Anais do 12º Congresso Internacional da Rede Unida
Suplemento Revista Saúde em Redes ISSN 2446-4813 v.2 n.1, Suplemento, 2016
Processo de Implantação de um Observatório para Vigilância Epidemiológica da Sífilis em Londrina, Paraná
Flaviane Mello Lazarini, Dulce Aparecida Barbosa
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
Apresentação: O Observatório para Sífilis de Londrina foi instituído em dezembro de 2013 e originou da parceria entre O Comitê Municipal de Prevenção da Mortalidade Materna e Infantil (CMPMMI), a Diretoria de Atenção Primária à Saúde (DAPS), as Diretorias de Vigilância em Saúde (DVS) e de Serviços Especiais (Centro de Testagem e Aconselhamento (CTA) e a Maternidade) e a Escola Paulista de Enfermagem-Unifesp por meio do projeto de doutorado intitulado “Implantação de Observatório para Sífilis Adquirida, Gestacional e Congênita: Proposta de Monitoramento das Epidemias”. Justifica-se a necessidade desse estudo, pois é papel da vigilância epidemiológica recomendar, com bases objetivas e científicas, as medidas necessárias para prevenir e/ou controlar a ocorrência da epidemia de sífilis em Londrina. Essa intervenção teve a finalidade de ampliar a autonomia dos profissionais da Rede de Atenção à Saúde envolvida na gestão e na assistência materno-infantil e aperfeiçoar as práticas de educação permanente, prevenção e promoção à saúde. O objetivo do Observatório é aprimorar a vigilância em saúde local para o agravo sífilis, por meio de educação permanente para os profissionais de saúde da atenção materno infantil municipal vinculada ao Sistema Único de Saúde. Desenvolvimento do trabalho: Foram realizadas atividades de educação permanente como intervenção da pesquisa com profissionais de saúde das Unidades Básicas de Saúde e de outros serviços de saúde envolvidos com o atendimento dos usuários, responsáveis pela notificação obrigatória da sífilis congênita e gestacional e que concordaram em realizar o treinamento, mediante assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido. As intervenções foram realizadas junto à Autarquia de Saúde de Londrina, em parceria com o setor de epidemiologia. O público alvo foram médicos, enfermeiros, técnicos e auxiliares de enfermagem, farmacêuticos, bioquímicos, auxiliares de laboratório e pessoal administrativo que alimentam os bancos de dados de resultados de exames e notificação. Nas oficinas foi abordada a temática do uso adequado dos protocolos instituídos pelo Ministério da Saúde (Rede Cegonha e Rede Mãe Paranaense) para prevenção, diagnóstico e tratamento da sífilis gestacional, congênita e adquirida (no caso das parcerias sexuais). A intervenção foi organizada com o apoio do grupo de trabalho do Observatório para Sífilis- GT Sífilis. O grupo conta com médicos (um ginecologista que atende na atenção básica e atua na regional de saúde e uma infecto-pediatra que atua no setor epidemiológico), além de enfermeiros que estão na gestão da Saúde da Mulher, da Maternidade Municipal, do CMPMMI e do Centro de Testagem e Aconselhamento Municipal. O grupo elaborou capacitações em formato de oficinas onde foram discutidos casos reais de óbitos fetais e infantis por sífilis, sinalizando as possíveis ações que teriam evitado a transmissão vertical, as linhas de cuidado disponíveis e os itinerários terapêuticos realizados pelas gestantes. As oficinas tiveram duração de seis horas para fornecer ferramentas de trabalho aos multiplicadores. O critério de seleção dos profissionais multiplicadores foi exercer atividade profissional de nível superior nas UBS (médicos e enfermeiros), ter perfil de liderança e bom envolvimento com a equipe de saúde para replicar a oficina “in loco” e conhecer bem a comunidade onde atuam. Para facilitar a seleção, as gerentes de região que oferecem apoio às UBS pela DAPS, indicaram os profissionais que tinham as características necessárias para desenvolver o projeto. Para atender a todas as Unidades de Saúde do município a capacitação com esses profissionais foi dividida em três etapas, sendo que a primeira ocorreu em dezembro de 2013, a segunda em junho de 2014 e a terceira em setembro de 2014. Ao todo foram capacitados 120 profissionais médicos e enfermeiros das 53 Unidades Básicas de Saúde do Município, que qualificados tornaram-se facilitadores locais. Como facilitadores implantaram dois Fluxogramas descritores do processo de trabalho nos serviços de Saúde. O primeiro Fluxo detalha o processo de diagnóstico da sífilis durante o pré-natal (PN). O segundo Fluxo é utilizado quando há confirmação da sífilis. Para operacionalizar o processo de educação permanente o Secretário de Saúde autorizou que de forma organizada as UBS pudessem fechar por três horas, a fim de que todos os profissionais se envolvessem no processo. Os participantes das oficinas construíram uma Matriz do Processo de Trabalho em cada UBS com toda a Equipe de Saúde da Família, reforçando a importância do pré-natal de qualidade e da responsabilidade de todos na prevenção de doenças e sequelas para os futuros bebês. O Observatório também monitora indicadores relacionados à testagem e tratamento da sífilis, além de apoiar campanhas de prevenção locais para outras infecções sexualmente transmissíveis (IST), como HIV e Hepatites Virais. Os resultados apresentados abaixo servirão de base para as próximas etapas de 2015, que englobam diagnóstico situacional das vulnerabilidades por região de Londrina e maior envolvimento do GT sífilis nessas áreas, fortalecendo a Rede de Apoio disponível. Resultados: Observou-se até o presente momento do estudo que a realização de teste de sífilis em gestantes na atenção básica conforme o protocolo Rede Mãe Paranaense passou de 1,19 em 2013 para 1,9 em 2014, a preconização é de um teste por trimestre (três testes no pré-natal e um no momento do parto). O tratamento adequado para gestantes com sífilis passou de 60,9% em 2013 para 94,1% em 2014. Em 2013, 65 casos de sífilis foram notificados em gestantes, resultando 41 casos notificados de sífilis congênita. Em 2014 foram notificados 94 casos em gestantes, sendo que 28 recém-nascidos tiveram sífilis congênita. Assim, houve uma redução importante na taxa de transmissão vertical da sífilis que passou de 67,2% em 2013 para 29,8% em 2014. Considerações finais: O observatório trouxe a possibilidade de treinamento e acompanhamento dos indicadores básicos relacionados à sífilis que qualificam o pré-natal e os primeiros resultados mostraram que o aperfeiçoamento dos profissionais de saúde melhorou a detecção de casos e o monitoramento das gestantes infectadas com sífilis, por isso, o número de notificações de sífilis na gestação apresentou aumento. No entanto, a busca e o tratamento adequado do binômio e de suas parcerias sexuais reduziram a taxa de transmissão da sífilis congênita em mais de 50%. Novos desafios estão sendo trabalhados como, por exemplo, o diagnóstico tardio que ainda acontece na maternidade, no momento do parto e o acompanhamento adequado do recém-nascido de mãe que teve sífilis na gestação, independente dele apresentar titulação positiva para sífilis no nascimento. Também há a necessidade de trabalhar a prevenção na população geral, envolvendo homens e mulheres em idade fértil, fora do período gestacional, bem como reforçar a importância da prevenção das IST nos grupos mais vulneráveis da população e ampliar a testagem e tratamento das parcerias sexuais das gestantes diagnosticadas com sífilis. Acredita-se que a estruturação da ferramenta Observatório para Sífilis no município, possibilitará o alcance de uma visão global das dimensões das ações de vigilância em saúde realizadas pelo Grupo de Trabalho instituído, bem como, auxiliará no desenvolvimento de novas estratégias de apoio aos profissionais de saúde, que reforcem ainda mais o trabalho intersetorial na Rede de Atenção à Saúde local, fortalecendo a gestão, a assistência e a prevenção não somente da sífilis, mas também de outros agravos completamente evitáveis e tratáveis pelo SUS durante o pré-natal e o puerpério.
Palavras-chave
Prevenção de Doenças Transmissíveis; Cuidado Pré-Natal; Educação Permanente.
Referências
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