Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
Percepções e Práticas sobre Educação em Saúde de Equipes de Saúde Bucal em um município no norte do Ceará
Janice Davila Rodrigues Mendes, Cibelly Aliny Siqueira Lima Freitas, Maria Socorro Araújo Dias, Daniel Rodrigues Fernandes

Última alteração: 2015-10-22

Resumo


No Brasil, o movimento de reestruturação do modelo assistencial à saúde iniciou-se após a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS) e, sobretudo, a partir da criação do Programa de Saúde da Família (PSF), em 1994. Este programa surgiu como forma de reorganização da atenção à saúde, buscando operacionalizar os princípios do SUS no âmbito da atenção básica. Em 1997, o Ministério da Saúde reconheceu que o PSF, embora rotulado como programa, por suas especificidades, fugia à concepção usual dos demais programas concebidos, já que não era uma intervenção vertical e paralela às atividades dos serviços de saúde. Pelo contrário, caracterizava-se como uma estratégia que possibilitava a integração e promovia a organização das atividades em um território definido, com o propósito de propiciar o enfrentamento e resolução dos problemas identificados. Desta forma, o PSF passou a ser considerado uma Estratégia de Saúde da Família (ESF) entendida como uma proposta substitutiva com dimensões técnica, política e administrativa inovadoras. Em 1998, uma pesquisa realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), em convênio com o Ministério da Saúde, mostrou números alarmantes em relação à saúde bucal dos brasileiros, como, por exemplo, 29,6 milhões de brasileiros nunca tinham frequentado um consultório odontológico. Revelaram, também, que a saúde bucal estava recebendo uma parcela escassa de recursos em relação ao total de investimentos do SUS, pois, apenas 5,24% dos investimentos em saúde se destinavam aos procedimentos odontológicos. Os resultados deste estudo motivaram o Ministério da Saúde a propor medidas que contribuíssem para a melhoria da Saúde bucal da população. Assim, como estratégia de reorganização da Atenção Primária à Saúde, houve a inclusão de equipes de saúde bucal na Estratégia de Saúde da Família (ESF), através da publicação da Portaria GM/MS, nº 1.444, de 28 de dezembro de 2000, que estabelece incentivo financeiro para a reorganização da atenção à saúde bucal prestada aos municípios. Desta forma, as ações de saúde bucal foram definitivamente incluídas na ESF. Em março de 2001 foi publicada a Portaria GM/MS nº 267, que aprovou as normas e diretrizes de inclusão da Saúde Bucal na Atenção Primária. Neste contexto de reorientação do modelo de atenção à saúde bucal, em 2004, o Ministério da Saúde publicou um documento contendo as Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal. Esta política teve como embasamento epidemiológico a conclusão do “Projeto SB Brasil 2003 – Condições da Saúde Bucal da População Brasileira”, e suas diretrizes tinham como objetivo principal promover uma reorganização da atenção em todos os níveis, tendo o conceito do cuidado como eixo de reorientação do processo, respondendo a uma concepção de saúde não centrada somente na assistência aos doentes, mas, sobretudo, na promoção da boa qualidade de vida e intervenção nos fatores que a colocam em risco. Desta forma, embora tenha havido vários avanços na área odontológica, os agravos bucais e suas sequelas ainda constituem-se em problemas de saúde pública, com graves consequências sociais e econômicas. Tais agravos são facilmente prevenidos através da mudança de hábitos de higiene bucal e de alimentação da população, assim como a realização de ações de educação em saúde. Assim, a educação em saúde bucal tem sido cada vez mais pública e coletiva. As ações de educação em saúde, numa concepção ampliada de cuidado de saúde, requerem a participação dos profissionais e usuários na mobilização, capacitação e desenvolvimento de aprendizagem de habilidades individuais e sociais para lidar com os processos de saúde-doença. Diante desse contexto, realizamos um estudo com o objetivo de analisar as atividades de educação em saúde realizadas pelas equipes de saúde bucal que estão inseridas na Estratégia de Saúde da Família no município de Sobral, Ceará. O período da coleta de dados foi durante os meses de novembro do ano de 2013 a janeiro de 2014. Estas atividades foram analisadas tomando-se como referencial teórico de educação em saúde o método da Educação Popular de Paulo Freire. A pesquisa classificou-se em exploratória e descritiva com abordagem qualitativa. Os sujeitos do estudo foram os cirurgiões-dentistas e auxiliares de saúde bucal que compunham as equipes de saúde da família no município. Os dados foram coletados por meio da entrevista semiestruturada e a observação simples e, processados através da Análise de Discurso. Na análise e discussão dos resultados, a concepção de Educação em Saúde referida majoritariamente pelos profissionais relaciona-se com o Modelo Tradicional de Educação em Saúde, baseado na transmissão vertical de informações e na superposição de saberes, visando, principalmente, mudanças individuais de comportamento, e suas práticas guiam-se metodologicamente por este modelo. Porém, alguns poucos sujeitos da pesquisa mostraram uma percepção de Educação em Saúde mais abrangente, que se aproxima do Modelo Dialógico ou da Educação Popular, envolvendo o diálogo, a troca de experiências e o “aprender/estar com o outro”. Sobre o processo de planejamento e desenvolvimento, nota-se que a integração entre Equipe de Saúde Bucal (ESB) e equipe de saúde da família, no que diz respeito às atividades para escolares, é um processo ainda em construção, não estando consolidado na ESF. No que se refere às temáticas trabalhadas, variam de acordo com a faixa etária e condição de vida de cada grupo e os assuntos restringem-se a temas relacionados somente com a área da odontologia. Infere-se que há possibilidades da escolha das temáticas das atividades para grupos ser estabelecida apenas entre a equipe de saúde, sem que haja a participação da comunidade. As estratégias adotadas são predominantemente palestras expositivas; outros recursos audiovisuais, e técnicas como teatros, fantoches também foram expostos, mas como ações pontuais. A compreensão de participação da comunidade que a maioria dos profissionais detém refere-se apenas ao esclarecimento de dúvidas e questionamentos dos usuários. Não há o estímulo ao desenvolvimento da autonomia e ao empoderamento da população. Os profissionais encontram-se frente a diversos desafios que dificultam a consolidação de um novo modelo tecnoassistencial em saúde, o processo histórico de inserção da saúde bucal na ESF, a formação acadêmica dos profissionais, os programas Ministeriais, com seus protocolos e metas, os aspectos estruturais e as concepções acerca da Educação em Saúde confluem para a organização de um processo de trabalho que privilegia o Modelo Tradicional de Educação, e que faz com que este permaneça hegemônico nas práticas atuais. Nota-se a necessidade de reflexões capazes de propiciar a implementação de práticas educativas no cotidiano dos serviços, de forma conjunta, envolvendo os diversos atores e setores implicados. É fundamental, também, que as ESB revejam suas práticas, e as estratégias utilizadas, realizando avaliações periódicas, assim, a Educação em Saúde poderia se consolidar como um instrumento efetivo a serviço da Promoção da Saúde. É necessário o desenvolvimento de políticas mais intensivas de formação de profissionais de saúde, que considerem a educação popular e o uso de metodologias ativas de ensino como método nas suas formações. Este estudo poderá contribuir para uma reflexão a respeito do tema na prática, podendo assim possibilitar a construção de um novo olhar sobre a Educação em Saúde.      

Palavras-chave


Educação em Saúde; Estratégia de Saúde da Família; Saúde Bucal

Referências


BRASIL. Ministério da Saúde. Saúde da Família: Uma Estratégia para a Reorientação do Modelo Assistencial. Brasília, 1997. 34 p.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Equipes de Saúde Bucal: Série C- Projetos, Programas e Relatórios. Brasília, 2002. 22 p.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Projeto SB Brasil 2003: condições de saúde bucal da população brasileira 2002-2003: resultados principais. Brasília, 2004a. 68p.

BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Coordenação Nacional de Saúde Bucal. Diretrizes da Política Nacional de Saúde Bucal. Brasília, 2004b. 16 p.

MACHADO, M. F. A. S.; VIEIRA, N. F. C. Educação em Saúde: O olhar da Equipe de Saúde da Família e a participação do usuário. Rev. Latino-am Enfermagem, v. 17, n. 2, p. 174-179. 2009.

PAULETO, A. R. C.; PEREIRA, M. L. T.; CYRINO, E. G. Saúde Bucal: uma revisão crítica sobre programações educativas para escolares. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 9, n. 1, p. 121-130. 2004.