Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Caracterização de mulheres com vivência de violência conjugal em processo na 1º Vara de Violência Doméstica e Familiar de Salvador-BA
Maristela Farias Silva, Nadirlene Pereira Gomes, Fernanda Matheus Estrela, Nildete Pereira Gomes, Josinete Gonçalves dos Santos Lírio, Moniky Araújo da Cruz, Kátia Cordélia Cunha Cordeiro, Tamires Pereira Cerqueira

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


Introdução: A violência contra a mulher pode ser compreendida como resultado das relações desiguais de poder entre homens e mulheres. Estas são socialmente construídas e compartilhadas, naturalizando a supremacia masculina e a subjugação feminina. O âmbito doméstico revela-se como o principal locus de ocorrência da violência contra a mulher, com agressores representados, majoritariamente, por homens com quem a mulher mantém ou manteve relação afetiva. O estudo tem como objetivo caracterizar as mulheres em processo na 1ª Vara de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher quanto aos aspectos socioeconômicos. Desenvolvimento: Trata-se de uma pesquisa descritivo-exploratória, com abordagem qualitativa, vinculada ao projeto intitulado Reeducação de homens e mulheres envolvidas em processo criminal: estratégia de enfrentamento da violência conjugal, sob financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), Edital nº 012/2013 - Apoio à Pesquisa em Segurança Pública, cujo projeto fora aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Escola de Enfermagem da Universidade Federal da Bahia (n. 877.905). A pesquisa foi realizada na 1ª Vara de Violência Doméstica e Familiar contra Mulher localizada no município de Salvador, Bahia, Brasil. Os dados foram extraídos dos Formulários de Análise Documental, preenchidos por psicólogas e/ou assistentes sociais durante a primeira entrevista com a mulher, e alimentados no processo de acompanhamento psicossocial. O instrumento de coleta de dados contemplou quesitos sobre dados demográficos, socioeconômicos e relacionados à relação conjugal e à violência vivenciada. A análise dos dados foi efetuada através de distribuições das frequências. Os dados foram armazenados em planilhas do programa EXCEL e analisados no programa STATA, versão 11.0 (Stata Corp, College Station, TX, EUA). Resultados: Com relação aos aspectos sociodemográficos, a partir da análise dos 212 processos de violência conjugal registrados no ano de 2014 na 1ª Vara de Violência Doméstica e Familiar contra Mulher, foi possível identificar que as mulheres estudadas caracterizam-se por serem, na sua maioria, jovens ou em idade reprodutiva, negras, solteiras, com 1 filho, com baixa escolaridade, renda de até 1 salário mínimo e moradoras de periferia. A violência psicológica foi a mais mencionada, seguida da física. Com relação à agressão física, o rosto foi o local mais atingido. Ressalta-se que essas mulheres viveram de 2 a 5 anos com a violência. Considerações finais: Tais achados sinalizam ser esse o perfil de mulheres que se encontram mais decididas a romper com o ciclo de violência, sendo a denúncia uma das possibilidades. Dessa forma, o estudo indica o público alvo para o qual devem ser investidas ações de enfrentamento da violência conjugal. Nesse contexto, é essencial espaços de reflexão para que as mulheres compreendam a construção social de gênero e empoderem-se no sentido de assegurar para si própria uma vida livre de violência.

Palavras-chave


Violência contra a mulher; Gênero e Saúde; Enfermagem.

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