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O PRIMEIRO CONTATO DO ESTUDANTE DE MEDICINA COM A UBSF: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
Introdução: Atendendo às demandas da área da saúde, em que um novo olhar deve ser lançado ao processo saúde-doença, surgiu-se a necessidade de se rediscutir e procurar adequar a formação dos profissionais de saúde a esse novo contexto. Tendo isso em vista, as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCNs) do Curso de Graduação em Medicina passaram a se pautar em uma formação generalista, humanista e reflexiva do médico. As metodologias ativas se caracterizam, portanto, por colocar o discente como centro do processo de ensino-aprendizagem, que passa a pautar-se na integração dos conhecimentos das diversas disciplinas. Isso, por sua vez, proporciona ao graduando lançar um novo olhar sobre o ser humano, a sociedade e o meio ambiente, constituintes do processo saúde-doença. Essas metodologias de ensino, ao integrarem conteúdos e trazerem à luz a necessidade de se refletir sobre realidades sociais diversas, contribuem, ainda, para que o estudante consiga assimilar a grande quantidade de conteúdo ministrada no curso de medicina e relacioná-lo com a prática. Este trabalho visa revelar a experiência de um grupo de discentes do curso de medicina da UFG frente ao primeiro contato com a UBSF ainda no primeiro semestre do curso. Normalmente a visão dos alunos frente ao SUS é algo obscuro, não há por parte dos acadêmicos o conhecimento sobre as ações do sistema, o que o torna para muitos apenas um caminho a ser atravessado. Contudo, após a aproximação do acadêmico as UBSFs, as inúmeras experiências vividas naquele local demonstram bastante desconhecimento por parte dos alunos frente às verdadeiras fácies deste sistema. Desenvolvimento: com o novo Projeto Pedagógico do Curso implantado na Faculdade de Medicina da UFG no ano de 2014 a fim de atender as prerrogativas da DCNs do curso de graduação de medicina, os discentes passaram a estar muito mais próximos da comunidade. Logo nas primeiras semanas do curso aprende-se sobre as leis, diretrizes e bases do sistema único de saúde e posteriormente inicia-se o contato com a UBSF. Nesse momento, observa-se a expectativa do aluno frente ao desconhecido. Muitos desses nunca adentraram uma UBSF para ser atendido em um consultório médico. Tal fato aliado às informações (muitas vezes estereotipadas) transmitidas pela mídia sobre o SUS indicam que grande parte dos alunos imaginam que a UBSF seria um caos: pacientes não atendidos, funcionários mal-educados e irritados, médicos sem interesse de atender o paciente, enfim, uma terra sem leis. Essa expectativa começa a mostrar-se falha quando ao adentrarem a UBSF percebem que os funcionários estão felizes em poder ajudá-los nessa missão de conhecer o sistema de saúde e a fazem com extrema competência. Após a apresentação dos alunos aos funcionários e dos funcionários aos alunos, cada trio de discente passa um período numa determinada área da UBSF (recepção, consultório medico, consultório odontológico, sala de vacinação, sala de triagem) a fim de conhecer um pouco da rotina da unidade básica de saúde e assim aprender na prática. O contato com os funcionários revela-se animador: nota-se que esses profissionais estão naquele local dispostos a ajudar a população, nota-se que o sistema adotado para melhor atender o paciente é de fato bem pensado, nota-se que há a preocupação com o bem-estar da comunidade local e principalmente que aquela visão prévia de que o SUS era um caos nunca estava de fato embasada. Na recepção, ao conversar com os pacientes percebia-se que muitos deles já foram atendidos outras vezes na UBSF e tem confiança pelo trabalho daquele grupo de profissionais. Nos consultórios, tanto no médico quanto no odontológico, os pacientes eram tratados com todo o respeito e atenção, sendo que muitas vezes o medico ao solicitar exames complementares já entrava em contato com as unidades responsáveis pela realização dos exames a fim de saber qual delas estavam de fato funcionando para que o paciente não se desgastasse ainda mais indo em uma unidade que estivesse fechada. Na sala de vacinação, pode-se ver que a abrangência do SUS vai muito além do que pensávamos, não se restringe somente ao ambiente hospitalar mas engloba principalmente a prevenção. Com o decorrer das aulas, os discentes puderam ter uma visão mais realista da saúde pública brasileira, principalmente quando trata de saúde da família e comunidade. Observou-se de fato o que é ser um médico de família e comunidade: possuir um vínculo concentro com seu paciente para que quando o mesmo sinta algo informe imediatamente a quem ele confia, ao seu “amigo” médico. Dessa forma a UBSF atua na promoção de saúde, na prevenção de doenças, no diagnóstico precoce e no tratamento dos doentes. Resultados e Impactos: os resultados puderam ser observados ao término do ano quando os alunos tiveram que coletar uma anamnese a ser apresentada nas aulas de semiologia, nas casas dos pacientes atendidos pela UBSF. Os alunos se mostraram interessados em conhecer o paciente e o meio o qual ele está inserido: família, trabalho, bairro. Dessa forma observa-se que aquela visão inicialmente preconceituosa se dissipou ao compreender a importância da proximidade médico-paciente para o processo saúde doença: um sistema mais humano tende a ser um sistema mais eficaz. O sistema único de saúde antes visto como um problema, hoje é visto como a forma mais eficaz para o vasto território brasileiro. A medicina familiar se torna indispensável para esse sistema, já que a atenção primária/básica é a porta de entrada ao sistema. Antes muitos desses alunos que desejavam fazer a diferença para a sociedade achavam que seria muito difícil em virtude do descaso com a saúde pública – amplamente exposto pela mídia brasileira – hoje, tais alunos percebem que podem sim fazer essa diferença na sociedade praticando uma medicina humanista e igualitária, sem distinção de raça, cor ou status social. Considerações finais: ao término do ano pode-se notar por parte dos acadêmicos uma atenção maior pelo paciente como um todo: as modernas máquinas laboratoriais podem revelar muito sobre o paciente, contudo uma boa relação médico-paciente é o que de fato permite uma boa prática da arte médica, daquela medicina humanista que tem se perdido com o tempo. Para regressar a essa medicina humanista o que seria melhor que levar os discentes ao dia a dia da vida do paciente? Essa relação, por sua vez, mostra-se primordial para a promoção de uma saúde integral (um estado de completo bem-estar físico, mental e social). Para ser médico é de extrema importância saber sobre as doenças, mas é mais importante saber que existe o doente. Dessa forma deve-se compreender que a profissão médica é, antes de tudo, a prática do amor ao próximo.
Palavras-chave
Educação; metodologias ativas na formação de trabalhadores da saúde
Referências
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