Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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EXCESSO DE PESO E IMAGEM CORPORAL EM MULHERES PRESIDIÁRIAS EM REGIME FECHADO: O DESAFIO DO PROFISSIONAL DE SAÚDE FRENTE AO DESEJO E À REALIDADE
Ursula Viana Bagni, Fernanda Maria Conceição Amorim, Ana Paula Dias Inocêncio Barbosa, Nayara Pereira Soares

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


APRESENTAÇÃO: A alimentação e a saúde são direitos constitucionalmente garantidos à pessoa privada de liberdade tal como a qualquer outro cidadão. Entretanto, a assistência à saúde é precária, e a alimentação fornecida é de baixa qualidade na maior parte dos presídios no Brasil. Tal cenário, aliado às dificuldades impostas pelo encarceramento, favorece o desenvolvimento de obesidade, diabetes, hipertensão e outras doenças crônicas não transmissíveis, as quais têm difícil controle devido à escassez de equipe técnica multiprofissional da área da saúde nas unidades prisionais. DESENVOLVIMENTO DO TRABALHO: Este estudo transversal, desenvolvido com 97 reclusas do regime fechado, investigou o estado nutricional (atual e prévio) por meio do índice de massa corporal, e a percepção da imagem corporal (corpo atual; corpo antes da reclusão; corpo que gostaria de ter) utilizando escala de silhuetas. RESULTADOS E/OU IMPACTOS: A maioria das reclusas (62,2%) tinha excesso de peso, e 73% apontou ter engordado durante a reclusão. Dentre as que engordaram, 60,3% já tinha excesso de peso antes da reclusão, demonstrando agravamento do estado nutricional. Um total de 55,4% das mulheres desejava emagrecer (das quais 87,8% apresentavam excesso de peso e 12,2% eram eutróficas). Entretanto, 36,5% indicaram que gostariam de ser mais corpulentas do que eram (dessas, 27,6% tinham excesso de peso e 71,4% eram eutróficas). Para maioria das mulheres, o corpo ideal estava associado às silhuetas de IMC de sobrepeso (37,1%) e obesidade (44,9%). Ao indicarem o corpo que gostariam de ter, tanto as mulheres que desejavam emagrecer, quanto aquelas que desejavam engordar apontaram para principalmente para silhuetas de sobrepeso (44,7% e 36,7% respectivamente) e de obesidade (30,0% e 60,0%, respectivamente). Somente 13,5% das mulheres detentas desejava ter um corpo compatível com a eutrofia. CONSIDERAÇÕES FINAIS. Embora para muitas detentas o ganho de peso tenha sido um processo inevitável e indesejável, mais de um terço das mulheres desejava que seu corpo fosse maior que o atual, e a maioria apontou silhuetas de sobrepeso e obesidade como o corpo que gostariam de ter. A interpretação da robustez corporal como proteção contra violências e abusos dentro do cárcere pode ser um dos fatores relacionados a esse comportamento, conforme já relatado na literatura. Esta ótica distorcida pode dificultar a promoção da saúde no cárcere, e requer do profissional de saúde destreza e sensibilidade para buscar, junto à apenada, uma situação de equilíbrio corporal que considere a tanto saúde quanto o bem-estar no ambiente penitenciário. Percebe-se a importância da qualificação profissional para a abordagem dessa complexa questão pela equipe multiprofissional, visando prevenir múltiplos agravos à saúde.

Palavras-chave


Estado nutricional; Imagem corporal; Saúde da mulher; Profissional de saúde; Prisões.

Referências


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