Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
PERCEPÇÕES SOBRE A AFINIDADE DO HOMEM COM O PROCESSO DE SAÚDE-DOENÇA EM CONTRASTE COM A SAÚDE DA MULHER
Ildernandes Vieira Alves, Kerma Márcia de Freitas, Jéssica Rodrigues Brito, Tuanne Vieira Alves, Elaine Carvalho de Oliveira Medeiros, Josué Barros Júnior

Última alteração: 2015-11-28

Resumo


APRESENTAÇÃO: As diferenças entre gênero são impulsionadas desde a infância, ao ponto que, aos meninos são atribuídos ações mecanicistas, muitas vezes ausentes de sentimentalismo, são criados indivíduos sob a perspectiva do bateu levou, de que o choro é algo que mostra fraqueza e devem ficar para o sexo oposto (BRASIL, 2012). Um desafio palpitante que cerca a discussão de gênero no âmbito da saúde coletiva é incorporar o sujeito masculino, sem interferir nas relações de gênero e dimensionamento social. Tanto o sexo masculino como o feminino estão mutuamente interligadas, sendo agregados de forma equânime, ao passo que não se descarte as singularidades ou as pluralidades (COUTO, 2012).É indiscutível que homens e mulheres não são iguais, cada indivíduo, assim, como cada gênero têm suas peculiaridades, porém, essas diferenças não foram fomentadas para gerar desigualdades, mas servir de suporte para debates na comuna e a construção de uma sociedade mais igualitária e virtuosa, que respeite as diferenças de gênero (BRASIL, 2012). Nessa perspectiva objetivou-se investigar a percepção de homens e profissionais sobre a afinidade do homem com o processo de saúde-doença em contraste com a saúde da mulher. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Trata-se de estudo exploratório-descritivo com abordagem qualitativa, realizado em uma Estratégia Saúde da Família do interior do Ceará, decorrente de um estudo maior na qual investigou a Efetivação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem no estado do Ceará. A pesquisa foi realizada com três grupos distintos, dois formados por usuários do sexo masculino e um por profissionais de nível superior que compunham a unidade na qual o estudo foi feito. Objetivando manter o sigilo e anonimato dos participantes do estudo, as falas foram codificadas de acordo com o grupo respectivo, sendo o grupo 1 dos usuários pela letra H, o grupo 2 dos usuários pela letra H seguida da letra b subscrita e dos profissionais pela letra P. Os dados foram coletados por técnica de grupo focal. Sendo as falas gravadas, transcritas na íntegra e analisadas utilizando a técnica de análise de conteúdo dando origem a categorias temáticas. O estudo foi desenvolvido obedecendo à determinação da Resolução Nº 466/12. RESULTADOS/DISCUSSÕES: Ao analisar as falas a respeito da percepção de homens usuários e profissionais de nível superior a respeito da relação entre homem e saúde, originou-se duas principais categorias temáticas. Em analogia entre a figura masculina e a feminina nos moldes da saúde é encontrado nas falas dos usuários que as mulheres são as mais procuradas pelos profissionais e serviços de saúde, ao passo que chegam a secundarem a assistência à população masculina. Na ótica profissional, é reconhecida como uma verdade, decorrente do fato do Ministério da Saúde proporcionar ações destinadas com mais prevalência para o sexo feminino. [...] o que tá acontecendo não só aqui na nossa cidade, mas todo país é a abordagem, geralmente quando a gente recebe uma abordagem em casa da saúde eles procuram as mulheres e talvez os homens. (H1). A maioria das ações que o Ministério da Saúde disponibiliza é voltado para a mulher [...] (P1). Autenticando tais afirmações Meirelles e Holl (2009) enfatizam que os serviços de saúde são vistos pelos homens como sendo destinados e preferíveis às mulheres, levando em conta que, as ações disponibilizadas são voltadas especialmente para esse público. Na verdade, historicamente os serviços de saúde, principalmente o nível de atenção primária, mesmo sendo destinada a saúde da família, a priori, não foram estruturados para atender as demandas dos homens, visto que o corpo masculino por muito tempo foi enxergado com lócus do não cuidado. Outra noção articulada a esse respeito é destacada por um profissional afirmando que essa configuração é necessária visto que a mulher tem uma maior necessidade das ações serem voltadas para elas, levando em consideração que ela engravida e necessita de mais atenção. A mulher também ela tem mais porque as ações serem mais direcionadas para ela, porque a mulher engravida [...] (P6). Algumas práticas profissionais baseiam-se muitas vezes no trabalho autônomo, fundamentando-se em suas próprias ideias e crenças. Essas ações algumas vezes reforçam a desigualdade em gênero e saúde ao enxergarem os homens como “os trabalhadores” e a mulher como a “cuidadora da família”, reduzindo-a ao corpo reprodutor e agente do cuidar (SCHRAIBER, 2012). Não obstante, é inegável a importância de uma assistência qualificada às mulheres, principalmente no período onde outro ser está sendo gerando, todavia pensamentos como esse podem potencialmente aprofundar o abismo existente entre o homem e o serviço. A analogia não é feita no sentindo de quem precisa de mais ou menos atenção e muito menos de dissociar um sujeito do outro, mas sim, para compreender e orientar práticas concretas que favoreçam uma abordagem coletiva ao sujeito singular. Em o Ser homem e a interferência no processo de cuidar, foram identificados nos discursos dos pesquisados que o sexo masculino é cercado por um tabu que prega que homem é forte e provedor, dessa forma dispensa cuidados com a saúde. O homem ele é resistente a não querer ou se achar doente ou querer prevenir alguma coisa [...] (H1). [...] como ele tem que prover as coisas e casa né ele tem que ser forte a base forte da casa acha que ele não pode adoecer (P7). A partir dos relatos, ficou evidenciado que o homem retarda ao máximo possível, ao seu modo, o processo de adoecimento, seja por achar que não pode adoecer pelo fato de ser homem e tem que ser forte ou até mesmo pela questão da rejeição a cuidados preventivos. Destarte, é indubitável a importância da figura masculina para manter equilibradas as condições do lar, assim como é o da mulher, de tal modo como é a de cada membro pertencente da família. Tal responsabilização em suprir todas as necessidades da família é decorrente de um contexto histórico a qual a sociedade foi moldada, onde atarefou o homem de tal papel e mesmo com as mudanças contemporâneas, ideologias retrógadas ainda exercem forte efeitos coletivos, representando no homem uma cobrança descomedida que o impede de adoecer. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O pensamento hegemônico de um perfil de masculinidade imutável ainda exerce forte papel sobre a saúde do homem, mas aos poucos vem sendo modificado, ficando percebido pelos próprios homens que assim como as mulheres, crianças e idosos, o corpo masculino também é lócus de cuidados. Contudo, ainda existem pensamentos reducionista que invisibilizam os homens, à medida que a maioria das as ações disponibilizadas são destinadas ao sexo feminino, secundando o cuidado ao homem. Em certo sentindo não cuidar do homem significa não cuidar dos demais integrantes da casa e muito menos da sociedade, ao passo que quando esse adoece compromete todo o cenário a sua volta. Em decorrência das mudanças contemporâneas aos poucos os homens estão reconhecendo suas potencialidades como cuidadores, embora seja contido, não devem ser reprimidos e sim estimulados, para que desapontem como protagonistas no cenário do SUS.

Palavras-chave


Gênero e Saúde; Saúde do Homem; Saúde da Mulher;

Referências


BRASIL. Ministério da Saúde.  Adolescentes e jovens para a Educação entre Pares: gênero. Saúde e prevenção nas Escolas. Brasília: Ministério da Saúde, n.7, 2012. 60 p.

COUTO, Márcia Thereza; GOMES, Romeu. Homens, saúde e políticas públicas: a equidade de gênero em questão. Ciência e Saúde Coletiva. Rio de Janeiro, v. 17, n. 10, p. 2569-2578, Out. 2012. Disponível em: < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-81232012001000002>. Acesso em: 05 set. 2014.

MEIRELLES, Ricardo M. R; HOHL, Alexandre. Saúde masculina: tão negligenciada, principalmente pelos homens. Arquivo Brasileiro de Endocrinologia e Metabolismo. v.53, n.8, 2009. Disponível em:< http://dx.doi.org/10.1590/S0004-27302009000800001 > Acesso em: 08 mai. 2015.

SCHRAIBER, Lília Blima; GOMES, Romeu; COUTO, Márcia Thereza. Homens e saúde na pauta da saúde coletiva. Ciência e Saúde Coletiva, Rio de Janeiro. v.10, n.1, 2005. Disponível em:< http://www.scielo.br/readcube/epdf.php?doi=10.1590/S1413-81232005000100002&pid=S1413-81232005000100002&pdf_path=csc/v10n1/a02v10n1.pdf>. Acesso em: 13 abr. 2015.