Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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NOTIFICAÇÕES DOS AGRAVOS À SAÚDE DOS TRABALHADORES DA SAÚDE NA MACRORREGIÃO OESTE DE SANTA CATARINA
Rodrigo Momoli, Leticia de Lima Trindade, Junir Antonio Lutinski, Sinval Adalberto Rodrigues Junior

Última alteração: 2016-01-15

Resumo


Apresentação: O trabalho na área da saúde é marcado por situações que podem culminar na realização do profissional e, ao mesmo tempo, por fatores potencialmente nocivos à saúde e vida do trabalhador da saúde. Os trabalhadores de saúde (TS) estão comumente expostos a vários agravos à sua saúde inerentes à atividade laboral que exercem. Incluem-se entre elas as situações de risco relacionadas à exposição a micro-organismos patogênicos presentes no ar, sangue ou fluidos orgânicos, além da manipulação de medicamentos, procedimentos repetitivos, contato com o sofrimento e a finitude humana, sobrecarga de trabalho, vínculos instáveis de trabalho, baixa remuneração, e outros aspectos que podem favorecer o adoecimento físico e psíquico dos trabalhadores envolvidos com a assistência à saúde da população. Deste modo, a Política Nacional de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, instituída em 2012, considera o trabalho como um dos determinantes do processo saúde-doença e tem como finalidade definir os princípios, diretrizes e estratégias em prol da atenção integral à saúde do trabalhador, com destaque na vigilância na busca pela promoção e proteção à saúde destes trabalhadores e redução da morbimortalidade. Objetivo: analisar os agravos relacionados à saúde do trabalhador notificados na Macrorregião Oeste de Santa Catarina que acometeram os trabalhadores dos serviços de saúde. Metodologia: Tratou-se de um estudo descritivo, de caráter transversal, construído mediante análise de dados documentais públicos. Incluíram-se na análise das notificações que envolveram trabalhadores que atuam diretamente ou indiretamente na assistência aos usuários nos diferentes cenários de atenção à saúde sendo estes enfermeiros, médicos, técnicos e auxiliares de enfermagem, odontólogos, psicólogos, farmacêuticos, fisioterapeutas, auxiliares de consultório dentário, agentes comunitários de saúde, agentes de endemias, auxiliares médico-legais, agentes de defesa ambiental, técnicos em radiologia, auxiliares de materiais, bioquímicos, técnicos em laboratório, além dos estagiários, auxiliares e técnicos-administrativos e profissionais da lavanderia, cozinha e serviços gerais. O cenário de estudo foi o Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (CEREST) da Regional de Chapecó, o qual é referência em saúde do trabalhador para 76 municípios da Macrorregião Oeste de Santa Catarina. A pesquisa foi desenvolvida junto ao banco de dados públicos deste Centro, entre os meses de abril e maio de 2014, a partir da análise de 360 fichas de notificação oriundas das instituições da sua área de abrangência e registradas em 2012 e 2013. Para tanto, separou-se previamente as fichas de notificação relacionadas aos acidentes e doenças ocupacionais que acometeram os trabalhadores da saúde da Macrorregião Oeste de Santa Catarina no período mencionado. As notificações selecionadas tiveram seus dados organizados em uma planilha do Microsoft Office Excel 2010 conforme as variáveis: sexo, idade, raça, escolaridade, ocupação, município de residência, vínculo empregatício, tipo de exposição, tipo de material biológico de exposição, agente causador, instituição empregadora, parte do corpo atingida e unidade notificadora. A análise estatística foi realizada com o auxílio do software StatisticalPackage for the Social Sciences 16.0 (SPSS), sendo calculadas as frequências absolutas e relativas para as variáveis categóricas, a média, mediana e o desvio padrão das variáveis numéricas, além dos testes de confiança e o teste de qui-quadrado com valor de significância de p>0,05. Como tratou-se de uma pesquisa documental em registros públicos a pesquisa, conforme orienta a Resolução nº 466, de 12 de dezembro de 2012, do Conselho Nacional de Saúde, dispensou avaliação de um Comitê de Ética, contudo solicitou-se a ciência da Secretaria de Saúde do município de Chapecó para publicação do estudo. Resultados: Entre os anos de 2012 e 2013, o CEREST Regional de Chapecó recebeu 7.856 notificações de agravos em saúde do trabalhador. Em 2012, foram 2.731 notificações; já em 2013, foram registradas 5.125 notificações, um crescimento de 87,7%. Do total de notificações, 360 (4,58%) foram referentes aos agravos que acometeram os trabalhadores da saúde. Dentre estas, observou-se que 52% dos 76 municípios da Macrorregião apresentaram-se silentes com relação aos agravos que acometeram os trabalhadores da saúde. No que se refere ao perfil sociodemográfico, 86% das notificações foram dos trabalhadores da saúde do sexo feminino. A média de idade, no geral, foi de 35,22 anos, sendo a mínima de 18 anos e máxima de 64 anos (DP=9,51 anos). Quando realizada associação entre idade e tipo do agravo obteve-se significância estatística (p=0,01) e identificou-se que os acidentes de trabalho com material biológico e os acidentes de trabalho leves e de trajeto acometeram principalmente os trabalhadores de 23 a 47 anos. O agravo mais prevalente foi o acidente com material biológico, seguido do acidente de trabalho leve, acidente de trajeto, a Lesão por Esforço Repetitivo (LER), Distúrbio Osteomuscular Relacionado ao Trabalho (DORT) e o acidente com material químico. Os acidentes com materiais biológicos e os acidentes de trabalho leve foram os agravos que mais acometeram os auxiliares e técnicos de enfermagem, seguidos dos enfermeiros, médicos e dentistas. O principal agente causador dos acidentes com material biológico foram o manejo da medicação (n=61–39,42%), o manejo do paciente (n=48–32,45%), o manejo do lixo (n= 26–19,20%) e a lavagem de material (n= 14–9,40%). O sangue (n= 158–96,35%) foi o principal tipo de material biológico envolvido nestes acidentes, que acometeram, sobretudo, profissionais de enfermagem (118–71,94%). O nível de associação entre as variáveis tipo de material biológico e ocupação foi significativo (p=0,01). Os acidentes de trabalho leve acometeram com maior frequência os agentes comunitários de saúde (n=54–20%). Ainda identificou-se relação entre o tipo de agravo e a ocupação (p=0,04). No que se refere à escolaridade, o maior número de agravos foi observado em indivíduos com ensino médio (n=151–55,28%) e superior completo (n=67–24,55%), com associação significativa entre estas variáveis (p=0,03). Quanto ao local de trabalho, identificou-se maior ocorrência de agravos na Atenção Básica (n=196–54,4%) seguidos da área hospitalar (n=146–40,6%). O quantitativo de acidentes com materiais biológicos na área hospitalar e na Atenção Básica mostrou-se próximos, contudo na Atenção Básica ocorreram mais acidentes leves. Também a análise estatística revelou associação entre o local de trabalho e tipo de agravos (p=0,01), indiciando que em determinados cenário prevalecem um tipo de agravo entre parte do corpo atingida e categoria profissional, a mão foi a parte do corpo mais acometida, com destaque entre os profissionais de enfermagem, médicos e profissionais da equipe de saúde bucal. Já os agentes comunitários de saúde tiveram a perna e o pé como a parte do corpo mais atingida. Entre os que atuam nos serviços gerais, há maior acometimento da coluna vertebral, mão e pé. Conclusão: O estudo demonstra uma possível subnotificação das doenças ocupacionais entre os trabalhadores da saúde. Os profissionais de enfermagem apresentaram-se entre os principais acometidos pelos acidentes com material biológico. Estes trabalhadores assistem a população brasileira nos diversos cenários da saúde, por isso, precisam ser figurados como indivíduos que estão sujeitos ao adoecimento físico e psíquico relacionado ao seu processo e condições de trabalho. Os achados sinalizam a importância do fortalecimento das políticas e ações de prevenção e vigilância dos acidentes de trabalho entre os trabalhadores do setor saúde. Estudos junto a outros CEREST do país podem subsidiar avanços na promoção e proteção do trabalhador da saúde, considerando a consonância e divergência dos achados, e assim nas necessidades singulares de cada e categoria profissional.

Palavras-chave


SAÚDE DO TRABALHADOR; TRABALHADOR DE SAÚDE,NOTIFICAÇÃO