Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Identidade e inserção profissional do sanitarista: aproximações entre duas pesquisas acerca da Graduação em Saúde Coletiva/Pública
Jussara Lisboa Viana, Allan Gomes de Lorena, Elizabethe Cristina Fagundes de Souza, Marco Akerman

Última alteração: 2015-10-19

Resumo


Atualmente, na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e na Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP estão em produção duas pesquisas versando sobre a Graduação em Saúde Coletiva, sendo elas, uma Iniciação Científica (IC) com o tema “Em busca da identidade profissional da graduação em saúde pública/saúde coletiva: narrativas e reflexões de sujeitos implicados” e uma Dissertação de mestrado intitulada “Sanitaristas no SUS: quando os novos profissionais entram em cena”. Nesse sentido, resultado da integração dos autores, temos como objetivo dar movimento acerca da produção intercessora do conhecimento sobre a identidade e inserção profissional do sanitarista produzida na UFRN e na USP. O campo da Saúde Coletiva, historicamente, colocou no mercado de trabalho profissionais formados em pós-graduação nas modalidades lato e stricto sensu. Ao inserirem-se profissionalmente esses pós-graduados ocupavam cargos de sanitaristas. A necessidade da profissionalização para o campo da Saúde Coletiva fez surgir os Cursos de Graduação em Saúde Coletiva, que se expandem pelo país em 2009 através do Programa REUNI. Os discursos para criação destes cursos apontavam para a qualificação de profissionais engajados com o Sistema Único de Saúde e que consolidassem a Reforma Sanitária Brasileira. Enfatizavam que o SUS precisava de um graduado em Saúde Coletiva, com perfil profissional que o qualificasse como um ator estratégico e com identidade específica não garantida por outras graduações disponíveis (BOSI, 2009; PAIM, 2009). Segundo Oliveira e Retour (2010) a inserção profissional como tema de pesquisa é relativamente recente e surge com múltiplas interpretações para o momento da vida do indivíduo que busca representar: entrada na vida ativa, transição profissional, transição escola-trabalho, entre outros. Ainda, a identidade profissional Nóvoa (1997) não é um dado adquirido, não é uma propriedade, não é um produto. A identidade é um lugar de lutas e conflitos, é um espaço de construção de maneiras de ser e estar na profissão. Nesse cenário de inserção de um novo ator da saúde identificamos poucos estudos que versavam sobre essa temática. Assim objetivamos com a finalização da Iniciação Científica e da Dissertação cumprir os seguintes objetivos, respectivamente: identificar as percepções dos estudantes de Saúde Pública sobre suas identidades profissionais, e analisar a inserção e atuação profissional de egressos do curso de Gestão em Sistemas e Serviços de Saúde da Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Vale ressaltar que apesar da nomenclatura, a graduação da UFRN constrói-se formalmente com o Fórum de Graduação em Saúde Coletiva da ABRASCO, há o reconhecimento nacional quanto ao fato de esta graduação pertencer ao campo da Saúde Coletiva e está em processo a mudança no nome do curso para Bacharelado em Saúde Coletiva, em tramitação nos colegiados universitários. Implicados com a graduação, enquanto estudante e egresso desenvolvemos estudos com abordagem qualitativa de caráter exploratório inspirada no conceito de Merhy (2004), onde o sujeito militante coloca os sujeitos que estão na produção do Sistema Único de Saúde (SUS) e que investigam suas próprias práticas na produção de conhecimentos, tão implicados com a situação que, ao interrogar o sentido das situações em foco, interrogam a si mesmos e a sua própria significação enquanto sujeitos de todos esses processos. Ou seja, os sujeitos que interrogam são ao mesmo tempo os que produzem o fenômeno em análise e, mais ainda, são os que interrogam o sentido do fenômeno partindo do lugar de quem dá sentido ao mesmo, e neste processo criam a própria significação de si e do fenômeno. No tocante à dissertação a produção da coleta dos dados acontece a partir da técnica de Grupo Focal com egressos do curso e entrevistas individuais com técnicos das instituições principais da gestão dos serviços de saúde no Sistema Único de Saúde no município de Natal, capital do Rio Grande do Norte. No que se refere aos resultados obtidos na iniciação científica, foi possível verificar que a identidade profissional dos sanitaristas em formação pela USP se dá pela forma complexa, inseparável da experiência da dúvida e da incerteza. Os estudantes da graduação em saúde pública a partir de suas trajetórias acadêmicas, profissionais, experienciais e vividas na faculdade pensaram em abandonar o curso devido ao desinteresse/decepção com a formação, falta de informações sobre o mercado de trabalho e receio/medo frente a um curso novo. No entanto, os/as alunos/as que se aproximaram de atividades extracurriculares no cotidiano dos serviços de saúde como o VER-SUS, PET-Saúde e Estágio adquirem uma identidade sanitarista devido ao contato com a prática profissional. Assim, a identidade profissional para Dubar (2000) é: “um fenômeno complexo, produto dos mecanismos de socialização (...) do indivíduo e que apresenta continuidades e descontinuidades (...) sempre forjada num jogo de interações sociais onde o contexto organizacional, as características biográficas do indivíduo e os seus percursos formativos desempenham um papel fundamental”. Ainda, as narrativas produzidas com estes mesmos alunos sobre as expectativas, razões e motivos de cursar a graduação, futuro profissional e genealogias com o curso apontam, segundo Merhy (2007) que não há nunca uma identidade individual ou coletiva, que fica para sempre no tempo em nós. Ela está sempre em produção. Partindo de certo território, abrindo-se para outros possíveis. Produzindo mapas, desenhando cartografias. E para Bauman (2005), na modernidade líquida, há uma infinidade de identidades à escolha, e outras ainda para serem inventadas. E Hall (2006) entende que uma identidade fixa e estável, foi descentrado, resultando nas identidades abertas, contraditórias, inacabadas, fragmentadas, do sujeito pós-moderno. Além disso, a identidade e a inserção do sanitarista é peripatética (Lancetti, 2006) praticada em movimento talvez mais fluoxinária e rizomática, com seus processos de recomposição intensiva sempre em andamentos e abertos a exterioridade centrada nos percursos, nas articulações com o fora, nas conexões, nos planos de consistência que se conquista. Por fim, entendemos que as dúvidas quanto à construção do campo da Saúde Coletiva com a chegada dos novos profissionais, permanecem. Existem centenas de egressos atuando em todas as regiões do Brasil. É nesse contexto que surge a necessidade de discutir a profissionalização dos estudantes e egressos que estão na graduação em saúde coletiva/saúde pública, monitorar os egressos que estão e/ou não estão atuando no mercado de trabalho, acompanhar a regulamentação da profissão e debater a identidade profissional. Desta forma os resultados, de ambas as pesquisas, poderão contribuir tanto para adequações na formação quanto para elucidar questões ainda não exploradas e estudadas.

Palavras-chave


Saúde Coletiva;estudo de egressos; identidade

Referências


BAUMAN, Z. Identidade: entrevista a Benedetto Vecchi. Rio de Janeiro: Jorge Zahar. 2005.

BOSI, M. L. M. ; PAIM, J. S. Graduação em Saúde Coletiva: subsídios para um debate necessário. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 25(2):236-237, fev, 2009.

DUBAR, C. A socialização: construção das identidades sociais e profissionais. Porto: Porto

Editora, 1997.

DUBAR, C. La crise des identités: L’interpretation d’une mutation. Paris: PUF, 2000.

HALL, S. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro, 11ª edição em 2006.

LANCETTI, A. Clínica peripatética. São Paulo: Hucitec, 2006b

MERHY, E.E. O conhecer militante do sujeito implicado: o desafio em reconhecê-lo como saber válido. In: FRANCO, T.B.; PERES, M.A.de A.; FOSCHIERA, M.M.P.;PANIZZI,M.(org.) Acolher Chapecó: uma experiência de mudança do modelo assistencial, com base no processo de trabalho. São Paulo: HUCITEC, 2004.

MERHY, E. E. Saúde: A cartografia do trabalho vivo em ato. Editora Hucitec. São Paulo, 2007.

NÓVOA, A. (org.). Os Professores e sua Formação. Lisboa: Dom Quixote, 1997.

OLIVEIRA, S. D. RETOUR, D. Estágios e inserção profissional: as trajetórias dos estudantes de Administração em Porto Alegre. Disponível em:  http://www.anpad.org.br/admin/pdf/gpr1830.pdf. Acesso em: 12/set. 2015.