Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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CUIDADO DE ENFERMAGEM À CRIANÇA EM SITUAÇÃO DE VIOLÊNCIA
Lyvia Maria Torres Moura Donato, Silvana de Castro Souza, Mayara Carolina Cañedo, Cristina Brandt Nunes, Maria Auxiliadora de Souza Gerk

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


Apresentação: A Organização Mundial de Saúde classifica a violência como doença decorrente de causas externas e a considera agravo à saúde global. A violência contra a criança tem crescido no Brasil, sendo a principal causa de morte na faixa etária dos 0 a 19 anos. A criança como ser humano em desenvolvimento, pode sofrer sérias consequências quando expostas a ações violentas e reproduzi-las no futuro. A violência diminui a qualidade de vida das pessoas e da coletividade, provocando não somente traumas físicos, mas também emocionais e, na mais grave das formas, a morte. Para enfrentamento do fenômeno é necessária a conscientização e envolvimento de toda a sociedade.  O envolvimento dos profissionais de saúde, em especial do enfermeiro, vai muito além de tratar as lesões visíveis. Além disso, por meio da educação pode-se efetivamente implementar o cuidado, desde que haja preparo da equipe e abordagem de toda a família da criança que sofreu violência. Pretende-se nesse estudo “identificar a produção científica atual sobre os cuidados de enfermagem à criança em situação de violência”. Metodologia: Trata-se de uma revisão integrativa, pesquisa bibliográfica exploratória descritiva e analítica de artigos de periódicos científicos indexados da enfermagem que responderam à questão norteadora: “O que a produção científica atual tem evidenciado sobre os cuidados de enfermagem à criança em situação de violência? ”. A revisão integrativa é um método de pesquisa que, no Brasil, ainda possui um número carente de publicações, facilita a incorporação de evidências reconhecidas e promove o acesso rápido aos resultados relevantes de pesquisas, os quais fundamentam as condutas ou tomada de decisão. Realizou-se a busca de publicações nas bases de dados Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval Systems Online (MEDLINE), Base de dados da Enfermagem (BDENF), Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e Public Medline/Publisher Medline (PUBMED) com os descritores: “violência infantil”, “cuidado da criança” e “enfermagem”. A busca resultou em 143 artigos. Aplicou-se os critérios de inclusão: textos disponíveis na íntegra nas bases de dados, publicados de 2010-2015, nos idiomas inglês, português e espanhol e publicados no formato “artigo”, resultando em 24 artigos. Em seguida, aplicou-se os critérios de exclusão: artigos repetidos e os que, após leitura textual do título e resumo não respondiam à questão norteadora. Dos 24 estudos restaram dez artigos que contemplavam o objetivo e tornaram-se objetos desse estudo. Realizou-se leitura com análise e classificação dos dados, utilizando instrumento de categorização que permitiu registrar e agrupar as seguintes informações: idioma, base de dados, ano de publicação, título, autor, periódico, Qualis, descritores ou palavras-chave, tipo de estudo, objeto de estudo, justificativa, objetivo, metodologia, local de realização do estudo, temas abordados, principais dados abordados na discussão, cuidados de enfermagem propostos, considerações finais e propostas apresentadas pelos autores. Resultados: Foram estudados 10 artigos, sendo 8 disponíveis apenas em português e 2 em português e inglês, disponíveis nas de dados BDENF e LILACS e publicados em periódicos com Qualis A2 até B3, sendo a maioria do ano 2010. Os principais temas abordados foram: cuidados de enfermagem e violência; qualificação do enfermeiro no atendimento às vítimas de violência e educação profissional; cuidado em equipe multidisciplinar; sequelas físicas e psicológicas e vulnerabilidade infantil; Sistematização da Assistência de Enfermagem; redes de proteção à criança e perfil dos atendimentos. A violência é um fenômeno multicausal e não pode ser compreendida ou enfrentada isoladamente, suas práticas de cuidado exigem enfoque sistêmico com articulação em redes para serem resolutivas.  A enfermagem deve se perceber integrante desta rede e corresponsável pelo cuidado infantil na prevenção e enfrentamento da violência. O acolhimento, reconhecimento de sinais, notificação, tratamento, seguimento das vítimas e famílias, registros, planejamento de ações em saúde com equipes multiprofissionais e organização dos serviços de referência e contrarreferência, associados à articulação com o Conselho Tutelar e o Serviço de Assistência Social são elementos fundamentais e necessários para uma assistência integral à criança, produto de um trabalho em saúde interdisciplinar e intersetorial. O enfermeiro é o profissional qualificado para atuar na assistência à criança vítima de violência, proporcionando suporte emocional à vítima e à família. Os artigos selecionados evidenciaram que o enfermeiro deve prestar cuidados aos envolvidos, mantendo as seguintes prerrogativas: atuar de forma sistêmica no enfrentamento do problema, compreendendo o ciclo da violência na realidade da criança; articular-se com a rede de proteção contra a violência, reconhecendo ações que interconectem os diferentes profissionais e instituições; fornecer atuação qualificada: prestar cuidados físicos e suporte psicossocial com base ética e legal, estabelecer vínculo com a pessoa que levou a criança, fortalecer o denunciante; realizar o processo de enfermagem; ter conhecimento científico e competência clínica, ser tranquilo, ágil, de raciocínio rápido, de forma a adaptar-se imediatamente em diferentes situações, perceber detalhes e ouvir as queixas de dores não faladas; atuar com competência técnica científica, ética e legal; comunicar as ocorrências aos órgãos de proteção à criança, como o Conselho Tutelar, a Promotoria Pública e o Juizado da Infância e Adolescência; cumprir o Estatuto da Criança e do Adolescente: identificar, notificar a situação de maus-tratos e buscar formas para proteger a vítima e apoiar a família; desenvolver ações de prevenção da violência como Educação em saúde e criação de vínculo criança-família desde o pré-natal e puericultura; Sensibilizar-se de que é corresponsável pelo enfrentamento do fenômeno. Os artigos ainda propõem: busca de novas possibilidades de atuações em redes, realização de campanhas sobre a importância da denúncia e qualificação permanente do enfermeiro e equipe multidisciplinar sobre a violência infantil. Considerações Finais: A violência é problema de saúde pública que deve ser enfrentada pelo enfermeiro inserido em equipe multidisciplinar e em articulação com a rede de proteção à criança. Apesar de elementos insuficientes para lidar com a complexidade do fenômeno, observa-se a preocupação do enfermeiro em compreendê-lo e enfrentá-lo. O estudo permitiu evidenciar as condutas e cuidados do enfermeiro frente à violência contra a criança e a importância da competência técnica, científica e legal para abordar o fenômeno em sua prevenção, tratamento e apoio no enfrentamento do problema.

Palavras-chave


violência; criança; cuidados de enfermagem; enfermagem

Referências


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