Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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PET REDES - CAPACITAÇÃO DOS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE SOBRE ÁLCOOL, CRACK E OUTRAS DROGAS COM O USO DA RODA DE CONVERSA NO MUNICÍPIO DE MÉDIO PORTE NO CENTRO OESTE MINEIRO-MG
Carlos Alberto Pegolo da Gama, Rafael Carvalho, Denise Guimarães

Última alteração: 2015-11-27

Resumo


Introdução: A Organização Mundial da Saúde (2001) sustenta que 10% da população mundial faz uso abusivo de substâncias psicoativas. A dependência química produz problemas para a saúde do usuário além do impacto negativo nas esferas sociais tais como: perda de grande parte das relações, desemprego e violência. O PET – Redes de Atenção Psicossocial é um projeto de extensão realizado em parceria com a Secretária Municipal de Saúde, profissionais da rede, professor e alunos do curso de Medicina, Farmácia e Enfermagem da Universidade Federal de São João Del Rei. Um dos objetivos desse projeto é desenvolver ações visando apoiar e desenvolver uma rede de Atenção Psicossocial priorizando o enfrentamento das drogas no município de Divinópolis - MG. Tendo em vista a dificuldade na implementação de políticas sobre drogas e a quase inexistência de profissionais com capacitação técnica para lidar com o processo de drogadição, o PET-Redes promoveu uma capacitação de Agentes Comunitários de Saúde (ACS) com o objetivo de aproximar esses profissionais da realidade dos usuários e das estratégias que a Atenção Básica pode usar para enfrentar as drogas. Segundo a Política Nacional de Atenção Básica, cabe ao ACS levantar as necessidades de saúde da comunidade e assim buscar a melhoria da qualidade de vida da população de sua abrangência. A importância de capacitar o ACS constitui-se pelo papel exercido por esse profissional na Atenção Básica e pela possibilidade deste aprimorar o atendimento ao usuário de drogas diretamente em sua área de abrangência. Objetivos: Promover a reconstrução do conhecimento prévio a respeito das drogas e dos usuários.  Ressaltar a importância do ACS como facilitador no acesso do usuário no serviço de saúde e outros setores. Compreender o fluxo de encaminhamento do usuário ao sistema de saúde, assim como entender as estratégias de tratamento e prevenção. Metodologia: Foi realizada uma revisão de literatura para escolha dos temas sobre drogas mais relevantes a serem abordados na capacitação.  Utilizou-se a metodologia das rodas de conversa como estratégia para gerar discussão. Foram realizados 5 encontros com duração de 2 horas e com as seguintes temáticas: apresentação e introdução do tema; drogas: história, conceito, etiologia, classificação e formas de uso; políticas de enfrentamento e assistência; redução de danos e abstinência e tema livre selecionado de acordo com a demanda dos ACS. Resultados: A capacitação envolveu 79 ACS de 22 unidades de saúde situadas no município de Divinópolis, Minas Gerais.  Durante os encontros, houve uma boa aceitação dos participantes em relação aos objetivos propostos pela equipe de coordenação. A importância do tema abordado foi referida pelos participantes, facilitando a criação do vínculo e da confiança com toda a equipe. A metodologia roda de conversa utilizada teve papel importante para a exposição dos temas de forma livre e dinâmica, oferecendo oportunidade a todos os ACS de participarem efetivamente das discussões e possibilitando a troca de opiniões e experiências, principalmente, entre os agentes. Ao final dos encontros, pôde-se notar que as atividades realizadas ofereceram um rico embasamento teórico aos participantes quanto às temáticas propostas anteriormente à realização da capacitação, além de ter sido uma rica fonte de troca de experiências vividas por eles e os alunos. Um ponto importante observado foi o melhor entendimento dos agentes quanto ao sistema que envolve o usuário de drogas no município, esclarecendo o melhor manejo dos usuários e os principais dispositivos que poderiam ser usufruídos pelos ACS. A temática sobre redução de danos revelou-se como um rico campo de interesse e curiosidade por parte dos agentes, já que se pôde observar um conhecimento mais restrito dos participantes em relação ao assunto. Discussão: No momento, Divinópolis conta com um SERSAM (Serviço de Referência em Saúde Mental) que oferece um serviço de atendimento de urgência e atende alguns pacientes com problemas de dependência química. O município também possui outros serviços voltados para o usuário de drogas como as Comunidades Terapêuticas e um Hospital Psiquiátrico, mas não existem ações estruturadas na Atenção Básica para lidar com a questão. Assim, foi difícil a discussão em relação ao fluxo de pacientes, já que o município ainda não possui uma rede adequada para receber esses usuários. Tentou-se esclarecer os dispositivos da rede que estariam disponíveis e ao alcance dos ACS, para facilitar o manejo dos usuários no campo de prática dos agentes. A redução de danos foi um tema rico para as discussões. Os ACS mostraram-se com um grande desconhecimento em relação a essa temática, possibilitando uma apresentação mais ampla dos conceitos e da abordagem desse assunto no mundo atual aos agentes. O fato do ACS residirem na área em que atuam faz com que eles tornem-se profissionais que possuem a função de elo entre a equipe de saúde e a comunidade, por vivenciar o cotidiano da população com maior intensidade e, dessa forma, tendo um conhecimento efetivo da realidade vivida pelos integrantes da comunidade que atuam. Esse fato foi bastante ressaltado durante os encontros, tanto pela coordenação, como pelos agentes, demonstrando que eles possuem ciência sobre a grande importância do papel deles sobre a saúde da comunidade. Conclusão: A capacitação dos ACS foi um passo inicial para promover o conhecimento das principais estratégias de tratamento dos usuários de drogas. Porém, ainda é necessário superar obstáculos para implantar ações adequadas visto que o município enfrenta atrasos no avanço a cobertura e oferta de serviços. A metodologia utilizada se mostrou eficaz para construir um novo conhecimento em relação ao tema.

Palavras-chave


Drogas, Atenção Primária à Saúde, Agentes Comunitários de Saúde

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