Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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CRACK NA FRONTEIRA: A BUSCA SOLITÁRIA POR RECUPERAÇÃO
MARIA DAS GRAÇAS ROJAS SOTO, VERÔNICA FABIOLA ROZISCA, CÁSSIA BARBOSA REIS, RIVALDO VENÂNCIO DA CUNHA

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: O consumo de crack vem aumentando em capitais e no interior do Brasil e é hoje considerado uma epidemia, devido ao rápido aumento constatado e seu potencial de disseminação. O Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) é o serviço de saúde pública específico para a atenção integral e continuada às pessoas com problemas de álcool, crack e outras drogas, que realiza o acompanhamento clínico, a reinserção social dos usuários e o fortalecimento dos laços familiares e comunitários. Integrante da rede pública de proteção, recebe os pacientes por encaminhamento de outros serviços da rede, com os quais deve manter coesa articulação, bem como pela busca espontânea de usuário e família. O CAPS AD de Ponta Porã/ MS atende a um grande número de usuários brasileiros, paraguaios e de outras nacionalidades; esta é uma cidade gêmea, divisa seca com o Paraguai e rota de passagem do narcotráfico. Este estudo teve o objetivo de analisar a forma de acesso do usuário de crack a tratamento no CAPS AD e consequentemente o grau de articulação deste com a rede assistencial de saúde. DESENVOLVIMENTO: Pesquisa qualitativa, com dados primários, realizada através de entrevistas semiestruturadas, aplicadas a 20 famílias de usuários de crack, referenciadas no Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas (CAPS AD) de Ponta Porã/ MS, de novembro a dezembro de 2014. Os dados foram organizados e tabulados seguindo a técnica de análise do Discurso do Sujeito Coletivo, tendo como referencial teórico a Teoria das Representações Sociais. RESULTADOS: Os resultados revelam 100% das famílias residentes em zona urbana, 90% em periferia, 85% com renda familiar por pessoa inferior a 01 Salário Mínimo, 70% com baixa escolaridade, 60% beneficiárias de programas de geração de renda, 100% utilizam como assistência à saúde o Sistema Único de Saúde (SUS). Com relação ao acesso ao CAPS, 85% aconteceu de modo informal (60% por busca espontânea, 20% por indicação da família e 5% através de amigos). Houve 03 encaminhamentos da rede pública - 02 da justiça (Conselho Tutelar e Tribunal de Justiça do Paraguai) e 01 da Assistência Social (Centro de Referência da Assistência Social – CRAS). Não houve encaminhamentos dos sistemas de saúde pública ou privada. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Considerando que 100% dos participantes estão inseridos no SUS, e 60% no Sistema Único de Assistência Social - SUAS (uma vez que participam de programas de transferência de renda), os resultados evidenciam uma fragilidade na rede, visto que quem necessita do serviço está chegando por vontade própria, à revelia dos órgãos que teriam por dever encaminhá-lo. Essas famílias estão passando invisíveis pela rede pública de proteção. 

Palavras-chave


crack; fronteira; CAPS.

Referências


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