Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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O PROGRAMA MAIS MÉDICOS EM REVISTA: INFORMAR O QUÊ E PARA QUEM?
LIARA SALDANHA BRITES, Angela Maria Grando Machado, Neuza de Freitas Raupp Cechinel, Claiton Agnaldo Ribeiro Santos, Rossana Santos Rocha Mativi, Cristianne Maria Famer Rocha

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


Apresentação: A ampliação da assistência na atenção básica, assim como a falta de médicos apontada pela população, é uma das questões emergentes no Sistema Único de Saúde e um dos maiores problemas de saúde do país (BRASIL, 2013a). Em resposta à campanha “Cadê o médico?”, realizada pela Frente Nacional de Prefeitos, em janeiro de 2013 (CARVALHO, 2013), e aos gritos das ruas que pediram mais saúde durante as “Manifestações de Junho” de 2013, foi instituído o Programa Mais Médicos (PMM) (BRASIL, 2013b), o qual objetiva: levar profissionais médicos para locais afastados dos grandes centros urbanos, de vulnerabilidade socioeconômica ou onde exista carência de médicos; investir em infraestrutura de Unidades Básicas de Saúde (UBS) e Unidades de Pronto Atendimento (UPA); e reestruturar e expandir a formação médica, com abertura de novas vagas nos cursos de medicina e de especializações, com uma lógica voltada às demandas do SUS (BRASIL, 2013a). O PMM repercutiu na mídia, nas entidades médicas e na sociedade como um todo. Nem todas as notícias foram/são favoráveis ao PMM, retratando o distinto entendimento do governo federal e das entidades médicas para enfrentar os desafios do SUS, como a difícil fixação dos profissionais médicos em determinados locais. Criada há mais de 35 anos, a IstoÉ - de circulação semanal nacional, de informação geral voltada ao público adulto, editada em São Paulo - é uma das revistas mais influentes do Brasil e a terceira em circulação (ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EDITORES DE REVISTAS, 2014). Por meio das reportagens veiculadas nesta revista, o presente estudo objetivou identificar e analisar a produtividade discursiva da mídia brasileira sobre o PMM entre junho de 2013 a julho de 2014. Desenvolvimento Utilizou-se, para o levantamento dos dados, a ferramenta de busca do sítio virtual da revista, com os descritores “Programa Mais Médicos”, “Projeto Mais Médicos” e “Mais Médicos” em edições da revista IstoÉ publicadas entre junho de 2013 a julho de 2014 (o primeiro ano do PMM). Foram selecionadas 31 edições virtuais, dispondo ao todo de 34 notícias. Foi realizada análise e categorização dos dados a partir da proposição de Minayo (2010) de Análise de Conteúdo na modalidade Temática.   Resultados e/ou impactos Constatou-se que nos sete meses de 2013 (junho a dezembro) foram publicadas 19 matérias (55,9 % dos textos analisados), enquanto nos sete meses subsequentes (janeiro a julho de 2014) houve um declínio no número de publicações, com 15 matérias (44,1 %dos textos) – diferencial que pode ser relacionado ao tempo histórico das publicações. Em 2013, a revista investiu em trazer às suas páginas as polêmicas despertadas com a aprovação do PMM e suas propostas, como a chegada de médicos estrangeiros, inclusive cubanos, ao Brasil, fato este que mobilizou a classe médica no país por meio de suas entidades de classe e sociedade civil. Entre janeiro a julho de 2014, havia a consolidação do PMM e melhor aceitação por parte da sociedade/usuários, ao tempo em que era evidenciado, nas falas dos parlamentares e guindado à visibilidade positiva em cenário pré-eleitoral, o que justifica neste período as matérias da IstoÉ manterem em pauta o Programa e veicularem com frequência o cunho político partidário do mesmo. Os temas mais frequentes corroboram com esse contexto histórico de lançamento do Programa e de período eleitoral. Destaca-se o PMM como o principal assunto tratado, com 26,7 % das menções, seguido pela temática Política/Eleições, com 19,8%. No tocante aos personagens mencionados nas produções textuais (de quem se fala), os médicos estrangeiros/cubanos totalizaram o maior número de alusões, citados em 12 matérias, seguidos da Presidenta Dilma Rousseff, citada em 10 textos, e do ex-Ministro da Saúde Alexandre Padilha e dos médicos brasileiros, ambos citados em 7 matérias. Em relação à análise de quem está falando nos textos, observou-se que a maioria tem como autor o colunista/cronista da revista (50%), seguido pelos representantes do governo federal (14%) e de classe e gestores de saúde (ambos com 10% das publicações). Dentre os 34 textos publicados, verificou-se que maior parte apresentou o Programa de forma positiva (47%) ou neutra (32%). Em relação ao conteúdo das reportagens, a análise do material pesquisado foi organizado nas seguintes categorias: O que se lê sobre o Mais Médicos? A maioria das matérias trouxe informações condizentes com o PMM ou críticas a este. Não se observou relações significativas entre as etapas do Programa divulgadas pelo MS e as publicações, o que nos leva a inferir que o governo federal não pautou a revista. Apesar do PMM ter mais de uma estratégia (como investimento em infraestrutura e reestruturação e expansão da formação médica) e de durante o período pesquisado já haver médicos brasileiros no Programa, o foco é na importação de médicos estrangeiros (principalmente cubanos) e na falta de médicos nos territórios. O percurso de criação do PMM e parte de seu desenvolvimento é apresentado nas matérias e o cenário de disputa político-partidária também é trazido às páginas da revista, com um caráter informativo ao leitor. As falas contrárias ao Programa são oriundas das entidades que representam os médicos. O que vê sobre o Mais Médicos? As imagens destacam principalmente a construção política do Programa, com fotos de pessoas públicas ligadas ao governo federal, legislativo e entidades representantes dos médicos. Também são registrados casos amplamente retratados na mídia brasileira sobre a hostil recepção dos médicos brasileiros aos cubanos e a fuga de médicos cubanos para os Estados Unidos da América. Dentre todas as imagens, destacam-se aquelas da reportagem especial sobre o PMM, publicada em 10 de julho de 2013. Além da capa, há 13 páginas sobre o PMM. As imagens dessa reportagem - a maioria em preto e branco - reforçam a falta de médicos, o atendimento dos médicos do Programa em hospitais superlotados e em cenários de vulnerabilidade econômica e social. A reportagem também retrata a oposição dos médicos brasileiros – com fotos da “revolta de jaleco” – contrários ao PMM. Considerações Finais: Este estudo não teve a pretensão de avaliar o PMM, mas a forma com que a revista IstoÉ oportunizou conhecimento sobre ele à sociedade. Sabe-se que a mídia é uma importante ferramenta para a formação de opinião e suas publicações denotam a capacidade de mobilizar o apoio ou promover o descrédito da população a respeito de um determinado tema, como a implantação de um novo programa ou política governamental. A respeito das matérias relacionadas ao PMM, a revista IstoÉ cumpre com o propósito de ser informativa, com predomínio de tendenciosidade positiva ou neutra, instruindo o leitor com informações convergentes com o propósito do PMM ou críticas advindas principalmente das entidades médicas brasileiras.

Palavras-chave


Atenção Primária à Saúde; Programas Nacionais de Saúde; Meios de Comunicação; Fator de Impacto de Revistas; Notícias.

Referências


ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE EDITORES DE REVISTA. Informações de Circulação de Revistas semanais 2013 x janeiro a setembro de 2014. Disponível em < http://aner.org.br/dados-de-mercado/circulacao/ >. Acesso em: 14 set. 2015.

 

BRASIL. Exposição de Motivos nº 0024, de 6 de julho de 2013. Expõe os motivos e necessidades a serem atendidas com a criação da Medida Provisória que institui o Programa Mais Médicos e dá outras providências. República Federativa do Brasil, Brasília, 8 p, jul. 2013.

 

______. Lei nº 12.871, de 22 de outubro de 2013.Institui o Programa Mais Médicos, altera as Leis no 8.745, de 9 de dezembro de 1993, e no 6.932, de 7 de julho de 1981, e dá outras providências. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 out. 2013. Seção 1, p. 1-4. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-2014/2013/Lei/L12871.htm>. Acesso em: 14 set. 2015.

 

CARVALHO, Mônica Sampaio de; SOUSA, Maria Fátima de. Como o Brasil tem enfrentado o tema provimento de médicos?.Interface(Botucatu), Botucatu , v. 17,n. 47,p. 913-926,dez. 2013. Disponível em <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-32832013000400012&lng=pt&nrm=iso>. acesso em 02 ago. 2015. http://dx.doi.org/10.1590/1807-57622013.0403.

 

MINAYO, M.C.S. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12. ed. São Paulo: Hucitec, 2010.