Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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VIVÊNCIAS NA REABILITAÇÃO DE PESSOAS COM DEFICIÊNCIA FÍSICA: FORMAÇÃO ACADÊMICA E HUMANIZAÇÃO DA SAÚDE
Aline Missel, Gustavo Roese Sanfelice

Última alteração: 2015-11-11

Resumo


A concretização de ações mais humanizadas e propostas de formação que contemple os aspectos inerentes à humanização dos serviços de saúde passam por diversos aspectos. Encontram-se desafios éticos relacionados aos ideais de humanização das práticas de saúde, de essencial relevância, uma vez que o processo de reabilitação de pessoas com deficiência física é sustentado por princípios como a integralidade e inclusão social, dentre outros, demandando a revisão das práticas cotidianas, de modo a promover a cidadania desses indivíduos. Pelo que foi exposto, pensar coerentemente o contexto de implicações, valores e relações entre pacientes e equipe profissional é o que serve de fundamento ou direcionamento para o trabalho adequado e de qualidade. Da mesma forma que a pessoa com deficiência física vive situações de incerteza em relação às suas próprias limitações, o mesmo ocorre com o profissional de saúde envolvido em sua reabilitação, pois o mesmo tem de descobrir quais são as necessidades individuais relevantes, procurando sempre valorizar as potencialidades do indivíduo. Na tentativa de compreender as atuações dos profissionais de saúde em relação à atenção humanizada de pessoas com deficiência física, é que levou ao desenvolvimento dessa pesquisa, que consiste em analisar e interpretar os discursos e as práticas de profissionais que atuam em instituições de reabilitação. A pesquisa utilizou discursos, ações diárias e da convivência, para verificar como esses profissionais de saúde entendem e percebem as questões relacionadas à atenção humanizada, como também, identificar as contribuições da formação acadêmica na aquisição de conhecimentos nessa temática. O presente estudo é um recorte da dissertação para a obtenção do título de Mestre em Diversidade Cultural e Inclusão Social pela Universidade FEEVALE/RS, caracteriza-se como qualitativo e descritivo, tendo como objetivo investigar as percepções e as atuações de profissionais da área da saúde nos aspectos relacionados à inclusão social, humanização da saúde e formação acadêmica. O estudo foi executado em duas (2) instituições de reabilitação do município de Porto Alegre/RS e o período de coleta de dados foi de 07 de junho a 20 de agosto de 2013. Para tanto, a amostra foi constituída de seis profissionais, sendo dois médicos, dois fisioterapeutas e dois fonoaudiólogos. Foram submetidos a entrevistas semiestruturadas e observações de atendimentos, permitindo atuação sobre uma variedade de evidências em condições contextuais de reputação do processo. Foram observados quatro atendimentos de cada profissional, de pacientes que apresentam algum tipo de deficiência física, associada ou não à deficiência intelectual, não importando a idade e o sexo. Tendo em vista a relevância dos aspectos éticos que devem permear todo o processo de pesquisa científica, o projeto da dissertação foi encaminhado e aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) imediatamente após a aprovação pela banca qualificadora, a fim de analisar os aspectos éticos envolvidos (Plataforma Brasil protocolo de número 15725913.8.0000.5348). Para a análise dos dados utilizou-se a Análise de Conteúdo de Bardin (2011), que resultou em três categorias: Aspectos sociais do sujeito; Atuação e conhecimento em relação à inclusão social e formação; e A concepção de humanização da saúde. Na interpretação das informações, ficou explícito que os profissionais percebem “o paciente” como um sujeito envolvido por fatores socioculturais e que determinam todas as ações e reações no processo saúde-doença. Mas em alguns casos, na prática, essas percepções não se concretizaram, onde “o paciente” apareceu como um “corpo-objeto” fragmentado e submisso à manipulação. As práticas em saúde passam a ser questionadas por apresentarem-se mais objetivas e dispendiosas com a adoção das tecnologias modernas e, ao mesmo tempo, muito pouco humanizadas.  Um dos principais fatores mencionados é a formação eminentemente tecnicista do profissional de saúde, sentindo-se inseguro e despreparado para uma prática mais ampliada e humanizada. Em consenso, os profissionais citaram que não receberam informações durante as suas formações acadêmicas, tanto teórica como prática, sobre atenção humanizada. Situação preocupante, onde o processo de formação profissional deve ser uma construção baseada no desenvolvimento de conhecimentos, ideias e de valores determinados não apenas pelo setor acadêmico, mas econômicos, políticos, sociais e culturais. Amorim, Moreira e Carraro (2001) chamam a atenção para o paradigma predominante na formação dos profissionais de saúde voltado para o modelo biológico que dificulta a visão do indivíduo como um ser integral e interfere na compreensão do processo saúde-doença. Os autores sugerem uma revisão nos programas de formação dos profissionais de saúde, ressaltando que não se pode mais aceitar o bom desempenho técnico sem que o mesmo esteja vinculado à cidadania e à ampla visão da realidade no contexto em que vão atuar. Para Vilela e Mendes (2003), é fundamental que a universidade tenha responsabilidade social na formação dos seus alunos, assim como trabalhar os conceitos de equidade, acesso universal e qualidade no atendimento. Para um resultado de grande relevância em relação às mudanças necessárias na estruturação da formação acadêmica, a teoria associada à realidade social dos sujeitos envolvidos é o que determinará a qualidade das ações em saúde. Somente partindo desta perspectiva é que os docentes terão condições profissionais e pessoais para transmitir conhecimentos técnicos associados à atuação humanizada. É importante para a efetivação destas propostas, uma formação acadêmica em que estes princípios sejam considerados e, mais que isso, que estes pressupostos sejam protagonistas no processo de formação profissional, juntamente com as questões técnicas. É essencial que haja equilíbrio entre a capacitação científica e a formação humanística, que privilegie uma visão abrangente e multifatorial de saúde, bem como a sensibilidade no processo de lidar com a realidade psicossocial das pessoas com deficiência física em processo de reabilitação. No caso das instituições pesquisadas, constatou-se que as questões de acessibilidade e a utilização dos serviços do Sistema Único de Saúde (SUS) estão intimamente ligadas à inclusão social e ao processo de reabilitação. Demonstrando claramente que a inclusão social de pessoas com deficiência física depende de vários setores interconectados, onde o papel da formação acadêmica e de efetivas políticas públicas em relação à saúde e a acessibilidade são fundamentais. No entanto, existem avanços importantes em relação a políticas públicas e legislação nesses setores, mas há a falta de eficiência e eficácia dos mesmos. Sendo um dos motivos, a carência em capacitação sociocultural e humanizada dos profissionais envolvidos nas práticas em saúde. Este estudo retrata a complexidade da reabilitação de pessoas com deficiência física, que agregam elementos essenciais ligados à saúde, educação, acessibilidade e cidadania. Espera-se que a pesquisa traga subsídios empíricos e teóricos para discutir o processo de inclusão social no âmbito da reabilitação, onde as práticas em saúde têm ocupado lugar de destaque nas atuais propostas para a construção de atuações humanizadas, no sentido de sua maior integralidade, efetividade e acesso.

Palavras-chave


Deficiência física; Reabilitação;Humanização da saúde

Referências


AMORIM, S.T.S.P.; MOREIRA, H.; CARRARO, T.E. A formação de pediatras e nutricionistas: a dimensão humana. Revista de Nutrição. Campinas: v.14, n.2, p.111-118, 2001.

 

BARDIN, L. Análise de conteúdo. 3.ed. São Paulo: Almedina, 2011.

 

VILELA, E.M.; MENDES, I.J.M. Interdisciplinaridade e saúde: estudo bibliográfico. Revista Latino Americana de Enfermagem. São Paulo, v.11, n.4, p.525-31, 2003.