam autonomia para produzir e cultivar nelas. Outro ponto importante a ser discutido, é o fato de que há uma grande dificuldade no que diz respeito ao acesso à saúde, pois a região recebe visita da equipe de saúde apenas uma vez ao mês. Além disso, encontra-se uma carência de estudos epidemiológicos nesse local, visto que, além dos assentados, alguns agricultores fazem grande uso de agrotóxicos. Dessa forma, observa-se a importância da realização de práticas de educação em saúde com esses indivíduos, que tenham como objetivo a prevenção de patologias e a promoção da saúde dessa população que, por vezes, realiza procedimentos de forma irracional, pois não possuem conhecimento dos riscos que perpassam por eles. Considerações Finais Acredita-se que essa experiência foi de grande valia, uma vez que tendo contato com essa realidade, foi possível construir novos conceitos referentes ao movimento. Ainda, entende-se que para lutar por nossos direitos, é preciso estar cientes deles e da nossa própria realidade, visando assim os princípios básicos do SUS, no qual abrange todos sem discriminação. Sendo assim, essa vivência acrescentou de forma bastante ampla no processo de formação pessoal e acadêmica, uma vez que ampliou o ponto de vista e deu estímulo para respeitar as diferenças, desconstruir conceitos e ter uma visão critica da sociedade em que vivemos.
Palavras-chave
SUS; Saúde Pública; Atenção à Saúde
Referências
CANÔNICO, Rhavana Pilz; BRÊTAS, Ana Cristina Passarella. Siginificado do Programa Vivência e Estágios na Realidade do Sistema Único de Saúde para formação profissional na área da saúde. Acta Paul Enferm; 21(2): 256-261, 2008
CALDART, Roseli Salete. MOVIMENTO SEM TERRA: lições de Pedagogia. Currículo sem Fronteiras; 3(1): 50-59, 2003.