Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A atuação das psicólogas na saúde pública no município de Ladário-MS
Franciele Ariene Lopes Santana, Ilido Roda Neves

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


Tema: Atuação da Psicologia no Contexto da Saúde Pública. Apresentação: Trata-se de uma pesquisa de base etnográfica, de acordo com as ideias de Sarmento (2003), desenvolvida como trabalho de conclusão de curso em psicologia. Foi realizada uma vivência do trabalho de duas psicólogas e três estagiárias que atuavam na Saúde Pública no município de Ladário - MS. Os objetivos foram compreender a atuação das psicólogas na Saúde Pública do município e identificar suas dificuldades de atuação. Desenvolvimento do trabalho: Além do sentido tradicional, parte-se da compreensão de Saúde Pública como um campo de práticas, num sentido mais crítico, segundo Campos (2000), como prática social que pode produzir a infinidade de matizes entre controle social (seres dominados) ou autonomia (cidadãos com liberdade relativa), além de operar tanto na redução das pessoas à condição de objetos sujeitados a algum poder. De acordo com Lo Bianco et al. (1994), a entrada da psicologia neste campo, se deu com as Ações Integradas de Saúde, surgidas em 1983, brotando uma oportunidade para a psicologia e outras profissões da saúde, onde até então era predominava médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar. Os autores discutem que desde então a principal forma de atuação é a clínica psicoterápica tradicional, refletindo que neste espaço é primordial um engajamento distinto da(o) psicóloga(o), superando a ideia de que esse profissional lida apenas com distúrbios psicológicos. Expõem que para atuar na rede básica, a(o) profissional tem que ser flexível, deve atuar sempre focado no planejamento e execução de ações voltadas para o coletivo; deve transcender o campo da saúde mental, uma vez que se depara com situações que envolvem problemas de saúde em geral; deve lidar com atividades não centralizadas nos indivíduos, priorizando estratégias grupais para lidar com os problemas trazidos pela população; necessita estar atento as condições concretas de vida da população com a qual trabalha, procurando garantir acesso ao serviço. Metodologia: Como instrumentos foram utilizados: um diário de campo;  Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) e para aprender aspectos gerais sobre as condições de vida, ocupacionais e de saúde pessoal foi aplicado um questionário socioeconômico e ocupacional, entrevista estruturada e dois instrumentos de avaliação quanto ao estado de saúde: Questionário Maslach Burnout Inventory (MBI) que avalia como o sujeito vivencia seu trabalho, de acordo com as três dimensões: Exaustão Emocional, Realização Pessoal e Despersonalização; e o Self Report Questionnaire (SRQ20)- Questionário de Autorrelato: utilizado para rastreamento de sintomas psicossomáticos. Foi realizado o acompanhamento das profissionais da equipe de psicologia, em torno de três a quatro vezes por semana no período outubro de 2011 a janeiro de 2013. Além da observação, ocorreu o envolvimento em algumas atividades, caracterizando o estudo também como uma pesquisa com delineamento participante. Resultados e/ou impactos - Ladário apresenta, como aspecto singular, o fato de ser um município dentro de outro, no caso, o de Corumbá-MS, que apresenta ligação fronteiriça com o município de Puerto Quijarro (Bolívia), com grandes trocas interculturais. Possui uma população de 19.617 habitantes, apresentando uma concentração de jovens e crianças (58,42%) (BRASIL, 2011). As Ações em Psicologia no Município de Ladário aconteciam em duas frentes, uma com ações permanentes, através do seguimento de um cronograma anual de programas, e através de ações esporádicas, como palestras ou conversas em ações em parceria com outras secretarias. Uma das psicólogas era contratada como gestora de programas, no momento da pesquisa desenvolvia-se as seguintes atividades de modo permanente: Projeto Mamãe-bebê; Programa Saúde na Escola; Idoso - De bem com a Vida; Planejamento Familiar; Toque de Vida; Sistema de Informação do Controle do Câncer do Colo do Útero (SISCOLO)/Sistema de Informação do Controle do Câncer de Mama (SISMAMA); Atendimento clínico em psicologia; Núcleo de Violência. Esporadicamente desenvolviam-se ações em: DST/Aids; Hanseníase; Tuberculose; Saúde do homem; Saúde da Criança e Hiperdia; Desafio Saúde (implantado no final do estágio e gerido pelo educador físico); e por fim, quatro grupos terapêuticos, três destinados a trabalhar a questão da violência, que são: a Oficina de Brinquedos (grupo com crianças), Grupo com Adolescentes, e o Grupo com adultos, denominado de Colcha de Retalhos, que tem a proposta de buscar nos trabalhos manuais, como o artesanato, uma forma de elaborar traumas vividos pelas mulheres, e  por fim um grupo terapêutico com portadoras de fibromialgia. O trabalho na psicologia representou avanços no sentido qualitativo. No decorrer do trabalho, e entrosamento da equipe, foi percebido o movimento de se trabalhar não só na remediação do processo saúde/adoecimento, mas também de propor ações que buscavam transcender o modelo biomédico, reconhecendo outros determinantes de saúde, através de atividades que visavam promover atitudes de paz e trabalhando promoção e prevenção, o que é preconizado pelo SUS. Notou-se também um diferencial na forma de trabalhar, onde se apresentou a iniciativa de discussões dos casos (de violência, por exemplo) com diferentes profissionais, e o trabalho voltado para a atenção ao coletivo através dos programas, seguindo assim a linha estratégica defendida na Política do SUS.  No acompanhamento da prática das psicólogas em campo pode-se perceber uma crítica dessas profissionais quanto ao distanciamento entre o que a universidade ensina e o que se tem que criar para prestar assistência à comunidade, assistência aqui colocada no sentido de atuar nas necessidades da população. Um importante apontamento feito por essa pesquisa, é que apesar das profissionais relatarem que a universidade propõe uma teoria que nem sempre contempla a realidade apresentada no serviço público, foi observado, através do modo de fazer das profissionais, que a formação recebida, proporcionou um norte a seguir, afinal permitiu que se viesse construindo um saber durante suas práticas. Através do questionário aplicado em entrevista, pode-se refletir sobre os aspectos do trabalho e como este implicava na saúde desses profissionais. Os resultados do inventário MBI apontaram vivências de Exaustão Emocional e Despersonalização no trabalho, em contrapartida apresenta uma realização profissional em nível alto e moderado. Já a escala SRQ20 indicou a presença de algum desarranjo psicossomático, sendo apontada na entrevista uma correlação entre o trabalho e algum adoecimento pelo qual já passaram.  Considerações finais: Constatou-se que a peculiaridade de município de pequeno porte com poucos recursos para a contratação de mais profissionais, causava sobrecarga, pois havia muitas atividades para as psicólogas desenvolverem, e diversas ações que eram realizadas de acordo com a maior emergência. A vivência do estágio e da pesquisa possibilitou a experiência de contato com os sujeitos que chegam até a saúde pública, trazendo questões multifacetadas que disciplinas isoladas não são capazes se resolver.  Permitiu que se desenvolvesse um tato social, no sentido de entender que o que os usuários trazem é reflexo da vida cotidiana, das dificuldades enfrentadas, das violências vividas, entre outros fatores. A pesquisa etnográfica, como um estudo qualitativo, apresentou-se como um recurso para imergir no campo da saúde pública, no qual a psicologia vem se consolidando como possibilidade atuação.

Palavras-chave


Psicologia; Trabalho em Saúde; Saúde Pública

Referências


BRASIL. IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades. 2011. Disponível em:< http://www.ibge.gov.br/cidadesat/topwindow.htm?1> Acesso em 17/06/2011

CAMPOS, G. W. de. S.  Saúde pública e saúde coletiva: campo e núcleo de saberes e práticas. Sociedade e Cultura . ISSN 1415-8566.2000, vol. 3. 2000. Disponível em:   http://redalyc.uaemex.mx/src/inicio/ArtPdfRed.jsp?iCve=70312129004. Acesso em 13/11/2012

LO BIANCO, A. C. et al . Concepções e atividades emergentes na psicologia clínica: implicações para a formação. In: ACHCAR, R. (Org.) Psicólogo brasileiro: Práticas emergentes e desafios para a formação. São Paulo: Casa do psicólogo, 1994. Cap. 1 p. (). Disponível em: < http://books.google.com.br/books?hl=pt-BR&lr=&id=JercsayabIgC&oi=fnd&pg=PA9&dq=Psic%C3%B3logo+brasileiro:+pr%C3%A1ticas+emergentes+e+desafios+para+a+forma%C3%A7%C3%A3o&ots=O7-L0yqtFW&sig=KB4lRupHpmVVBJojYuODBLS3ik4#v=onepage&q&f=false>

SARMENTO. M. J. O estudo de caso etnográfico em educação. In: Zago, N; Carvalho, M. P.; Vilela, R. A. (orgs). Itinerários de pesquisa: perspectivas em sociologia da educação. Rio de Janeiro: DP & A, 2003.