Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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EDUCAR PARA O MEIO AMBIENTE NA FORMAÇÃO EM SAÚDE
Cinoélia Leal de Souza, Cristina Setenta Andrade, Adélia Reis

Última alteração: 2015-10-19

Resumo


APRESENTAÇÃO: A Educação Ambiental na formação do ensino superior constitui uma ferramenta imprescindível para a implicação das pessoas frente à necessidade de construir uma sociedade crítica e ativa diante da relação saúde/ambiente e da necessidade de preservação do meio ambiente, pois se reconhece o espaço universitário como território pulsante de movimentos de mudança importante para aplicação desses preceitos pelo acúmulo de saberes e produções. O homem é um componente do meio em que vive, e a forma com que ele utiliza os recursos disponíveis no meio ambiente gera resultados tanto para ele mesmo quanto para os outros componentes, por isso é crucial que o mesmo esteja sensibilizado para a necessidade de mitigar os impactos das suas ações sobre o ambiente. Dessa forma, a Educação Ambiental nasce como um processo que conduz a um saber ambiental materializado nos valores éticos e nas regras políticas de convívio social e de mercado, que implica a questão distributiva entre benefícios e prejuízos da apropriação e do uso da natureza (SORRENTINO, 2005). A forma com que o homem enxerga os recursos naturais disponíveis na sua própria realidade pode determinar se as ações dele para com esses recursos serão nocivas ou não, se trarão ou não impactos ao meio ambiente e consequências para a sua própria saúde, por isso, a Educação Ambiental deve fazer parte do cotidiano das pessoas. Couto e Bryan (2005) relatam que as questões do desenvolvimento sustentável estão em relação direta com as funções da universidade uma vez que a educação é essencial para suscitar mudanças no comportamento esperado do indivíduo enquanto que a investigação e a inovação social, científica e tecnológica funcionam como alavancas do desenvolvimento sustentável. Moisés et al. (2010) concluem ainda que a educação em saúde, a Educação Ambiental e a mobilização social são processos permanentes de transformação social, pois contribuem para o exercício democrático do controle social em ações de saneamento do meio. OBJETIVO: Buscou-se analisar a Educação Ambiental nos cursos de graduação da área de saúde de instituições públicas de ensino superior do estado da Bahia. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Optou-se por uma pesquisa qualitativa e quantitativa com abordagem descritiva e exploratória em que foram coletados e analisados nos programas e ementas de disciplinas de dezessete cursos de graduação na área de saúde em quatro universidades. Posteriormente foi aplicado um questionário semiestruturado a estudantes e professores dos cursos de graduação em saúde das instituições de ensino estudadas. A primeira técnica utilizada para a coleta dos dados foi de fontes secundárias para análise documental, sendo que “esta visa estudar e analisar um ou vários documentos para descobrir as circunstâncias sociais e econômicas com as quais podem estar relacionadas” (RICHARDSON, 2008, p.230).  Cada curso de graduação em saúde tem em média 5 anos de duração, e cada semestre tem uma média de seis disciplinas. Foram analisadas aproximadamente 1020 ementas e programas de disciplinas para identificar 60 ementas e programas de disciplinas por curso com aproximação com a temática ambiental. A análise iniciou a partir das matrizes para identificação de programas e ementas dos cursos de graduação em saúde, das quatro universidades estaduais da Bahia, onde foram selecionadas as disciplinas dos cursos que apresentaram aproximações com a questão ambiental. Matrizes dos cursos de graduação em Saúde das Universidades Estaduais do Estado da Bahia: Biomedicina, Enfermagem, Farmácia, Fisioterapia, Medicina, Nutrição, Odontologia e Psicologia: A segunda técnica utilizada para a coleta dos dados, de fonte primária de informação, foi a entrevista para completar e enriquecer os dados obtidos de documentos, como também possibilitar a obtenção de dados diretamente do sujeito entrevistado, ou seja, suas atitudes, valores e opiniões. Ocorreu de forma intencional a partir de dados obtidos de fontes secundárias. RESULTADOS: Os resultados apontaram que as disciplinas específicas sobre a temática ambiental na saúde, nos cursos de graduação em saúde, são prioritariamente oferecidas nos dois primeiros anos de estudo. Dos dezessete cursos de graduação em saúde estudados, quatorze apresentam, no mínimo, uma disciplina específica sobre a temática ambiental na saúde, dois cursos apresentam três disciplinas e quatro cursos não apresentam nenhuma disciplina sobre Meio ambiente e Saúde na sua matriz curricular. Os estudantes avaliaram a matriz do curso em que estuda como ruim em relação ao ensino de questões sobre o meio ambiente, contudo reconhecem a importância da discussão ambiental na saúde. A frequência com que os professores abordam as questões ambientais em suas aulas foi apontada como raramente, e a interação das temáticas saúde e meio ambiente nas suas aulas não é praticada com frequência. Os professores referem sobre que tipo de questão relacionada ao meio ambiente costumam abordar em suas aulas. Pouco percebeu-se no discurso dos professores sobre a existência de alguma atividade de pesquisa e extensão que aborde a relação saúde e meio ambiente em suas atividades desenvolvidas na universidade, e ainda notou-se que os mesmos desconhecem a existência de grupos de pesquisa ou extensão desenvolvidas na universidade por outros pesquisadores. Nos cursos de graduação em saúde das universidades estaduais da Bahia também existe uma predominância de conteúdos voltados quase que exclusivamente para a relação parasito-hospedeiro-ambiente. Essas disciplinas focam principalmente as doenças infectocontagiosas e direcionam para a prevenção de agravos, deixando muitos aspectos importantes como secundários, a exemplo, pode-se citar as áreas de vulnerabilidade, as dificuldades de acesso à saúde devido dificuldades ambientais, ou mesmo uma discussão mais profunda sobre território em saúde. Muitos cursos apresentaram componentes curriculares que se aproximam da discussão interdisciplinar entre saúde e Meio ambiente, mesmo não sendo uma disciplina específica sobre o tema ambiental, a exemplo das disciplinas Saúde Coletiva e Epidemiologia. As disciplinas e/ou módulos de Saúde Coletiva destacam-se, de forma positiva, pois na sua própria concepção trazem o componente da interdisciplinaridade, na identificação dos problemas e necessidades da população e do ambiente, buscando analisar e intervir com conteúdo diverso com que se integram no aprendizado. CONSIDERAÇÕES FINAIS: Percebe-se que apesar das mudanças curriculares, pelas quais os cursos de graduação em saúde vêm passando ao longo dos anos, o modelo de formação profissional apresenta foco em técnicas e práticas não preventivas. Tal situação evidencia um distanciamento na relação saúde/ambiente e na proteção ambiental. Isto faz com que os cursos de graduação em saúde minimizem associações entre doenças/saúde e questões ambientais, levando-se em conta que tais questões devem ser tratadas como tema transversal na graduação em saúde, sinalizando claramente a necessidade de mais discussões e melhor incorporação da temática ambiental no campo da saúde. Sabe-se que a universidade exerce um papel importante na sociedade, como instituição de formação de profissionais de diferentes áreas do conhecimento, na produção científica e nas atividades de extensão, ambas as responsabilidades das instituições de ensino superior. Há claramente uma carência na oferta de atividades de extensão que relacione Meio Ambiente e Saúde, nas instituições estudadas. Tal fato sugere a urgência de incorporar-se, no ambiente universitário, a comunidade interna e externa, comunidades, alunos, famílias, professores, para que as barreiras ou potencialidades derivadas da ação homem/ambiente e ambiente/homem sejam estudadas, discutidas e  minimizadas, quando necessário.

Palavras-chave


Ensino Superior; Educação Ambiental; Saúde Ambiental; Meio ambiente; Currículo.

Referências


COUTO, A. P.; BRYAN, Newton Antonio Paciulli (orgs). Los Desafios de la Gestión Universitária hacia el Desarrollo Sostenible. Costa Rica, UNA/UNICAMP, ISBN: 9968-9614-0-X, p. 25-48, 2005.

MOISES et al. A política federal de saneamento básico e as iniciativas de participação, mobilização, controle social, educação em saúde e ambiental nos programas governamentais de saneamento. Ciênc. saúde coletiva [online]. 2010, vol.15, n.5, p. 2581-2591.

RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: métodos e técnicas. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

SORRENTINO, M. et al. Educação Ambiental como política pública. Educ. Pesqui., Ago., 2005, v.31, n.2, p.285-299.