Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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PINTANDO CIDADANIA” EM BUSCA DA IGUALDADE DE GÊNERO
Martha Helena Teixeira de Souza, Scharllet Gasperi

Última alteração: 2015-10-19

Resumo


Apresentação: O Sistema Único de Saúde - SUS, resultado de um processo de lutas coletivas por meio da Reforma Sanitária e Constituição Federal de 1988, proporcionou aos enfermeiros uma atuação visando o atendimento ampliado, incluindo neste não apenas as questões técnicas, mas os aspectos sociais que envolvem o contexto das famílias/indivíduos. Enquanto política universal de saúde, o SUS, por meio da Estratégia de Saúde da Família - ESF, tem a possibilidade de promover a cidadania, bem como, reduzir a pobreza e a desigualdade social de famílias, sobretudo em comunidades vulneráveis, aqui entendidas como aquelas que vivenciam influências ambientais, econômicas, políticas e culturais que enfraquecem as relações, as interações e as associações individuais, familiares e sociais (ESCOREL et al., 2007). Os acadêmicos do curso de enfermagem, durante os estágios curriculares, frequentaram uma ESF na região oeste do município de Santa Maria/RS. Esta comunidade é conhecida por ter uma população socialmente vulnerável, onde residem mulheres que sofrem violência pela desigualdade de gênero. Gênero é um conceito social que remete para as diferenças entre homens e mulheres, não de caráter biológico, mas resultantes do processo de socialização. Descreve assim o conjunto de qualidades e de comportamentos que as sociedades esperam dos homens e das mulheres, formando a sua identidade social. Em todos os tempos, em todas as sociedades, a mulher foi colocada num lugar de inferioridade, destinada à reprodução e às tarefas domésticas. A diferença sexual, a única que existe na natureza da espécie, não fortuita, sempre foi tomada como um indício, para as mulheres, de uma inferioridade nata, justificando as proibições sociais e as formas de tratamento que as relegavam a um plano inferior (BARUS-MICHEL, 2013). A partir das atividades realizadas junto a esta ESF, percebeu-se a vulnerabilidade de mulheres que buscavam atendimento para problemas como: depressão, hipertensão, cefaléia, entre outros. Percebeu-se que estes problemas, em sua maioria, eram decorrentes de situações de violência decorrentes de situações de desigualdade de gênero vivenciadas por estas mulheres. A partir de então, os acadêmicos propuseram a realização de reuniões mensais para discutir não apenas questões ligadas à saúde, mas que envolvessem o resgate da autoestima e empoderamento das mesmas. As atividades com este grupo de mulheres ocorreram mensalmente de 2006 até 2014, nas últimas terças do mês. A partir do exposto, questionou-se: como a enfermagem pode atuar na busca da igualdade de gênero? O presente trabalho teve como objetivo perceber como acadêmicos do curso de enfermagem do Centro Universitário Franciscano atuam com a promoção da saúde buscando a igualdade de gênero com mulheres em situação de vulnerabilidade. Desenvolvimento do trabalho: O presente estudo é um relato de experiência da inserção de acadêmicos do curso de Enfermagem do Centro Universitário Franciscano em uma comunidade da região oeste do município de Santa Maria. Aconteciam mensalmente reuniões na comunidade em parceria com a equipe de Estratégia de Saúde da Família da região. As reuniões duravam em média 2 horas, sendo debatidos diversos temas de interesse das participantes, visando diminuir as desigualdades de gênero. Resultados: A maneira androcêntrica de identificar a humanidade é muito antiga. Desde que a história existe como disciplina cientifica, a história das mulheres foi desenvolvidas as margens da dos homens. Os dois sexos assumem valores diferentes, sendo o masculino superior ao feminino (STREY; CABEDA; PRENH, 2004). A violência contra mulher é determinada por aspectos sociais e culturais que definem as diferenças entre homens e mulheres, embasando a desigualdade de gênero. A violência de gênero se produz e reproduz nas relações de poder, expressas por uma forma particular de violência global, que delega aos homens o direito de dominar e controlar suas mulheres, podendo para isso usar a violência. Dentro dessa ótica, a ordem patriarcal é vista como um fator preponderante na produção da violência de gênero (COSTA et al., 2012). A violência contra a mulher pode ser compreendida, então, como uma “manifestação perversa dessa distribuição desigual de poder”. De 2006 a 2014, foram realizadas reuniões com grupos de mulheres no projeto intitulado “Pintando cidadania”, no qual são trabalhadas questões sobre violência, participação da comunidade no SUS, gênero, sexualidade, cidadania, saúde, entre outros. Muitas mulheres relataram seu sofrimento antes da sua participação no grupo, e que o fortalecimento delas veio também por meio dos debates proporcionados, pois autoestima foi melhorada, passaram a ter vontade de sorrir e lutar. A nova concepção de saúde diz que saúde não é apenas a ausência de doença, mas identifica-se como bem-estar e qualidade de vida, não sendo apenas uma conquista exclusiva da saúde, mas sim um resultado de fatores que em conjunto resultam em sociedades mais ou menos saudáveis, sendo assim a prática da enfermagem é influenciada pela realidade que as compreende (CASTELLANOS, 1998). A atuação dos acadêmicos de enfermagem do Centro universitário Franciscano correspondeu a isso, os alunos juntamente com os professores trabalham com o grupo de mulheres abordando temas relacionados com seus cotidianos vinculando-os com a saúde, afinal uma pessoa estar saudável, ou não, é determinado pelas condições, modos e estilos de vida. Considerações finais: Sendo uma profissão central no sistema de saúde, a enfermagem destaca-se e diferencia-se pelas práticas interativas e integradoras de cuidado, as quais vêm adquirindo uma repercussão cada vez maior tanto na educação e promoção quanto na recuperação e proteção da saúde dos indivíduos. O projeto “Pintando cidadania” proporcionou modificações nos acadêmicos de enfermagem, na comunidade, nos profissionais de saúde que dela participam, percebendo a saúde de forma ampliada e abordando as questões de gênero de maneira que minimizemos as vulnerabilidades vivenciadas pelas mulheres desta comunidade.

Palavras-chave


cidadania, mulheres, gênero

Referências


BARUS-MICHEL, Jacqueline. A interpretação da diferença dos sexos: inferioridade, estranheza, variedade, igualdade. Psicol. rev. (Belo Horizonte) [online]. V.19, n.1, p. 1-16, 2013.

ESCOREL S, GIOVANELLA L, MENDONÇA MHM, SENNA MCM. O Programa de saúde da família e a construção de um novo modelo para a atenção básica no Brasil. Rev Panam Salud Publica, V.21, n°2/3, p.164-176, 2007.

STREY, N.M.; CABEDA, S.T.L.; PREHN, D.R. Gênero e cultura: questões contemporâneas. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2004. 298p.

COSTA, et al. Os Autores de Violência contra Mulher: Relações de Gênero, Prisão e Ressignificação da Violência em Debate. Anais: VI Congresso Internacional de Estudos sobre Diversidade Sexual e de Gênero; 2012.

CASTELLANOS, P.L. Los modelos explicativos del processo salud-enfermidad: Los determinantes sociales. In: Martínez Navarro, F. e outro. Salud Pública. Madrid: McGraw-Hill-Interamericana, cap. 5, p. 81-102, 1998.