Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Ações Interdisciplinares de Cuidado em Saúde: Intervenções de um projeto de extensão
Regina Pereira Jungles, Andressa Vian Federissi, Marilucia Vieira dos Santos

Última alteração: 2015-10-19

Resumo


Introdução: O projeto de extensão “Ações Interdisciplinares de Cuidados em Saúde no bairro Santo Antônio – Lajeado/RS” (PI) iniciou em 2009, sendo um dos projetos Institucionais do Centro Universitário Univates. Tem como objetivo principal promover ações interdisciplinares de cuidados em saúde que contribuam com o processo de formação diferenciada dos discentes dos cursos de Biomedicina, Ciências Biológicas, Direito, Educação Física, Estética e Cosmética, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Nutrição, Pedagogia, Psicologia entre outros cursos da instituição, bem como, identificar o contexto socioeconômico e, a partir disso, propor ações de sustentabilidade, envolvendo a comunidade e instituições locais, que promovam a integração entre ensino-serviço-comunidade. O projeto tem a proposta de articular e incluir os diferentes enfoques dos saberes interdisciplinares para o atendimento das diferenças e singularidades do indivíduo (Ministério da Saúde, 2010, p. 75). Com o intuito de atender à regulamentação do Ministério da Educação, referente à modificação dos projetos pedagógicos dos cursos de graduação na área da Saúde, visando à formação interdisciplinar e a atenção integral à saúde do sujeito a partir dos preceitos do Sistema Único de Saúde (SUS). O projeto oportuniza aos participantes o conhecimento do contexto social dos locais em que são desenvolvidas as ações e buscam a inclusão de uma comunidade em situação de vulnerabilidade social, a partir de uma visão integralizada, de acordo com os determinantes de saúde (CNDSS, 2008), e de uma clínica ampliada dos cuidados em saúde. Metodologia: O PI ocorre semanalmente no bairro Santo Antônio - Lajeado/RS, as terças-feiras no turno da tarde, durante três horas. São realizadas visitas domiciliares aos usuários, encaminhados ao PI pela equipe da Estratégia de Saúde da Família (ESF). São realizadas intervenções, coletivas e singulares, conforme a demanda de cada usuário que é atendido, e suas famílias. Além de dois usuários que são atendidos em horário escolar, abrangendo dessa forma toda turma na qual a criança está inserida. No decorrer do projeto ocorrem as tutorias, momentos em que professores tutores e alunos voluntários se reúnem promovendo discussões, através de questionamentos, reflexões, onde são determinadas as estratégias de intervenção que são discutidas, analisadas e planejadas pelos alunos, mediante supervisão. Também são realizadas rodas de conversas com os voluntários, tutores, bolsistas, agentes comunitários de saúde e demais funcionários da ESF, com enfoque na integralidade da atenção ao usuário e seus familiares. Nestes momentos são discutidos os casos clínicos e sociais do usuário de forma interdisciplinar, além de promover teorias sobre as ações realizadas na comunidade, o que possibilita aos alunos melhor desenvolvimento do processo teórico e prático de aprendizagem. Outra atividade do PI é a realização de oficinas com entidades pertencentes ao bairro, e que são parceiras do projeto, com o intuito de ampliar a educação para os cuidados em saúde e auxiliar nas ações de sustentabilidade, conforme a demanda de cada local. O projeto faz uso dos diários de campo e portfólios como ferramentas para descrição do planejamento, execução e avaliação das ações propostas, servindo como base de dados para a construção de artigos científicos. Resultados e discussão: Atualmente o projeto atende a 12 usuários e suas respectivas famílias no bairro. Desde sua criação, em 2009, o PI já contou com a participação de mais de 400 alunos voluntários. Quanto ao número total de atendimentos, o projeto de extensão conta com quatro mil atendimentos diretos à população. Sendo que em 2014 totalizou 416 atendimentos, com a participação de 81 acadêmicos voluntários. Neste mesmo ano, a equipe do PI realizou sua primeira oficina em uma escola parceira do projeto, tendo a participação de 35 crianças e 3 professores da escola. Foram confeccionadas garrafas decorativas, com objetivo de fortalecer atitudes de sustentabilidade incentivadas pela escola para reciclagem de materiais descartáveis e reutilização dos mesmos para construção de materiais pedagógicos. No primeiro semestre de 2015 o projeto realizou duas oficinas, uma na ESF do bairro desenvolvendo o tema sobre saúde do trabalhador e outra em uma escola de educação infantil envolvendo cuidados de higiene. As oficinas funcionaram como estratégia para promover as relações sociais e desenvolvimento de vínculos afetivos, assim como o incentivo à criatividade, à prática da solidariedade e à promoção da saúde. Esta iniciativa corrobora com Lima (2004) que descrever que “as oficinas são importantes para que uma singularidade possa inscrever-se no mundo; a participação em atividades que tenham lugar na cultura, como prática social, possibilitando de serem reinterpretadas, recompostas e reaplicadas”. As rodas de conversas têm como premissa o respeito pelos fatores que ocasionam o adoecimento do sujeito e as relações com o seu contexto de vida (Ministério da Saúde, 2007, p. 16). Entre os temas trabalhados nas rodas de conversa destaca-se: interdisciplinaridade, cuidados em saúde e concepção de saúde/doença, a capacidade de escuta e acolhimento na prática clínica. Conceitos que vem ao encontro da visão de clínica ampliada, propondo que o profissional de saúde desenvolva sua plena capacidade para auxiliar o sujeito, não apenas no tratamento das doenças, mas para ajudar da melhor forma possível a promoção de qualidade de vida. (Ministério da Saúde, 2004, p.18). O momento das rodas de conversa permite também a discussão e o esclarecimento do papel de cada integrante da equipe no atendimento ao usuário e sua família o que é considerado muito importante para análise do desenvolvimento da humanização das ações em saúde. Até o momento já foram produzidos e publicados dez artigos científicos pelo grupo do PI. Sua construção possibilita tanto a reanálise das atividades propostas no decorrer do processo, como a busca de novos conhecimentos teóricos, propondo um momento reflexivo da construção da prática em saúde, favorecendo no planejamento do ensino educacional acadêmico para o melhor aperfeiçoamento do profissional da área. O conhecimento vivenciado ultrapassa os conceitos dos livros e das teorias discutidas em aula, podendo perceber na prática a importância do exercício da cidadania, da criação do vínculo com usuário/paciente, do entendimento das práticas de escuta e de acolhimento do sujeito, que se encontra fragilizado pela sua situação de saúde, como pré-requisito para planejamento das condutas terapêuticas singulares. Conclusão: Observa-se que os discentes que participam do projeto desenvolvem visão interdisciplinar na análise dos processos saúde-doença. Também assim, as famílias atendidas desenvolvem maior autonomia no cotidiano e capacidade de construir vínculos afetivos. A criação do vínculo entre cuidador e usuário é um dos resultados positivos do projeto, pois ele é responsável pela aproximação da equipe com a família, tornando mais fácil a identificação de suas reais necessidades, para que de forma conjunta possa ser escolhida a melhor abordagem às demandas observadas. Assim, o método de trabalho empregado pelo projeto, atinge seus objetivos na busca de uma articulação entre docentes, estudantes e profissionais dos serviços de saúde com a comunidade do bairro. Ao mesmo tempo em que favorece a qualificação da formação dos estudantes.

Palavras-chave


Promoção da saúde; Humanização da assistência, Relações comunidade-instituição, Formação Profissional

Referências


BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Política Nacional de Humanização. Atenção Básica/Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Política Nacional de Humanização. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2010. 256 p., p. 75 (Série B. Textos Básicos de Saúde) (Cadernos HumanizaSUS; v. 2).

 

CNDSS. Comissão Nacional sobre Determinantes Sociais da Saúde. As causas sociais das iniquidades em saúde no Brasil. Relatório final, abril de 2008. Disponível em: http://www.cndss.fiocruz.br/pdf/home/relatorio.pdf.

 

LIMA, Elizabeth Araújo. Oficinas, laboratórios, ateliês, grupos de atividades: Dispositivos para uma clínica atravessada pela criação. Oficinas terapêuticas em saúde mental–sujeito, produção e cidadania. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria, p. 59-81, 2004.

 

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Clínica ampliada e equipe de referência e projeto terapêutico singular. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2007. 2 ed., p. 60 (Série B. Textos Básicos de Saúde).

 

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria-Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. HumanizaSUS: a clínica ampliada / Ministério da Saúde, Secretaria-Executiva, Núcleo Técnico da Política Nacional de Humanização. Brasília, DF: Ministério da Saúde, 2004, p. 18 (Série B. Textos Básicos de Saúde).