Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Prevenção da obesidade infantil: uma ação intersetorial na escola
Klara Coelho Barker, Silvana Corrêa Dias

Última alteração: 2015-11-27

Resumo


APRESENTAÇÃO: Este trabalho descreve um Projeto de Intervenção realizado num Jardim de Infância, situado no Distrito Federal, através da parceria de uma equipe de ESF com os educadores de um jardim de infância. Foi desenvolvido no âmbito do Programa Saúde na Escola com o objetivo de estimular a conscientização dos educandos e seus familiares sobre a importância da alimentação saudável para a prevenção da obesidade infantil. Os procedimentos metodológicos dizem respeito a um estudo transversal para subsidiar um projeto de intervenção desenvolvido entres os meses de Julho e Outubro de 2014. A equipe idealizadora e implementadora era composta por profissionais da Secretaria de Saúde e Secretaria de Educação do DF:  4 nutricionistas, 1 enfermeiro, 1 médico endócrino-pediatra, 1 médico pediatra, 1 médico endocrinologista, professores e gestores da escola. DESENVOLVIMENTO: O levantamento de dados procedeu-se a partir da antropometria das crianças. O critério de inclusão considerou todos os estudantes da escola, independente de sexo e idade. A escola possui 240 crianças matriculadas, destas, 28 não participaram, sendo a amostra total de 212. A partir disto, traçou-se um diagnóstico situacional das demandas de saúde das crianças. O local escolhido para o desenvolvimento das atividades foi o próprio espaço da escola. As ações de Educação em Saúde foram realizadas em três momentos, ao longo de 2 dias. No primeiro dia, a atividade foi conduzida pela médica endócrino-pediatra, que apresentou a situação-problema aos familiares, evidenciando os percentuais de IMC dos estudantes da escola e promovendo uma Roda de Conversa com o tema “Obesidade infantil e seus malefícios para a saúde da criança”. Depois, foi realizada uma oficina com os pais sobre “Alimentação saudável na infância”, utilizando dinâmica de montagem de pratos saudáveis. Após, disponibilizou-se o encaminhamento das crianças em situação de obesidade, para tratamento no ambulatório de obesidade do hospital regional. As nutricionistas da Secretaria de Educação e da Secretaria de Saúde desenvolveram atividade lúdica com todas as crianças da escola no sentido de promover a aproximação delas com frutas e/ou verduras e legumes. RESULTADOS: A antropometria das crianças e a classificação do Índice de Massa Corporal (IMC) foram realizadas de acordo com os gráficos da OMS apresentados na Caderneta da Saúde da Criança. Os dados evidenciaram que 161 crianças estavam com o IMC adequado (73,94%), 32 crianças com sobrepeso infantil (15,09%), 8 com obesidade (3,77%) e 1 com obesidade grave (0,47%). Na primeira atividade, a situação nutricional das crianças causou espanto à maioria dos familiares presentes, demonstrando que possuíam uma percepção errônea sobre a situação de saúde das crianças da escola. A conversa também trouxe à tona o fato de quanto mais precoce inicia-se a situação de sobrepeso, maior a tendência de a criança tornar-se um adolescente obeso e com problemas endócrinos. A oficina sobre “Alimentação saudável na infância”, foi muito interessante, pois os pais puderam demonstrar quais os alimentos eles costumam oferecer ao seu filho através da simulação de uma refeição: montando o prato, apresentando aos outros pais e justificando cada alimento selecionado. Esta dinâmica foi repetida diversas vezes, simulando todas as alimentações do dia (café da manhã, lanche, almoço, lanche da tarde, jantar e ceia). Os aspectos positivos desta dinâmica foram evidentes, pois ela promoveu reflexão autocrítica dos pais com relação às suas práticas. No momento em que iam escolhendo os alimentos e justificando a escolha, na maioria das vezes, verbalizavam quando o alimento era inadequado ou excessivo. A nutricionista agiu como uma mediadora, fazendo pausas entre as apresentações, e fazendo observações relacionadas a cada alimento, e evidenciava os dados do rótulo de cada um. A dinâmica foi bem vista por toda a comunidade escolar, inclusive pelas merendeiras, que participaram ativamente. Para os profissionais de saúde, a atividade não alcançou o seu objetivo, pois apesar da divulgação nas reuniões de pais, a presença total de familiares foi de 50 pais, ou seja, 23,5% do esperado. Dentre os presentes, apenas 1 era pai de criança em situação de obesidade e 1 era familiar de uma criança em sobrepeso; todos os outros, eram pais de crianças com IMC adequado. Portanto, a captação dos familiares de estudantes em situação de sobrepeso e obesidade foi considerada como insuficiente. O grande desafio foi compreender o contexto vivenciado por aqueles familiares, entender a “bagagem” cultural, o significado desta bagagem, e, principalmente, compreender como eles interpretam a situação de saúde de seus filhos. Houve elogios à escola que tem uma história de iniciativas com relação ao estímulo de bons hábitos alimentares. E paralelo a isto, alguns demonstraram reprovação ao fato de que alguns pais enviam doces e refrigerantes de lanche, desvalorizando e contradizendo o que é ensinado na escola. Ficou evidente também o descontentamento geral com a secretaria de educação que, segundo os relatos, raramente envia um cardápio viável e saudável para ser oferecido às crianças da escola. Então, o que parecia ser um problema simples, revelou-se como algo complexo e reflexo das várias contradições da sociedade atual. Os professores e as merendeiras também participaram, algo que não estava no planejamento. E no final, o resultado positivo: solicitaram à equipe de saúde que fizessem uma roda de conversa voltada para a prevenção da obesidade e bons hábitos alimentares, sendo esta exclusiva para a equipe da escola. Nas atividades realizadas com as crianças, observou-se que elas possuíam um conhecimento prévio sobre o assunto. Algumas demonstravam que não gostavam de determinadas frutas e legumes e verbalizavam que preferiam os alimentos industrializados e açucarados (bolo, balinha, refrigerante, salgadinho). Utilizou-se também massinhas, desenhos e vídeos infantis educativos. E por fim, o lanche tradicional escolar foi substituído pelo Dia da Fruta, no qual todos os pais foram convidados a enviar exclusivamente frutas para o lanche de seus filhos. As nutricionistas tiveram dificuldades para desenvolver a atividade, devido à inexperiência de abordagem com esta faixa etária infantil. Sendo alguns: a linguagem utilizada (vocabulário) não foi tão adequada à compreensão dos alunos; dificuldade na condução das dinâmicas; e, falta de autoridade e vínculo com os estudantes O objetivo de estimular o interesse das crianças por frutas e verduras foi alcançado. O Dia da Fruta tornou-se oficial, e acontecerá uma vez por semana. CONSIDERAÇÕES FINAIS: O Programa Saúde na Escola se destacou como um avanço na história de políticas públicas no Brasil voltadas para promoção da saúde. A partir dele, foi possível iniciar um vínculo família-escola-centro de saúde, e desta relação, revelou-se uma oportunidade para a construção do conhecimento em saúde, que é essencial para a promoção de uma qualidade de vida. Esta experiência mostrou ser possível desenvolver atividades de educação em saúde com as crianças e seus familiares, dentro da rotina escolar, porém com alguns desafios a serem superados, como por exemplo: construir vínculo com os familiares e torná-los protagonistas das atividades educativas. O projeto venceu a resistência dos profissionais de saúde com relação ao trabalho extramuros; despertou a escola para o seu papel de prevenção da obesidade e alertou os pais sobre o estado de saúde de seus filhos. E, ainda, deixou sementes: foi inserido no Projeto Político-Pedagógico da Escola para ser realizado anualmente. Os resultados deste trabalho reforçam a necessidade de maior investimento do poder público nas estratégias e políticas de promoção à saúde, e reforça a importância da Atenção Primária à Saúde como eixo sustentador do Sistema Único de Saúde. 

Palavras-chave


Programa Saúde na Escola; Obesidade Infantil; Atenção Básica;

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