Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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PROGRAMA DE TUTORIA EM SAÚDE COLETIVA: RELATO DA EXPERIÊNCIA DO CURSO DE ODONTOLOGIA DA UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
ELUANA BORGES LEITÃO DE FIGUEIREDO, Mônica Villela Gouvêa, Elisete Casotti, Caroline Montez Lima dos Santos

Última alteração: 2015-10-31

Resumo


Apresentação: A Universidade Federal Fluminense, detectando a necessidade de acompanhar, orientar e apoiar os ingressantes em seus cursos de graduação criou no ano de 2011, o Programa voluntário de Tutoria para alunos de primeiro período. O Programa possibilita a seleção por meio de edital, de alunos regularmente inscritos em cursos de pós-graduação strictu sensu para atuarem como tutores, recebendo para tal atividade uma bolsa de trabalho. O principal objetivo é conter a evasão que ocorre, geralmente, nos períodos iniciais da vida acadêmica, sendo as ações do Programa direcionadas a apresentar ao calouro subsídios para que possa avaliar com propriedade se deve ou não permanecer no curso de escolha. Este trabalho propõe-se a relatar uma vivência no Programa de Tutoria em Saúde Coletiva oferecido às turmas de primeiro período do curso de odontologia da UFF, no primeiro e segundo semestres do ano de 2014. A iniciativa reveste-se de importância de que dificilmente um aluno ingressante nesse curso vislumbra a perspectiva de atuação no sistema de saúde e o Programa de Tutoria cuida de problematizar através de atividades dialógicas, participativas e reflexivas o papel da odontologia nos diferentes níveis do SUS. Descrição da experiência: A experiência ocorreu no ano de 2014 e envolveu a tutora, aluna do Mestrado Profissional em Ensino na Saúde: Formação Interdisciplinar para o SUS/UFF, docentes responsáveis pelo desenvolvimento do Programa no curso de odontologia e 15 alunos. O ponto de partida da experiência deu-se com a divulgação do Programa no início do período, durante a semana de acolhimento aos calouros (trote cultural), com a presença dos alunos participantes do Programa na turma anterior, que prepararam uma pequena apresentação em power point com fotos relativas às atividades desenvolvidas. Os alunos interessados foram convidados para um primeiro encontro em formato dialógico com o objetivo de construir coletivamente os objetivos e a programação. Depois de estabelecidos os acordos, o grupo iniciou as atividades. As atividades realizadas envolveram o conhecimento de instâncias dentro e fora da universidade. A primeira visita foi dedicada ao conhecimento de um programa de extensão chamado “Boa noite, Bom dia” desenvolvido no Hospital Universitário Antônio Pedro/UFF, que intenciona despertar estudantes da área da saúde para a importância da humanização dos ambientes hospitalares, da escuta empática e da qualidade da comunicação profissional-paciente/usuário. A visita intencionou apresentar aos alunos da tutoria a possibilidade de adesão a um programa de extensão já no seu primeiro período de curso.  Esse foi também o primeiro contato dos alunos com um ambiente hospitalar. Na sequência, com o objetivo de apresentar aos alunos o campo da odontologia/saúde bucal no SUS, realizou-se visita à coordenação da saúde bucal da prefeitura do Rio de Janeiro, quando puderam compreender como funcionam os níveis de atenção do SUS e a organização da saúde bucal, bem como, o papel do dentista na função de gestor. A terceira visita foi programada para o Hospital Municipal Nossa Senhora do Loreto na Ilha do Governador, Rio de Janeiro, um hospital especializado no atendimento a pessoas com fissuras labiopalatais. Os alunos conheceram a estrutura física, puderam observar alguns atendimentos feitos pelo dentista. A quarta visita deu-se na unidade de odontologia do Instituto Nacional do Câncer INCA-I. Os alunos compreenderam o funcionamento da unidade especializada de alta complexidade  e observaram a atuação dos dentistas junto aos portadores de câncer bucal. A Unidade de Saúde da Família Sérgio de Vieira Melo, no Rio de Janeiro, foi o quinto serviço de saúde apresentado aos alunos. Além da visita aos espaços físicos da unidade foi realizada uma roda de conversa com o dentista em que se abordaram as peculiaridades e especificidades da profissão na Estratégia Saúde da Família (ESF). Os alunos, na sexta visita, puderam conhecer a Unidade de Saúde Rodolpho Rocco, no Rio de Janeiro. Inicialmente percorreram os espaços físicos, especialmente, os ligados à odontologia, mas foi possível observar a atuação multiprofissional no âmbito da unidade como um todo. A sétima e última visita aconteceu na Fundação Oswaldo Cruz: no museu da vida. Esse encontro contou com a participação da docente responsável pelo programa de tutoria na odontologia da UFF e foi guiada pela equipe da Fiocruz. Com essa aproximação, os alunos inteiraram-se de um importante período da história da saúde pública brasileira e discutiram suas relações com a formação em odontologia. Como fechamento do ciclo de encontros, os alunos participaram ativamente da organização da Semana de Saúde Bucal Coletiva durante a Jornada Acadêmica da Faculdade de Odontologia da UFF. Esse foi um espaço considerado importante, pois contou com a participação de profissionais de saúde e coordenadores dos espaços e serviços visitados, gestores e professores da universidade e coordenadores e tutores de programas de tutoria oferecidos a outros cursos da UFF. Este evento foi muito rico, pois os alunos não só participaram da sua organização, como apresentaram trabalhos relacionados às visitas e puderam trocar as experiências vividas. Cabe ressaltar que as diversas atividades realizadas foram intercaladas com sessões de discussão em roda das experiências. Resultados: O evento organizado possibilitou conhecer a avaliação do Programa feito por alunos, tutora, coordenadores e gestores.  A experiência foi considerada positiva, uma vez que se revelou estratégia potente para proporcionar integração entre o aluno ingressante e a universidade, entre os alunos e profissionais inseridos no SUS. Destacam-se nesta experiência aspectos fundamentais para a formação do aluno: o trabalho coletivo, a capacidade de aprender com a experiência do outro, a possibilidade de expressar os sentimentos com relação ao curso e à profissão escolhida na relação de confiança estabelecida com a tutora e com os demais estudantes, e a percepção da possibilidade de um maior protagonismo em seu processo de formação, interagindo e contribuindo para a evolução do grupo, do outro e de si próprio. O programa de tutoria, por meio da aproximação com os serviços de saúde, possibilitou aos alunos uma visão ampla e diferenciada do SUS com superação do conhecimento do senso comum. Na avaliação do impacto da tutoria na formação do aluno a experiência foi considerada potente, em especial, pela oportunidade de participação em diálogos coletivos através da metodologia da roda, na discussão de aspectos positivos e negativos encontrados nos espaços visitados e ainda pelo conhecimento precoce de um contexto amplo da rede de serviços do SUS, desde a atenção básica até os serviços hospitalares e de reabilitação, incluindo uma compreensão de fluxos e redes de atenção. Por fim, a tutoria despertou para a construção de pensamento crítico e reflexivo desencadeado a partir das observações de espaços de trabalho do dentista e diferentes caminhos para o exercício da profissão nos espaços do SUS. Considerações finais: A qualidade da formação proporcionada pela vivência no Programa de Tutoria evidenciou a importância de se pensar o aluno num contexto de exposição a cenários capazes de sensibilizá-lo tanto para a vida quanto para o exercício qualificado de suas atividades profissionais. Por fim, cabe ressaltar a potência dos encontros produzidos no contexto do Programa de Tutoria, observados nas relações que se estabelecem entre alunos, tutores, profissionais de saúde e docentes.

Palavras-chave


Formação, Saúde Coletiva, SUS