Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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VIVENCIANDO A SAÚDE MATERNO INFANTIL NO PET-SAÚDE
Ariele dos Santos Costa, Osvaldinete Lopes de Oliveira Silva, Thanara dos Santos, Márcia Cristina Chita Espírito Santo, Valéria Rodrigues de Lacerda

Última alteração: 2016-01-06

Resumo


APRESENTAÇÃO: O Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET-Saúde) é uma política indutora de mudanças na formação profissional na área da saúde, visando estimular práticas que contribuam para formar um profissional crítico-reflexivo, com habilidades para identificar, minimizar ou resolver problemas. A metodologia utilizada pelo PET-Saúde oportuniza aos estudantes da área da saúde vivenciar o SUS e conhecer o cotidiano das equipes de saúde em todas as áreas de atuação e em todos os grupos específicos. Dentre esses, o grupo materno infantil demanda ações contínuas de promoção da saúde, reforçando a atenção ao ciclo gravídico-puerperal e o crescimento e desenvolvimento da criança; momento especialmente oportuno para atuação transdisciplinar dos profissionais de todas as áreas da saúde. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: O PET - Saúde Materno-Infantil da UFMS foi constituído de estudantes de Enfermagem, Medicina, Nutrição, Odontologia, Farmácia e Fisioterapia e priorizou o desenvolvimento de ações de intervenção e pesquisa no grupo materno-infantil em 6 Unidades de Saúde (3 Unidades Básicas Saúde da Família, 2 Núcleos de Apoio à Saúde da Família, Centro de Atendimento à Mulher e Centro de Especialidades Infantil) em Campo Grande – MS.  Os estudantes tiveram a oportunidade de participar ativamente de atividades de educação, prevenção e promoção em saúde em conjunto com as equipes multidisciplinares de saúde das unidades. O público-alvo eram mulheres que iam às unidades para as consultas diversas e eram convidadas a participar de oficinas e rodas de conversa na sala de reuniões. Foram abordados temas de interesse como aleitamento materno, higiene oral, hábitos alimentares, planejamento familiar, alterações físicas durante a gestação, importância do pré-natal, a importância das cadernetas, crescimento e desenvolvimento infantil, entre outros. As presentes recebiam, além de orientações, kits oferecidos pelas unidades. Foi também desenvolvida uma pesquisa transversal com as mães para investigar os fatores associados ao comprometimento do crescimento e desenvolvimento de crianças menores de dois anos. As mães foram entrevistadas nas salas de espera sobre as condições socioeconômicas da família e práticas alimentares das crianças. Do cartão da criança foram obtidas informações sobre idade, peso, estatura e condições de nascimento. O estado nutricional foi classificado em escore para os índices estatura/idade (E/I) e peso/idade (P/I), segundo curvas de crescimento da OMS, 2006. As associações entre as variáveis foram analisadas pelo teste do Qui-Quadrado de Pearson, com significância de 5%. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: Percebemos que o número de gestantes e puérperas ainda é reduzido nas atividades, mesmo que essas sejam planejadas coincidindo com o retorno dessas mulheres as consultas. Tentamos lidar com a realidade encontrada, no caso das gestantes e puérperas, escutamos as queixas, observamos os cartões e as dificuldades existentes. O diálogo prevaleceu na promoção de saúde, pudemos pensar em propostas para as futuras intervenções conforme as dúvidas que elas demonstravam ter. Através deste espaço, oportunizamos pela conversa, as orientações e estímulos para o enfrentamento das dificuldades como para amamentar exclusivamente, conceito sobre o próprio leite, considerado como fraco ou pouco, além de demais aspectos que foram relevantes para o contexto. Encontramos novas formas de promoção da saúde, através da conversa informal, fora do consultório, fortalecendo o cuidado humanizado e integral, ampliando o conhecimento e as trocas entre estudantes, profissionais e comunidade, viabilizando um diálogo potencializador para o cuidado em saúde. O potencial de contribuição dos acadêmicos de diferentes áreas da saúde, com a teoria, vivências e experiências distintas aumentou durante as práticas.  Além disso, os resultados da pesquisa nos mostraram alguns aspectos importantes sobre as condições socioeconômicas, de saúde e nutrição das crianças. Foram investigadas 209 crianças. 75% das famílias tinham renda mensal familiar de até 2 salários mínimos e 78% das mães estudaram até o ensino médio. De parto normal nasceram 50,7% das crianças e 81% eram cuidadas pela própria mãe todo o tempo. Quanto à amamentação, 95,1% dos bebês foram amamentados e 77,4% ainda amamentavam. Dentre os menores de 6 meses, 94,6% ainda estavam recebendo o leite materno, mas só 55,9% em aleitamento materno exclusivo (variando de 68% de 0 a 1 mês para 33% aos 5 meses). O Aleitamento Materno foi de 62,6% em crianças com 6 a 12 meses e de 50,9% entre as crianças no segundo ano de vida. 13% das mães eram adolescentes; dentre estas 66,7% tiveram parto normal e 92,6% amamentaram. Quanto ao estado nutricional, 7,5% das crianças tinham peso baixo ou muito baixo, 7,5% peso elevado e 17,9% baixa estatura. A frequência no consumo alimentar diário das crianças maiores de 6 meses foi de: arroz (75,7%), feijão (80,4%), carnes (62,6%), frutas/sucos naturais (73,8), leite (62,6%), doces (18,7%), refrigerantes (9,3%), achocolatado (15,9%) e suco em pó (15%). Cerca de 7% dos menores de 6 meses já ingeriam outros alimentos como arroz, feijão, carnes, frutas, legumes e leite. Não amamentar foi associado ao uso de mamadeiras (p=0,025) e parto cesárea (p=0,041). CONSIDERAÇÕES FINAIS: O PET- Saúde provou ser muito importante tanto para os acadêmicos quanto para os profissionais, pois além de propor intervenções, aprendemos a observar os impactos das ações em saúde e identificar as reais necessidades. Dentre elas, observamos que as famílias são em sua grande maioria de baixa renda, que existe uma elevada prevalência de baixa estatura entre as crianças e, embora as taxas de Aleitamento Materno Exclusivo e Aleitamento Materno estejam acima da média nacional, o número de crianças que já consome diariamente alimentos processados e ultraprocessados deve despertar a atenção e a preocupação das equipes de saúde local, fomentando a implementação de ações de prevenção às doenças crônicas não transmissíveis voltadas às crianças desde os primeiros anos. Ressaltamos a importância do fortalecimento do vínculo da equipe de saúde com as mães, praticando a escuta qualificada e compreendendo suas dúvidas e dificuldades acerca da amamentação e alimentação complementar, pois essas questões podem repercutir diretamente na saúde da criança. Por fim, ressaltamos que a integração usuários-equipe-acadêmicos fortaleceu-se gradativamente no decorrer dos encontros, e podemos vivenciar de fato, a integração ensino-serviço-comunidade. O PET, portanto, constitui-se em uma importante estratégia que concretiza, de forma contextualizada no cotidiano real da saúde pública, o ensino, a pesquisa e a extensão na área da saúde. Sendo assim, sugerimos sua ampliação e fortalecimento para que todos os estudantes dos cursos da área da saúde no país tenham a oportunidade de uma formação mais qualificada para o trabalho em equipes multiprofissionais.  

Palavras-chave


educação; pet-saúde; materno infantil; SUS

Referências


Brasil. Ministério da Saúde. Ministério da Educação. Portaria Interministerial nº1802. Insitui o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde - PET-Saúde. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 2008. Disponível em:http://www.prosaude.org/leg/pet-saude-ago2008/1-portariaINTERMINISTERIAL-1.802-26agosto2008-PET-Saude.pdf

Brasil. Ministério da Saúde. Sistema de Vigilância Alimentar e Nutricional (SISVAN): orientações básicas para coleta, processamento, análise de dados e informação em serviços de saúde. Brasília (DF): Ministério da Saúde; 2008.

World Health Organization. WHO Child Growth Standards: Length/height-for-age, weight-forage, weight-for-length, weight-for-height and body mass index-for-age. Methods and development. Geneva: WHO; 2006.