Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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O PSE FAZ SENTIDO: RELATO DE EXPERIÊNCIA DA RESIDÊNCIA MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE DA FAMÍLIA EM UM BAIRRO DE FLORIANÓPOLIS - SC
Renata Marques da Silva, Laura Santos Neitsch, Léo Fernandes Pereira, Vanessa Baldez do Canto

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


Apresentação: O Programa Saúde na Escola (PSE), instituído por Decreto Presidencial nº 6.286 em 2007, tem como objetivo garantir à comunidade escolar o acesso às ações e serviços de saúde dentro das diretrizes do SUS e estimular a participação desta comunidade na construção de melhores condições de saúde e qualidade de vida por meio da articulação intersetorial. A atuação do PSE se dá em três componentes: avaliação das condições de saúde, promoção da saúde e prevenção de agravos. O Programa conta com articuladores, estes são profissionais alocados na Unidade Escolar e no Centro de Saúde (CS) que se encontram em uma reunião denominada Grupo de Escuta (GE). O GE de uma Escola Básica Municipal e um CS em um bairro de Florianópolis - SC tem frequência semanal e objetiva o acolhimento das questões trazidas pelos articuladores, principalmente no que se refere à discussão de casos. Esse CS é campo de atuação do Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família UFSC/SMS (REMULTISF) e os residentes participam do GE como atividade do seu processo de trabalho. Em uma reunião do GE, a articuladora da Escola apontou como problemática, segundo a percepção dos professores, a relação dos alunos com a tecnologia, principalmente o uso de aparelhos celulares, e como isso afetava negativamente o processo de ensino/aprendizado. Também se discutiu sobre o barulho durante os intervalos, que se estendia para a sala de aula, atrapalhando a concentração dos alunos. Essa problemática foi acolhida e discutida nos períodos de planejamento de ações multiprofissionais e interdisciplinares dos residentes, denominado Projeto Integrado (PI). Nesse espaço os residentes vinculados à REMULTISF planejaram oficinas com o intuito de estimular os alunos para outras formas de percepção e interação social. Essas oficinas tinham como plano de fundo a crítica ao uso excessivo do celular e buscavam estimular mais o olfato e o tato, em detrimento da visão, esta última reconhecidamente subutilizada pelas tecnologias. Este trabalho configura-se como um relato de experiência das oficinas planejadas pelos residentes com o intuito de estimular os estudantes para outras formas de percepção e interação sociais, em detrimento do uso de tecnologia, por meio dos sentidos em uma Escola em um bairro de Florianópolis- SC no âmbito do PSE. Desenvolvimento do trabalho A oferta das oficinas aos estudantes do 5º ao 8º ano de uma Escola Básica Municipal de Florianópolis - SC englobou diversas etapas: discussão acerca da problemática; seleção e programação das atividades; apresentação do projeto; elaboração de cronograma; execução das oficinas e avaliação. A discussão e o planejamento inicial se deram nos espaços de PI e posteriormente as oficinas foram apresentadas aos articuladores do PSE, equipe escolar e Equipe Saúde da Família (ESF) no GE e nos espaços de reunião de equipe. Após as avaliações e contribuições dos profissionais foi elaborado um cronograma em conjunto com a Escola para as intervenções. Os profissionais da ESF foram convidados a participar, assim como os professores das turmas de 5º ao 8º ano. É importante ressaltar que as oficinas foram reavaliadas periodicamente nas reuniões do PI, para verificar se os propósitos haviam sido atingidos e para adaptar as atividades às diferentes faixas etárias das turmas. As oficinas foram iniciadas com uma dinâmica de apresentação na qual utilizamos um espelho, objetivando conhecer a percepção que as crianças tinham sobre si mesmas. Para desenvolvermos o tema principal, que foi o estimulo á percepção dos sentidos, utilizamos três dinâmicas. A primeira abordava o estímulo auditivo. Para isso, foi realizada uma gincana tipo passa ou repassa onde os grupos buscavam reconhecer gravações de sons (instrumentos, sons cotidianos, animais exóticos...). A segunda atividade destinava-se ao estímulo do tato e olfato. Para tal atividade os estudantes foram vendados e foi colocado no pulso de cada dois estudantes trouxinhas aromatizadas com o mesmo aroma. O objetivo foi que cada criança, vendada, encontrasse seu par por meio do tato e olfato. Fazendo uso das próprias tecnologias emergentes, a terceira dinâmica foi a reprodução de um recurso audiovisual, disponível no youtube - “Look Up - Gary Turk”. Este vídeo, popular e contemporâneo, aborda a gradual redução do contato físico entre as pessoas em decorrência da popularização dos recursos tecnológicos. O vídeo faz um apelo para que as pessoas tirem o foco das telas eletrônicas trazendo a atenção novamente para o entorno. Por último, sentamos em forma de roda com os estudantes. Na roda, fizemos perguntas norteadoras buscando refletir coletivamente sobre as experiências de cada um a respeito das atividades vivenciadas. Por fim, em conjunto com os estudantes, elencaram-se temas relacionados à saúde para próximos encontros. Dentre eles destacamos: esporte, relações virtuais, namoro e primeiros socorros. Impacto Pelo relato percebeu-se que os estudantes já consideravam o uso abusivo de celular como prejudicial e que os outros sentidos eram subutilizados por conta disso. Por isso, fomentar a reflexão coletiva foi importante para que as diferentes percepções levantadas pelos participantes contribuíssem para uma consciência maior sobre o uso das tecnologias no ambiente escolar e na vida. Os estudantes, com o reforço dos facilitadores, acessaram memórias sensoriais relacionadas ao contato com a natureza - vento no rosto, banho de mar, a vista de uma paisagem ampla, etc - e a outros momentos cotidianos, como o cheiro da casa da avó, de um café da tarde, etc. Considerações Finais O processo de planejamento das atividades desde sua concepção até o fechamento das oficinas contribuiu para a consolidação da articulação entre o CS e Escola, promovendo maior alinhamento no planejamento de atividades educativas integradas dentro do PSE. O diálogo entre diferentes instituições é permeado por ruídos de comunicação e incompreensão do processo de trabalho do outro, o que pode resultar em dificuldades de articulação. Assim, faz-se necessária a sensibilização sobre a importância da construção coletiva em prol da educação em saúde. A autonomia dada aos estudantes durante os encontros, para que estes atuassem como coautores de seu processo de aprendizado, contribuiu para o empoderamento dos estudantes sobre questões de saúde individuais e coletivas, ampliando sua visão sobre a relação saúde e comunidades e fomentando reflexão sobre promoção de saúde e prevenção de agravos. 

Palavras-chave


educação em saúde; Programa Saúde na Escola; Residência Multiprofissional em Saúde

Referências


MINISTÉRIO DA SAÚDE. Escola Promotora da Saúde. Promoção da Saúde, [S.l.], v. 1, p. 26-27, 1999c.

PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Decreto nº 6.286, de 5 de dezembro de 2007. Institui o Programa Saúde na Escola - PSE, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília, DF, 5 dez. 2007b.