Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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EPENSANDO RESENDE: UM LUGAR DA MICROPOLÍTICA DOS ENCONTROS
ELUANA BORGES LEITÃO FIGUEIREDO, Gustavo Adolf Fichter, Milene Santiago Nascimento, Ana Paula de Andrade Silva

Última alteração: 2015-10-19

Resumo


Apresentação: Como produzir fluxos potentes de Educação Permanente em Saúde (EPS) no cotidiano dos trabalhadores de saúde de Resende a partir da conexão e mobilização na micropolítica dos encontros e das afecções? Esta questão configura-se como ponto de partida deste relato de experiência, que surgiu como fruto de encontros potentes. Depreende-se que nos cenários de saúde do município de Resende é cada vez mais necessária a adoção de uma educação problematizadora que promova a transformação das práticas e a organização do próprio trabalho por um viés mais reflexivo e participativo. Tais aspectos posicionaram os autores, na perspectiva da EPS, para além da dimensão pedagógica, percebendo-a como importante instrumento de gestão, capaz de operar mudanças na formação e no cotidiano dos serviços de saúde, em um processo que se dá no trabalho, pelo trabalho e para o trabalho. Trata-se de um relato de experiência que aborda a construção coletiva de espaços de educação permanente em saúde no município de Resende, Rio de Janeiro. O trabalho tem como objetivo apresentar as aproximações e os caminhos percorridos por trabalhadores da saúde da atenção e da gestão na condução e formulação da política de educação permanente em saúde no âmbito municipal. Descrição da experiência: O início do processo de pensar coletivamente a Educação Permanente em Saúde no município de Resende ocorreu no ano de 2014 e foi desencadeado por meio de bons encontros. Para o filósofo Spinoza somos corpos que se relacionam com outros corpos. Quando sofremos suas afecções, quando somos afetados pelos outros corpos, nossa potência aumenta ou diminui. Nesse sentido, ele refere “os bons encontros” como aqueles que aumentam nossa potência de agir, de ser e de pensar. O primeiro bom encontro desta experiência ocorreu entre uma trabalhadora da atenção à saúde (enfermeira do serviço de emergência) e um gestor da secretaria de saúde de Resende (economista e superintendente de controle e avaliação) que sensibilizados pela política nacional de educação permanente em saúde e por cursos voltados para a EPS (Mestrado em Ensino na Saúde da Universidade Federal Fluminense e o curso Facilitadores de EPS da Fundação Oswaldo Cruz, respectivamente) iniciaram espontaneamente modestas rodas de EPS nos espaços da secretaria municipal de saúde. No ano de 2015 outros atores aproximaram-se e compuseram o que hoje chama-se Núcleo de Educação Permanente em Saúde (NEPS), dentre eles, uma psicóloga e também representante do município na Comissão Permanente de Integração Ensino e Serviço (CIES) da região Médio Paraíba e uma enfermeira da unidade de terapia intensiva e mestranda da Universidade Federal Fluminense na linha de pesquisa Educação Permanente em Saúde. Desde então, os encontros do coletivo vem acontecendo na perspectiva de fazer florescer a EPS no município de Resende. Impacto da experiência: Como resultado de uma pesquisa científica, dos processos de discussão e também de entrevistas feitas com os trabalhadores, foi criado o grupo de EPS chamado EPensando Resende com objetivo de produzir  um espaço para o encontro entre distintos atores (profissionais de saúde, gestores, usuários e docentes) para discutir e analisar o processo de trabalho em saúde do município. O grupo pouco a pouco foi crescendo, tendo visibilidade e agregando outros profissionais da rede de saúde, gestores, professores de universidades locais e usuários. Os integrantes reúnem-se mensalmente nos espaços do conselho de saúde do município e utiliza-se a metodologia da problematização e o arco de Maguerez como metodologias propulsoras de reflexão coletiva e em rede na perspectiva do trabalho e do cuidado com o cuidado em saúde. O grupo busca utilizar dinâmicas mais sensíveis que promovam a micropolítica dos encontros, dentre as quais, vídeos, músicas, poesias e textos filosóficos. À medida que o grupo foi acontecendo, percebeu-se a necessidade de que o EPensando fosse capilarizado para o interior dos serviços de saúde e estivesse mais próximo dos trabalhadores e do próprio trabalho. Para tanto, contituiu-se um núcleo colegiado com quatro integrantes de diferentes inserções no município para desenvolver projetos de EPS. Antes da conformação do núcleo, o grupo buscou apoio da Comissão Permanente de Integração Ensino e Serviço da região Médio Paraíba e promoveu a sensibilização do secretário municipal de saúde. Os encontros com o secretário de saúde oportunizaram discorrer sobre a política nacional de EPS e a necessidade de implantá-la no município de Resende. Trataremos do afeto como algo que potencializa o cuidado e que aumenta a nossa potência de agir. Então, vamos nos experimentar e vivenciar juntos os problemas de nosso trabalho. Não problemas que girem em torno de si mesmos, mas problemas cuja solução é sempre uma invenção. A compreensão desse nível de cuidado exige uma abertura ao OUTRO e a nós. Em tempos de demandas complexas de saúde, queremos outra formação: mais coerente, mais implicada e mais contextualizada. Os encontros no EPensando são em formato dialogal, participativo e descentralizado (intersetorial). Os debates são abertos. O secretário não só mostrou-se receptivo com a proposta garantindo o apoio necessário, como também, instituiu uma portaria de nomeação dos integrantes, assegurando ao município um núcleo de educação permanente em saúde com a finalidade de estabelecer estratégias para a implementação da política de educação permanente no âmbito da Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Resende. O NEPS do município de Resende tem uma composição colegiada de apoio à formação e desenvolvimento dos trabalhadores de saúde de Resende na perspectiva do que expressa a Portaria GM/MS Nº 198, de 13 de fevereiro de 2004. Tornou-se um órgão articulador e de caráter consultivo e executivo de ações voltadas para o ensino dos trabalhadores da rede de saúde. O NEPS tem como atribuições: 1-Construir coletivamente a política de educação permanente da secretaria municipal de saúde, contemplando as necessidades de formação e desenvolvimento dos trabalhadores da saúde; 2-Oferecer a partir do NEPS de Resende uma equipe de apoio pedagógico permanente e de suporte aos setores da saúde no desenvolvimento de atividades ligadas à formação profissional à luz da EPS; 3-Contribuir para o desenvolvimento do trabalhador de saúde a partir de processos que fomentem reflexão crítica e implicada no próprio local de trabalho por meio de rodas mensais de EPS; 4-Favorecer o encontro da rede de cuidado no grupo de educação permanente em saúde EPensando através de discussão e problematização coletiva e a troca de saberes e experiências multiprofissionais, interdisciplinares e interinstitucionais; 5-Utilizar recursos tecnológicos de informação e comunicação que favoreçam a interatividade em rede e a divulgação de cursos e atividades de educação permanente do município de Resende; 6-Apoiar os gestores na discussão sobre EPS e acompanhar, monitorar e avaliar as ações e estratégias de educação na saúde implementadas no município e 7- Elaborar e manter o Plano Municipal de EPS de Resende a partir do encontro anual de rodas de EPS. Considerações finais: Distante de ser uma conclusão, como um verdadeiro devir, a experiência com o grupo EPensando trouxe como resultado a importância da educação permanente em saúde em um contexto municipal em articulação com necessidade de cenários de formação desformadores voltados para promover o bom encontro dos profissionais de saúde com os seus pares, com os atores da formação e com os usuários. A EPS é, portanto, capaz de operar mudanças, bem como, contribuir para o transver de sujeitos e cenários, na direção da práxis transformadora e libertadora.        

Palavras-chave


Educação Permanente em Saúde; SUS;Educação e Saúde

Referências


MARTINS, A. Nietzsche, Espinosa, o acaso e os afetos: encontros entre o trágico e o conhecimento intuitivo. O Que nos Faz Pensar, Rio de Janeiro, v. 14, p. 183-198, 2000.