Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Auto percepção e abordagens comunitárias – O agente Comunitário de Saúde e a Saúde Mental
Rebeca Luiza Schulz, Conrado Neves Sathler, Catia Paranhos Martins, Ludmila de Paula Leite

Última alteração: 2015-10-27

Resumo


Introdução: Esta pesquisa faz parte do Projeto de Extensão Acompanhamento e Apoio Técnico do Programa Nacional de Melhoria de Acesso e Qualidade da Atenção Básica (PMAQ-AB) do curso de Psicologia da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD),  tendo o objetivo de contribuir para a Ciência da Saúde através da Análise de Discurso de Agentes Comunitárias de Saúde (ACS) da cidade de Dourados, MS. Está em andamento um trabalho com a equipe da Unidade Básica de Saúde (UBS) onde os estagiários têm a oportunidade de observar, apreender e propor intervenções na rotina de trabalho. Ao longo dessa experiência de estágio foi observada falta de espaço para o dialogo entre as ACS, ausência da oportunidade delas expressarem o que se passa em seu cotidiano de trabalho e, em consequência, a presença de discurso de stress, adoecimento e sobrecarga de trabalho refletindo em um alto índice de afastamentos e absenteísmo (RIBEIRO, AMARAL, STALIANO, 2015). Com isso entendemos a importância de possibilitar um espaço onde as ACS se sintam livres e seguras para tratar sobre os assuntos que se fazem presentes em seu cotidiano, através da utilização da roda de conversa. Procuramos dar o enfoque na Saúde Mental pelo fato observado que dentro da UBS e na comunidade atendida as questões de adoecimento e saúde mental não são tratadas, segundo as ACS são negadas pelos próprios usuários com problemas desta ordem e não são discutidas nas equipes, ressaltando a necessidade de conversar sobre o tema. Para compreendermos as questões de Saúde Mental adotamos uma visão para além do modelo médico tradicional, centrado na cisão mente e corpo que vê a saúde como a ausência de doença. Segundo Morais (2005), pode-se compreender o processo saúde-doença à partir de um conceito ecológico que possibilita uma visão mais abrangente, considerando questões como a historicidade, a influência do contexto sociocultural para a definição do que são entendidas práticas de saúde, a multidimensionalidade do bem-estar do sujeito, levando-se em conta a influência das questões psicológicas, biológicas, espirituais e sociais; e a processualidade que considera o estado de saúde e doença como partes de um todo, continuado e não como estados absolutos ou estáticos independentes um do outro. Ao enxergarmos a complexa necessidade de organização do sujeito perante as diversas esferas que envolvem a saúde mental reafirmamos como o paciente que procura o atendimento no Sistema Único de Saúde (SUS) deve ser acolhido integralmente, precisando ter a devida atenção para as questões que o adoecem e não manter o atendimento apenas concentrado no saber médico. A teoria de Merhy (1998), aponta  que só uma ligação adequada entre tecnologias leves e duras é capaz de produzir um sistema de Saúde com qualidade do serviço que possui maior defesa da vida do usuário, expressado em resultados e a possibilidade de maior controle dos riscos de adoecer ou agravamento de problemas á equipe. Essa tecnologia leve-dura é constituída pela inter-relação do saber empírico dos profissionais da saúde, como exemplo as ACS, que mantêm seu conhecimento sobre saúde á partir de seu cotidiano de trabalho, formam a equipe e pensam suas práticas e ações para o cuidado de cada caso e pela importância dada ao saber fazer organizado, estruturado, protocolado e normalizável, assim  o desenvolvimento das ações resultam na produção de um maior grau de autonomia ao sujeito em seu modo de estar no mundo (MERHY, EMERSON, 1998). As ACS têm importante papel na relação de construção de vínculo entre o paciente e a UBS. Elas estabelecem um contato próximo com o usuário que possibilita conhecer suas necessidades reais e globalizadas, podendo trazer a toda a equipe as informações necessárias para um atendimento integral. As ACS também ofertam ao usuário em suas visitas um acolhimento e atendimento em saúde a partir de seu saber popular sobre como fazer saúde e também de sua posição que funciona como uma ponte entre esse saber popular e o saber científico disponível na rede. Esta proposta de intervenção tem como objetivo possibilitar a expressão das experiências das ACS com o intuito de analisar a visão das trabalhadoras sobre a saúde mental, ajudá-las a ressignificar positivamente suas vivências e a compreender os sentimentos envolvidos em seu trabalho, desmistificar algumas doenças mentais e questões envolvidas nos assuntos ainda vistos como tabus. Objetiva ainda oferecer informações que as profissionais achem importantes para compreender os quadros vistos no trabalho e possibilitar a melhor relação entre ACS e os usuários, buscando um vínculo benéfico ao usuário para que ele se sinta acolhido e atendido integralmente pelo serviço. Desenvolvimento Com a abordagem de pesquisa qualitativa, buscaremos analisar os discursos encontrados na roda de conversa para construir uma concepção de como está sendo atendido o usuário com problemas de saúde mental e como as Agentes significam o seu trabalho. Usaremos como ferramenta de coleta de dados os relatos das experiências em um diário de bordo analisando os discursos recorrentes entre as agentes, em que pontos os discursos são parecidos e em que questões se diferenciam. Procurando classificar os resultados em categorias organizadas pelas falas recorrentes, para compreender o sentido das experiências de trabalho expostas e discutir as singularidades encontradas. Utilizando se da teoria do Método de Explicitação do Discurso Subjacente (da Costa, 2007), a análise dos discursos nós traz a possibilidade de compreender os valores e conceitos a partir do qual se dão a construção e reconstrução de signos, símbolos e significados que permeiam as subjetividades dos indivíduos. Procurando coletar os discursos em seus ambientes naturais e informais levando em consideração o contexto que envolve as situações, no ambiente de reunião de equipe da UBS ou em uma visita familiar, a fim de manter as propriedades do contexto para a análise do discurso em questão. Considerações Finais: A pesquisa está em processo, atualmente na etapa de coleta de informações dada pelo início das rodas de conversas quinzenais sobre o tema da Saúde Mental com as ACS.  Até o momento foram tratadas as questões sobre a dificuldade de acompanhar e ofertar ajuda aos usuários, o preconceito existente na comunidade sobre o adoecimento psíquico, além de questões trazidas pelas participantes que relatam historias pessoais sobre o assunto e suas concepções sobre o processo de adoecer e/ou melhorar a saúde mental. Nas rodas de conversa fomentaremos a discussão entre o grupo, promovendo uma visão complexa do trabalho em saúde, conceito já presente no discurso de algumas ACS, que leva em conta os diversos fatores que influenciam o bem-estar do sujeito, com o intuito de estimular a visão entre elas de acolhimento do usuário em sua complexidade dentro do SUS.

Palavras-chave


saúde mental; atenção básica; agentes comunitárias de saúde; rodas de conversa.

Referências


MERHY, Emerson Elias. Sistema Único de Saúde em Belo Horizonte – Reescrevendo o Público.Ed. Xamã; São Paulo, 1998.

MORAIS, Camila Aquino; AMPARO, Deise Matos; FUKUDA, Cláudia Cristina  and  BRASIL, Katia Tarrouquella. Concepções de saúde e doença mental na perspectiva de jovens brasileiros. Estudos de Psicologia; Natal, 2012.

NICOLACI-DA-COSTA, Ana Maria. O campo da pesquisa qualitativa e o Método de Explicitação do Discurso Subjacente (MEDS). Psicologia: Reflexão e Crítica; Rio de Janeiro, 2007.

RIBEIRO, Sandra Fogaça Rosa; AMARAL, Priscilla Joyce Vieira do;  STALIANO , Pamela. Sofrimento psíquico do agente comunitário de saúde: revisão bibliográfica. R. Laborativa, v. 4, n. 1, abr. 2015.