Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
Sujeitos do quadrilátero da educação permanente em saúde na Região Oeste de Santa Catarina na visão de seus atores
Natalia Hoefle, Maria Elisabeth Kleba, Giselle Mascarello de Oliveira
Última alteração: 2016-01-06
Resumo
Apresentação: A Portaria GM/MS nº 1996/2007 define a Educação Permanente como um conceito pedagógico, no setor da saúde, para fortalecer relações entre ensino e o serviço de saúde (BRASIL, 2007). Os processos de educação permanente em saúde têm como objetivo a transformação das práticas profissionais, mudanças e melhoria institucional baseada na análise dos processos e da própria organização do trabalho (BRASIL, 2007). Compete à Comissão Intergestores Regional (CIR), juntamente com a Comissão de Integração Ensino-Serviço (CIES), implementar a Política Nacional de Educação Permanente em Saúde (PNEPS) em sua Região de abrangência. A CIES deve funcionar como instância interinstitucional e regional para a cogestão da PNEPS, atuando na formulação, na condução e no desenvolvimento de ações, contribuindo para a formação e o desenvolvimento dos trabalhadores, visando à melhoria da assistência e a reorganização dos serviços de saúde (BRASIL, 2007). Em sua composição participam representantes da gestão estadual e municipal da saúde e da educação, trabalhadores da saúde, instituições de ensino com cursos na área da saúde e movimentos sociais ligados ao controle social, constituindo, assim, um quadrilátero formado por sujeitos de diferentes segmentos vinculados ao setor saúde: atenção, ensino, gestão e controle social (CECCIM; FEUERWERKER, 2004). Este trabalho objetiva descrever como o quadrilátero da formação, por meio da CIES, está articulado na Região Oeste de Santa Catarina para fomentar a EPS. Desenvolvimento do estudo: Trata-se de um recorte do Trabalho de Conclusão do Curso (TCC) de Enfermagem, desenvolvido no primeiro semestre de 2014, no qual, por meio da Pesquisa Convergente Assistencial (PCA), buscou-se fortalecer a gestão da EPS na Região de abrangência da CIR Oeste de Santa Catarina. A PCA tem por finalidade conhecer e provocar mudanças na realidade, o que requer a participação dos sujeitos envolvidos no processo de pesquisa. Ao mesmo tempo em que se compromete com a construção de conhecimento, articula-se com a prática assistencial, possibilitando a implicação dos pesquisadores com o cotidiano do trabalho em saúde. Para Trentini; Paim (2004), a implementação da PCA divide-se em cinco fases: concepção, instrumentação, perscrutação, análise e interpretação. Para coleta de dados foram aplicadas entrevistas junto à câmara técnica da CIES, e um questionário aos secretários municipais de saúde da região. A apreciação dos dados foi realizada considerando-se os quatro segmentos da CIES, resultando em quatro categorias, a saber: “dos gestores”, “dos trabalhadores”, “dos movimentos sociais e controle social” e “do ensino”. O projeto foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa em Seres Humanos da Universidade Comunitária da Região de Chapecó (Unochapecó) protocolo nº 031/CEP/2014. Foi oferecido termo de consentimento livre esclarecido (TCLE) e o termo de uso de imagem e voz a todos os participantes. Resultados: A CIES da Região Oeste de Saúde de Santa Catarina, no período estudado, estava em processo de reestruturação de sua Câmara Técnica e dos representantes dos 25 municípios que a compõem. As CIES têm um papel importante na condução dos Planos Regionais de EPS (PAREPS), representando espaço relevante de discussões e deliberações. Para que as ações priorizadas contemplem a realidade é necessária a participação de todos os envolvidos no processo, sejam gestores, formadores, trabalhadores da saúde, sejam pessoas envolvidas em movimentos sociais e no controle social (SILVA et al., 2013). Nessa perspectiva, a elaboração do PAREPS, em 2014, contou com a participação das Instituições de Ensino Superior (IES) da Região, da Gerência de Saúde, trabalhadores do Hospital Regional do Oeste e de alguns municípios que compõem a Região Oeste de Saúde. Nesta oportunidade, os sujeitos envolvidos apontaram a importância de se trabalhar com todos os segmentos, com ações coletivas ou específicas. Dos Gestores: representantes da Câmara Técnica salientaram a necessidade de maior apoio da gestão para as ações de EPS, bem como sua baixa compreensão acerca do contexto e do conceito de EPS. Silva et al. (2013), em estudo sobre a educação permanente em saúde na ótica dos membros da CIES de uma das regiões do Rio Grande do Sul, também relatam que um fator limitador é a pouca participação dos gestores nas ações de educação permanente em saúde e, em decorrência, a inadequação das condições para a operacionalização das ações educativas. Por outro lado, os gestores entrevistados no presente estudo afirmam que a EPS é uma ferramenta para o “aperfeiçoamento e qualificação contínua dos profissionais”, para “solucionar os problemas das demandas de saúde” e também proporciona a “troca de experiências” entre os profissionais de saúde. Apesar de as falas indicarem valorização dos gestores sobre a EPS, elas enunciam uma visão restritiva, à medida que relacionam as ações de EPS voltadas apenas aos profissionais, evidenciando que os gestores não se reconhecem como sujeitos em processo de aprendizagem. Outro achado importante, é que, dos 15 gestores entrevistados, apenas sete reconhecem a CIES como parceira para auxiliar nas ações de EPS no município. Por outro lado, durante a III Oficina para elaboração do PAREPS, 13 gestores municipais participaram ativamente do encontro, elencando como prioridade para os anos de 2014-2016: capacitação em redes; mostra regional da atenção básica; e, curso de aperfeiçoamento para coordenadores e gestores. Dos trabalhadores; nesse segmento, um dos desafios para suprir as demandas de EPS na Região é o envolvimento maior dos serviços, no sentido de trazerem demandas de formação e desenvolvimento para as Universidades. Silva et al. (2013), reforçam que as parcerias das universidades com os serviços podem facilitar o desenvolvimento de ações educativas mais coerentes com suas necessidades. Favorecem ainda a incorporação de questões de aprendizagem significativas no processo de formação dos profissionais de saúde. Dos movimentos sociais e controle social: destaca-se a participação desse segmento na oficina do PAREPS, em que representantes dos usuários defenderam a necessidade de capacitação para qualificar o exercício do controle social. Destaca-se que os conselhos de saúde são constituídos não apenas por usuários, mas também por trabalhadores de saúde, prestadores de serviço e gestores. Nesse sentido, o planejamento de processos educativos voltados a estas instâncias deve levar em conta a heterogeneidade de seus representantes para fortalecer os segmentos com maior dificuldade de acesso à informações necessárias ao processo de tomada de decisão, em especial os usuários dos serviços de saúde (ALENCAR, 2012). Do ensino: uma potencialidade relatada pelos participantes do estudo foi a existência de quatro IES na Região, com cursos na área da saúde, para fomentar a EPS, bem como sua possibilidade de articulação para propor e desenvolver ações de EPS, independente dos recursos financeiros e apoio da CIR/CIES. Por outro lado, a CIES é percebida como espaço que pode favorecer a articulação das IES da Região, bem como um espaço que as universidades têm para discutir e contribuir para a efetivação da PNEPS, com ações de EPS voltadas aos diferentes segmentos do quadrilátero. Para Celedônio et al. (2012), a articulação entre as Instituições de Ensino Superior e os serviços de saúde potencializam respostas às necessidades concretas da população, já que contribuem para a formação de recursos humanos, a produção do conhecimento e a prestação dos serviços. Considerações finais: neste estudo identificamos as fragilidades e as potencialidades para o desenvolvimento da PNEPS, levando em consideração a percepção dos sujeitos envolvidos quanto ao processo de EPS na Região Oeste de Saúde de Santa Catarina e o papel de cada um para o fortalecimento ou não deste processo.
Palavras-chave
Gestão; Educação Permanente em Saúde; Comissão de Integração Ensino-Serviço
Referências
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