Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A experiência de uma equipe multiprofissional em saúde no subsistema de atenção à saúde indígena: vivência em campo
josiane Emilia do Nascimento Wolfart, Adolfo Henrrique Costa Santos

Última alteração: 2015-10-19

Resumo


Este resumo traz parte da experiência de estágio de alguns integrantes do programa de residência multiprofissional em saúde, com ênfase na atenção a saúde indígena. Inicialmente o programa de residência proporciona um estágio que se inicia no hospital. Neste estágio, os integrantes da residência percorrem alguns setores como: maternidade, clínica cirúrgica, enfermaria pediátrica, UTI adulto, UTI pediátrica, Banco de Leite Humano, psiquiatria, dentre outros. O objetivo desta inserção no setor é proporcionar ao residente sua iniciação na prática cotidiana do hospital e atuação junto com a equipe do posto. Desta forma, o residente pratica a assistência direta ao usuário e também pode manter contato com a rede de Atenção a Saúde. Entendo que a assistência é integral e que ultrapassa os muros do hospital - um passo importante, uma vez que o programa também proporciona o estágio na rede. De acordo com o período do rodízio do programa, o residente tem trinta dias para transitar pelo setor e conhecer sua rotina. No caso da Psicologia, por exemplo, o residente atendendo grande parte dos casos que necessitam de acompanhamento psicológico. Estes casos são repassados pelos preceptores e por outros profissionais do setor. A nutrição também desenvolve seu trabalho em acompanhamento com o preceptor do setor, assim como a enfermagem. Vale ressaltar que o programa de residência acontece em um hospital universitário vinculado ao Sistema Único de Saúde, que atende a população de 34 municípios vizinhos ao município de Dourados/MS. O hospital atende também a população indígena que reside no local.  Em um segundo momento os residentes da ênfase indígena deixam o hospital e vão a campo conhecer as reservas indígenas Jaguapiru e Bororó. Este é um momento importante onde cada residente pode entrar em contato com o subsistema de atenção à saúde indígena, bem como contato a população em seu território. No hospital os residentes também entram em contato com a população indígena, contudo, mesmo que o programa tente promover uma atenção diferenciada a este grupo, tentando adaptar sua prática a realidade cultural e social do grupo, ainda assim muito desta prática fica a desejar. São muitos os atores envolvidos na produção de saúde e nem todos estão dispostos a modificar sua prática para atender uma população tão distinta. Sabemos que a política de saúde indígena defende a atenção diferenciada que leve em consideração as realidades locais e as especificidades culturais de cada grupo étnico, por vezes ficamos a mercê de uma força maior. O modelo biomédico ainda domina a frente do cuidado em saúde, neste território hospitalar ficamos fragilizados ao pensar o cuidado a saúde indígena. O estagio se inicia com uma reunião no Polo Base da SESAI. Temos contato com alguns trabalhadores e preceptores (vinculados ao programa de residência) da saúde indígena. Nesta reunião são repassadas orientações quanto a nossa atuação na comunidade. Logo em seguida somos convidados a embarcar no território. Nosso estágio iniciou-se no posto de saúde Pài Kwara Rendy. Esta unidade é composta por enfermeira, nutricionista, psicólogo – atuante em duas unidades de saúde - médico pediatra, médica ginecologista, odontólogo, agente comunitário de saúde, técnico de enfermagem, recepcionista e auxiliar de serviços gerais. Destes trabalhadores apenas os médicos e o dentista não são indígenas. O posto conta com uma sala de ginecologia, sala para atendimento médico pediátrico, sala de atendimento odontológico, sala para reuniões de equipe, copa, unidade de farmácia e almoxarifado, banheiros para funcionários e usuários e uma recepção de espera. As condições do prédio são precárias, muitas vezes faltam materiais para os procedimentos médicos e de enfermagem. A equipe improvisa algumas medidas para poder executar seu serviço. Os agentes comunitários de saúde realizam visitas nas casas para avaliar as condições de saúde, se as vacinas estão em dia, etc. É por meio deles que chegam algumas demandas de atendimento à unidade. Quando a necessidade, outros profissionais também vão até a casa dos moradores. Acompanhamos algumas visitas com a enfermeira do posto. Em uma visita fomos à casa de uma puérpera. Conversamos sobre aleitamento materno e o ganho de peso do bebê. Em outra visita fomos à casa de um senhor que apresenta problemas com álcool, está desempregado e depressivo. Disse que não consegue emprego na cidade e por isso bebe para esquecer as dividas. Conversamos com ele para colher mais informações de seu estado emocional, nos colocamos a disposição para acompanhar o caso durante o período do estágio, junto com a equipe do posto. O estágio na comunidade indígena nos coloca frente à sua realidade, nos insere dentro de seu território. São pessoas com necessidades específicas que precisam ser respeitadas. Sua forma de organizar-se e manifestar-se é singular, é preciso cuidado e respeito ao entrar neste território. Cada grupo tem sua maneira própria de entender e organizar o mundo. São diversas manifestações políticas, culturais, religiosas, econômicas que perpassam este ambiente. Os primeiros dias de estágio em campo nos ensinaram o quanto é preciso ter humildade para adentrar este território. O morador nos convida a entrar em sua casa e ali somo convidados a ouvir suas queixas, seu modo de pensar, suas crenças. Mais uma vez ficamos fragilizados e ao mesmo tempo tocados com tamanha riqueza cultural. É esta riqueza que nos exige pensar e repensar nossa pratica em saúde. Cada dia, somos chamados a construir uma nova prática em saúde. Repensar o cuidado, pois os meios convencionais de se fazer saúde podem não atender uma realidade tão singular. A realidade da aldeia nos mostra que ainda há muito por fazer. O desafio para as equipes de saúde é promover a saúde em um ambiente onde à pobreza e a falta de recursos sanitários limita a promoção de saúde. O estágio continua e os desafios da residência também. A prática seja ela no âmbito hospitalar ou na comunidade indígena nos coloca frente às provocações do trabalho não prescrito. Pensar a saúde indígena em sua forma integral, contemplando suas especificidades etnoculturais e geográficas, se constitui um desafio ainda maior.

Palavras-chave


vivência; equipe multiprofissional; saúde indígena.

Referências


BRASÍLIA. 4ª Conferência Nacional de Saúde.Distrito Sanitário Especial Indígena: Território de Saúde, Proteção da Vida e Valorização das Tradições. Documento Base, Outubro, 2005.