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Reflexões sobre os processos de trabalho na saúde à luz da PNH: relato de experiências das apoiadoras institucionais do Distrito de Saúde Sul, Manaus/AM
Última alteração: 2015-11-23
Resumo
Apresentação: A Política Nacional de Humanização-PNH, instituída no ano de 2003 pelo Ministério da Saúde tem como um dos princípios a transversalidade, pois circula em todas as nuances da vida, concebida para consolidar os princípios do Sistema Único de Saúde-SUS, no cotidiano do pensar e fazer saúde, na produção de mudanças efetivas do cuidado em saúde. Compreende também o aumento do grau de corresponsabilidade, pois é imperioso a participação dos diversos atores envolvidos neste processo. A PNH aposta no protagonismo dos usuários, trabalhadores e gestores da saúde, estimulando os diálogos entre os mesmos, buscando romper com as práticas desumanizadoras no cuidado. Neste sentido, o presente trabalho trata de um relato de experiências das apoiadoras institucionais da PNH do Distrito de Saúde Sul, da Secretaria Municipal de Saúde de Manaus/AM, as quais vêm desenvolvendo oficinas sobre a PNH, junto aos trabalhadores e gestores das Unidades de Saúde, provocando reflexões acerca do dia-a-dia, quanto ao seu processo de trabalho, consequentemente despertando outras inquietações referentes às visões do homem e do mundo, repercutindo no seu fazer profissional. O Ministério da Saúde (2013) postula que o HumanizaSUS aposta na inclusão de trabalhadores, usuários e gestores na produção e gestão do cuidado e dos processos de trabalho. Constituído como processo dinâmico, onde há circularidade, concretamente representada pela roda de conversa, metodologia amplamente adotada com a perspectiva de lateralidade. Emergindo às apoiadoras institucionais, enquanto facilitadoras o seguinte questionamento: quais as percepções das apoiadoras institucionais da PNH diante das oficinas do HumanizaSUS, sobre o pensar na produção de saúde dos trabalhadores e gestores? O objetivo geral constitui-se em refletir sobre os discursos dos participantes durante as oficinas de HumanizaSUS, e especificamente identificar o protagonismo do trabalhador e gestor das Unidades de Saúde do Distrito Sul; e verificar a existência das inquietações dos trabalhadores e gestores sobre os processos de trabalho. Desenvolvimento do trabalho: O caminho percorrido para alcançar os objetivos propostos foi baseado nas rodas de conversas desenvolvidas nas Oficinas de Humanização, utilizando-se das expressões verbais dos integrantes, suscitando análises dos discursos manifestos. Para tanto, o método aplicado refere-se ao dialético, haja vista, a visualização de relações contraditórias dos discursos com a prática vivenciada, constatadas com relativa frequência no âmbito dos serviços de saúde. Para análise dos discursos lançamos mão de abordagem qualitativa, por provocar percepções quanto ao conteúdo das falas a respeito dos processos de trabalho. As oficinas foram desenvolvidas abordando os dispositivos acolhimento e cogestão, sopesando que o Ministério da Saúde (2013) emprega a comunicação entre esses três atores do SUS, provocando movimentos de perturbação e inquietação que a PNH considera o “motor” de mudanças e que também precisam ser incluídos como recursos para a produção de saúde. Essas oficinas são demandadas pela gestão, com a justificativa de intervenção junto aos trabalhadores em decorrência de constantes reclamações quanto à prestação de serviços e/ou atendimento aos usuários, como da necessidade em alcançar metas da pactuação de saúde. Para efeitos de análise, o recorte de tempo utilizado neste relato corresponde ao período de março a setembro do ano de 2015, onde foram realizadas oito oficinas, atingindo todos os dezessete gestores das unidades de saúde locais, quatorze técnicos da sede distrital e cento e um trabalhadores lotados em oito unidades das dezessete pertencentes ao Distrito de Saúde Sul. Resultados e/ou impactos Mensurar a subjetividade dos discursos requer desprender-se dos efeitos simplistas causa-efeito, resultantes de pré-julgamentos e preconceitos, pautada numa conduta ético-política. Por isso, as percepções dos discursos durante as rodas de conversas/oficinas tangem a aspectos negativos e positivos relacionados aos processos de trabalho no âmbito da saúde. Destarte como negativos: a maioria dos trabalhadores demonstra está desacreditada em ações que promovam a melhoria dos processos de trabalho, consequentemente, apresenta-se desmotivada e sem perspectiva de melhora; generaliza as reações comportamentos dos usuários, rotulando-os negativamente, e por sua vez alguns dos gestores sinalizam ausência de envolvimento de trabalhadores com a produção de saúde e usuários; as rodas de conversa perdem a espontaneidade com a presença do gestor que intimida o trabalhador, externando as relações verticais dos três atores do SUS. Enquanto os positivos referem-se à presença de: discursos de alguns trabalhadores e gestores acerca de perspectivas positivas, por acreditarem no SUS; discursos que evocam a existência e a busca de informações e conhecimentos por parte dos trabalhadores e gestores, bem como de discursos que sinalizam visões de mundo, vislumbrando constructos positivos do ser humano, tais como: otimismo, esperança, fé, resiliência, solidariedade, empatia e felicidade. Considerações finais: As oficinas do HumanizaSUS representam um espaço de protagonismo e trazem a tona reflexões sobre os processos de trabalho, o cotidiano das pessoas, as relações interpessoais e possibilitam o empoderamento teórico-prático dos seus integrantes, seja ele no papel de facilitador ou não, bem como observar e analisar as falas de seus participantes torna-se fundamental para construção de futuras intervenções. Vale salientar que as percepções são processos mentais que não necessariamente remetem a realidade e que podem representar objeto de indagações e subsidiarem elaborações de novos paradigmas, rompendo com as ideias instituídas que reforçam as práticas cristalizadas. Portanto, a relevância deste trabalho recai sobre ação-reflexão-ação, em outras palavras, propondo atividades que envolvam reflexões do cotidiano dos serviços de saúde, sobre as posturas e o pensar ou vice-versa. Cabe destacar que as oficinas são demandadas a partir de problemáticas, sejam elas de relacionamentos interpessoais/trabalho em equipe ou da compreensão da natureza do serviço, no âmbito do trabalho, o que reporta a ideia de enquadre dos comportamentos ditos inadequados para a prestação de serviços de qualidade, distanciando-se do que deveria ser desejável. Em outras palavras as apoiadoras institucionais da PNH são acionadas para minimizar as tensões ditas desfavoráveis aos processos de trabalho. Outro fator crucial para o realização das oficinas é que necessitem da presença destas apoiadoras nas unidades de saúde, pois o trabalhador ainda não se vê enquanto protagonista para operar mudanças através das rodas de conversas, por fim faz-se necessário relatar que as apoiadoras acumulam outras ações que demandam dedicação, com isso não conseguem desenvolver um acompanhamento sistemático junto às unidades antecedendo as problemáticas mencionadas. A metodologia da roda de conversas está sendo utilizada em outras ações, haja vista a forma como atinge seus participantes por ocasião da educação permanente dos trabalhadores, contribuindo para a melhoria do cuidado. Sabemos que ainda há muito que fazer e caminhar para se atingir um serviço de qualidade, porém consideramos ser esta a direção a ser seguida, galgando cada passo dado. Utopia não nos representa, seja nos anseios de elevar as relações entre os protagonistas do SUS, ou na oferta de serviços com qualidade e resolutividade, considerando todas as idiossincrasias inerentes ao ser humano. Talvez as percepções descritas anteriormente possam remeter às variáveis condicionantes do atual cenário dos serviços de saúde, mas não podemos afirmar que estas sejam estanques, pelo contrário, representam um desafio a ser transposto, pois neste processo dinâmico estamos sujeitos a constantes modificações, não somos os mesmos de ontem, nem seremos os mesmos de amanhã. É nesta lógica que acreditamos nas pessoas que fazem o SUS dar certo.
Palavras-chave
percepções, HumanizaSUS, processos de trabalho
Referências
Ministério da Saúde. Política Nacional de Humanização. Brasília: DF, 2013.