Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A Residência Multiprofissional da Estratégia de Saúde da Família na construção do diagnóstico situacional em saúde e o saber popular sob o olhar da preceptoria no território de Manguinhos, Rio de Janeiro
Rosangela Maiolino, Alice Monerat, Thais dos Santos Sena

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


Apresentação: O Sistema Único de Saúde (SUS) no Brasil ainda apresenta desafios. Contudo, em nível internacional, o país se destaca em sua atuação sob princípios e diretrizes legítimas como a universalização, a integralidade do cuidado ao cidadão e a participação popular. Nas últimas décadas, muitos conceitos foram reforçados para o fortalecimento das políticas e ações adotadas. Relacionado a isso, ganha a visibilidade do Governo Federal a necessidade de reformular a política de recursos humanos quanto à qualificação, o desenvolvimento e criação de espaços de discussão sobre educação permanente, e formação de profissionais com ampliada capacidade crítica e reflexiva na saúde coletiva, como é o caso das Residências em Saúde. Nesta conjuntura, têm-se a Residência Multiprofissional em Saúde da Família na Escola Nacional de Saúde Pública Sérgio Arouca, da Fundação Oswaldo Cruz(ENSP/Fiocruz) como proposta educacional e experienciadora, proporcionando espaços críticos pautados nos conhecimentos abrangentes em saúde pública. Busca-se conviver em nível regional, no espaço de atuação das Equipes de Saúde da Família participantes, integrando a equipe, com expectativas intervencionistas no território adscrito. Mediante a este cenário e após a construção e apresentação do diagnóstico situacional de nosso território pelas residentes, desenvolvemos este estudo objetivando o relato das experiências vividas enquanto preceptoras da Residência Multiprofissional da Estratégia de Saúde da Família da ENSP. Nosso quadro de residentes é composto por quatro categorias profissionais: uma Cirurgiã-Dentista, uma Psicóloga, uma Nutricionista e uma Enfermeira, alocadas em nossa área de trabalho, o Centro de Saúde Escola Germano Sinval Faria (CSEGSF), localizado no Complexo de Manguinhos, no Rio de Janeiro. Estas iniciaram suas atividades junto à equipe em maio de 2015. Ao chegarem, sentiram a necessidade de estudar e compreender a história do território adscrito, que atende as comunidades Vila São Pedro (VSP) e Comunidade Agrícola de Higienópolis(CAH). Então, aproveitaram uma tarefa disciplinar da grade curricular e manifestaram o desejo de elaborar um mapa falante com a equipe. Construído em forma de maquete, o mapa teve a proposta de oferecer aos moradores do território a oportunidade de sinalizar, através de placas de papel ofício colorido, potencialidades e necessidades de onde vivem, construindo conceitos a partir de seus próprios saberes. Desenvolvimento do trabalho: Construindo o Diagnóstico Situacional: O diagnóstico situacional corresponde a um método de reconhecimento da mobilidade territorial, auxiliando no entendimento sociocultural, ideológico e econômico local. O dinamismo envolvido permite correlações geográficas e epidemiológicas, de modo a associá-las às condicionalidades de saúde e aos aspectos macrosociais. Sendo assim, a residência tem como proposta acadêmica construir o diagnóstico situacional das comunidades, cobertas pelas equipes de Saúde da Família onde estão inseridos os residentes. O trabalho das nossas residentes baseou-se na construção de um mapa falante complementado por um vídeo expositivo, mostrando o seu passo a passo. O mapa era o traçado do território adscrito, com suas ruas, becos e equipamentos/rede presentes. Os moradores abordados eram questionados com perguntas simples e objetivas: “O que você acha bom aqui na comunidade?” e “O que deveria ter aqui onde você mora?”, e respostas básicas surgiam como: paz, creches, remoção do lixo, água encanada, campo de futebol, acesso à internet, dentre outras. Essas viravam placas coloridas e eram afixadas pelos próprios no local selecionado. O vídeo também incluiu depoimentos de moradores apontados como mais antigos da região que narram, desde o início, a história das comunidades, envolvendo exposição de fotos antigas do território e acontecimentos históricos que contribuem, inclusive, para o entendimento da dinâmica de construção das moradias (formatação de casas geminadas, de modo a não desmoronarem no terreno de manguezal). Observou-se que na comunidade mais afetada pela violência local, a VSP, poucos moradores contribuíram na construção do trabalho, e os moradores antigos e lideranças comunitárias recusaram-se a participar de relatos, fotos, filmagens e gravações. Já na CAH, todos os moradores abordados contribuíram com o processo, tornando expressiva a participação popular no contexto. É fundamental ressaltar a importância da colaboração dos profissionais da Equipe de Saúde da Família participante na construção de ambos os materiais, vídeo e mapa. A equipe, além de atuar diária e diretamente com a população, conta com o binômio morador-profissional que são os Agentes Comunitários de Saúde. Resultados e/ou impactos: Refletindo acerca do saber construído pelas comunidades. Após a apresentação do material, percebemos que diante do cenário delineado, há muitas ações interventivas e necessidade de parcerias entre os equipamentos sociais regionais e não regionais, pois as problemáticas ligadas à sociedade demonstram a importância do estreitamento de laços com a população. Acreditamos que a equipe de saúde da família, preceptoria e residentes tiveram a oportunidade de sensibilizar seus processos de trabalho, através desta rica ilustração territorial que contribui no fortalecimento dos grupos educativos, salas de espera e reuniões comunitárias; bem como aos residentes, a inserção dos mesmos no território com visão mais apurada, facilitando o planejamento de ações prioritárias com a equipe mediante o levantado no diagnóstico. Com o fortalecimento dos grupos educativos com temas da saúde, percebemos hoje uma crescente participação popular, proporcionando maior interatividade com os usuários do sistema, ampliando nossa escuta, acolhimento e humanização. Dessa forma, acreditamos que as atividades de estágio são de suma importância para a formação profissional, uma vez que o estágio é um processo pedagógico de formação profissional que tenta criar um elo entre a formação teórico-científica e a realidade do meio.   Considerações finais: A metodologia de oficinas pedagógicas valoriza a construção de conhecimentos de forma participativa e questionadora. Para tanto, podem ser desenvolvidas através de dramatizações, painéis, brincadeiras populares, jogos educativos, produção de maquetes, dentre outros. Esses espaços oportunizam a comunicação, contextualização, estabelecimento de vínculos e construção coletiva do saber. Visto isso, compreendemos que a liberdade de expressão proporcionada pelas oficinas pedagógicas contribui significativamente para a formação de profissionais críticos e reflexivos. Inclusive a metodologia adotada fomenta a co-responsabilização pelas decisões tomadas, tornando o sistema de saúde mais justo e igualitário. Logo, torna-se fundamental o caráter participativo de profissionais de saúde e comunidade, onde diferentes saberes têm igual valor e importância. Assim, o educar é desinstalar. O educador não é aquele que reproduz, mas o que desperta consciência, fazendo-nos acreditar que a educação é uma troca, onde todo saber é relativo, portanto, todos são sujeitos do processo. A educação deve possibilitar ao homem aprender a reconstruir, devendo transformar a realidade, vez que o homem é um ser inacabado, e está em constante busca. Todos os participantes do trabalho aprenderam com esta dinâmica. Somos profissionais e vivemos as fragilidades e potencialidades do ambiente em que trabalhamos. As fragilidades nos emocionam e as potencialidades, fortalecem. De forma local, podemos vivenciar o SUS, sendo nossos sonhos tal qual são suas diretrizes e princípios. E como se ouvia na música de fundo do vídeo expositivo: “Pois paz sem voz, paz sem voz... não é paz, é medo! Às vezes falo com a vida, Às vezes é ela quem diz: Qual a paz que eu não quero conservar para tentar ser feliz”. (Música Minha Alma – A paz que eu não quero – O Rappa).

Palavras-chave


residência multiprofissional, saúde da família, participação popular, educação, preceptoria, diagnóstico situacional participativo

Referências


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