Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A Pesquisa Participante na formação dos trabalhadores em Saúde
Ronaldo Tavassos

Última alteração: 2015-11-27

Resumo


Na perspectiva de uma Educação Profissional em Saúde pautada pela formação política e técnica de trabalhadores para o SUS. A proposta baseia-se na necessidade da formação dos trabalhadores dentro de um processo histórico de construção dos movimentos sociais, especialmente no âmbito da saúde que se consolida principalmente por meio de uma pedagogia dos movimentos sociais, que valoriza a reflexão crítica e autonomia dos sujeitos sociais. A Pesquisa Participante é uma modalidade de pesquisa que tem como propósito “auxiliar a população envolvida a identificar por si mesma os seus problemas, a realizar a análise crítica destes e a buscar as soluções adequadas” (LE BOTERF, 1984). É um modelo de pesquisa diferente, pois nela a população não é um agente passivo, é um ator de extrema importância, entendida que o especialista de determinada área conduz junto com os pesquisados todo o processo de pesquisa, desde o planejamento até a divulgação dos resultados. Como objeto de investigação os processos formativos forjados no território, por iniciativas locais na luta pela sobrevivência, despertam interesses pela produção de saberes, que ultrapassam os muros da escola, portanto a articulação entre os saberes produzidos no território e conhecimento escolar requisita uma interação da com as instituições educativas e a população. Com o olhar voltado para o interesse da população, a escola é o lugar que se apresentaria como ponto de articulação entre a mundialidade em constituição e o local enquanto especificidade concreta, enquanto momento. Sendo assim, a escola tem suas propriedades, suas especificidades originadas na relação com os sujeitos sociais que no dia-a-dia constroem o lugar. O lugar permitiria desvendar as relações socais estabelecidas na medida em que aponta para a totalidade. Enquanto parcela do espaço, enquanto construção social, o lugar abre perspectiva para se pensar o viver e o habitar, o uso e o consumo, os processos de apropriação do espaço (Carlos, 2000). Assim, na escola, no lugar, no espaço vivido, as pessoas agem. Nele, sucedem-se conflitos e entendimentos, paixão e ódio, participação política, exercício de cidadania.  Nele, a prática social vivida torna claras as diferenças, nele não nos isolamos, nele somos levados a perceber o mundo em todas as suas dimensões. Com efeito, a inserção social das atividades pedagógicas numa realidade territorial, que transcenda as fronteiras escolares constitui um aspecto decisivo para a construção de sentido – de aprender em situações que tragam sentido para o sujeito. É por este fato que se torna importante saber com que significado estamos utilizando o conceito de território, aqui é nomeado de “território educativo” (Canário, 2005). Então buscamos na Saúde da Comunidade – o conceito ampliado de saúde ultrapassa a ausência de doença e vai além dos aspectos físicos e mentais; está ligada com a capacidade do indivíduo para atuar na comunidade e na sociedade em que pertence - a situação de aprendizagem que trazem sentido para sujeito, tendo como base os fundamentos da pesquisa participante numa perspectiva territorial que nos orienta para práticas educativas em saúde. No entanto, cabe ressaltar que o primordial está no processo de emancipação dos sujeitos sociais que agem no território, cada qual com suas especificidades, com o seu modo de ser, que no ato de sua existência constroem a identidade do lugar. A proposta metodológica da pesquisa participante tem a pretensão de ir além das preocupações com os fenômenos sociais, que já aconteceram ou venham acontecer, o propósito é de favorecer a aquisição de um conhecimento e de uma consciência crítica do processo de transformação pela população envolvida, para que possa assumir com lucidez e autonomia seu papel como protagonista na construção de uma da sociedade igualitária. O desafio que encontramos ao realizar uma investigação orientada pela pesquisa participante (Brandão, 1981) num determinado território é quando nos obrigamos a conhecer sua realidade, para nela atuar necessitamos saber no que realmente consiste a realidade concreta (Freire, 1981). Muitas vezes a realidade concreta de um território reduz-se às variedades de problemas materiais ou de fatos sem relevância para população. Ao penetrar no território procuramos observar a vida social da população em movimento, procurando captar a rede de relações sociais estabelecidas, os problemas que lá encontram-se, a percepção que a população tem de sua própria situação e de suas possibilidades de mudança. Esta percepção da população diante dos dados materiais e dos fatos da sua existência estabelece uma relação dialética entre as necessidades objetivas e subjetivas dos sujeitos sociais. Neste momento, a identidade entre sujeito e objeto é um aspecto muito importante na investigação, seja por razões culturais, de classe ou por outro motivo, pois existe algo em comum, têm um substrato comum de identificação com o investigador, tornando-os solidariamente imbricados e comprometidos (Minayo, 1997). A pesquisa participante como ato de conhecimento envolve, por um lado, o pesquisador detentor do conhecimento científico, por outro, os sujeitos sociais detentores dos saberes do território educativo, são sujeitos de um trabalho comum com papéis diferentes. Considerando, que no território educativo são manifestos processos de formação, que transcendem as fronteiras escolares, criando métodos de pesquisa alternativa, aprendendo a fazê-la através de uma situação vivida no lugar com a inserção social de atividades pedagógicas. Toda a definição do caminho a ser percorrido, ou seja, os métodos e as técnicas – observação participante, mapeamento dos locais da coleta de material, análise dos materiais, oficinas de trabalho – serão discutidas pelo grupo com o propósito de avaliar sua eficiência e se foram apropriadas pelo grupo com clareza. Estamos considerando a sistematização dos dados como o momento especial do projeto, porque cada membro do “Círculo de Estudo” manifesta-se através da exposição oral e escrita ou de outra forma em que expresse seu “olhar” da realidade. Do resultado da pesquisa esperamos a expressão maior daqueles que são os sujeitos reais, muito mais que as categorias abstratas de “objetos”, e descobrem sua própria prática, em que se tornem sujeitos, tanto do ato de conhecer em que fora objeto, quanto o trabalho de transformar o conhecimento. Sua participação na produção do conhecimento e tomá-lo para si. A pesquisa participante é mais um instrumento de mudança social. O princípio fundamental da pesquisa participante encontra-se reconhecimento do processo de investigativo, que deve estar baseado em sistema de discussão, investigação e análise, em que os investigados formam parte do processo ao mesmo ao mesmo nível dos investigadores. E pelo domínio da metodologia da pesquisa os trabalhadores adquirem ferramentas para que possam identificar situações-problema dentro de sua comunidade, tomando-os como ponto de partida para a construção de conhecimentos e a transformação da realidade. A investigação social envolve os trabalhadores num processo de pesquisa e de avaliação permanente dos resultados obtidos, com isso, podem adquirir conhecimento mais objetivo da realidade em que está inserido. Possibilita uma análise minuciosa dos problemas encontrados, além de buscar recursos de que dispõem com o objetivo de formular ações de intervenção direta no seu processo de trabalho. O processo de pesquisa realiza-se de forma compartilhada orientada pela inserção social dos trabalhadores, considerada enquanto mediação pela qual se exerce o ato de formação, como ponto de partida e ponto de chegada da apropriação cognitiva da realidade concreta.

Palavras-chave


Educação; Pesquisa Participante; Saúde.

Referências


CANÁRIO, Rui. Territórios educativos e políticas de intervenção prioritária: uma análise crítica. PERSPECTIVA, Florianópolis, v. 22, n. 01, p. 47-78, jan./jun. 2004

CARLOS, Ana Fani Alessandri. O lugar: modernização e globalização. in Milton Santos (org.) Fim do século e globalização. São Paulo, Hucitec, 2º edição,1994.

BRANÃO, Carlos Rodrigues e STRECK, Danilo Romeu. Pesquisa Participante - O saber da partilha. São Paulo, Idéias e Letras, 1ª edição, 2006.

Pesquisa Participante. São Paulo, Editora Brasiliense, 2ª edição, 1981.

FREIRE, Paulo.  Criando método de pesquisa alternativa. In. Pesquisa Participante. São Paulo, Editora Brasiliense, 2ª edição, 1981.

MINAYO, Maria Cecília de Souza (Org.) Pesquisa Social, Rio de Janeiro, Vozes, 7º edição, 1997.

LE BOTERF, Gui. Pesquisa Participante: proposta e reflexões. In BRANÃO, Carlos Rodrigues e STRECK, Danilo Romeu. Pesquisa Participante - O saber da partilha. São Paulo, Idéias e Letras, 1ª edição, 2006.