Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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CONSTRUÇÃO DO SABER COLETIVO: os encontros e a sua importância para a formação em Enfermagem
Daniela Aparecida dos Santos, Carine Vendruscolo, Daiana Kloh, Denise Antunes Azambuja Zocche, Iselda Pereira, Karine Pereira Ribeiro, André Lucas Maffissoni, Jean Wilian Bender

Última alteração: 2015-10-19

Resumo


APRESENTAÇÃO: Os indivíduos, a partir de suas experiências e vivências, passam a construir conhecimentos e desenvolver competências próprias. Assim quando um grupo está envolvido por um mesmo contexto e com um mesmo objetivo, os saberes dos indivíduos podem ser oferecidos de modo valioso para o desenvolvimento das ideias. Todas as formas de conhecimento se tornam fundamentais, nada se perde e a pluralidade das competências pode ser explorada como meio de fortalecimento, troca de conhecimentos e enriquecimento mútuo, criando-se assim, a inteligência coletiva¹. Construir com os outros é mais complexo que fazê-lo só. O tempo e as tarefas cotidianas vão deslocando a energia da criação para uma zona de conforto, e a repetição e a queixa da falta de tempo preenchem o dia e a noite. Deixar o comodismo e o conforto para produzir e construir de forma coletiva significa abdicar da autoria, dos manuais, das dificuldades e encontrar o tempo fazendo-o². Tendo em vista que o aprender coletivamente é um ato primordial para o desenvolvimento de um futuro profissional apto a trabalhar em equipe, e imbuído de características acerca de quesitos como comunicação, criatividade, responsabilidade e facilidade de relacionar-se com as diferenças, o presente trabalho tem como objetivo relatar a experiência de um grupo de orientação coletiva e de estudos sobre educação em saúde, formado por estudantes e professores do Curso de Graduação em Enfermagem da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). METODOLOGIA: Docentes e discentes de diferentes fases do Curso de Enfermagem da UDESC reúnem-se, quinzenalmente, para o compartilhamento coletivo de produções acadêmicas realizadas no âmbito da pesquisa, do ensino e da extensão. O grupo foi batizado como “Grupo de Orientação Coletiva: Formação e Educação em Saúde e Enfermagem”. Os temas das produções estão relacionados com os processos de educação e formação em Saúde e Enfermagem. Dentre os referenciais que sustentam as discussões do grupo estão as obras de Paulo Freire³, dentre outros autores, da área da educação e da saúde. Os encontros são mediados por professoras que ministram conteúdos relacionados à temática e que fazem parte do Grupo de Pesquisa: Estudos sobre Saúde e Trabalho (GESTRA). As produções resultantes configuram-se como Trabalhos de Conclusão de Curso (TCC), os quais compõem pesquisas e projetos de intervenção, ações extensionistas e iniciativas voltadas ao aprimoramento do ensino. Na medida em que os estudantes demonstram interesse e envolvimento com a temática, alguns passam a compor a iniciação científica, sendo vinculados ao Grupo de Pesquisa. O objetivo de propor essa metodologia foi para que pudesse haver o compartilhamento de ideias baseado na experiência de cada indivíduo, visando a construção e fortalecimento das potencialidades e identificação e também o melhoramento das fragilidades de cada produção. Neste formato, há a quebra da hierarquização de conhecimentos, sem distinção entre aluno e professor ou entre alunos de fases do curso mais ou menos avançadas, portanto, todas as contribuições são válidas, discutidas e posteriormente avaliadas. Esse modelo permite a interação entre os indivíduos e a inserção de novas percepções e meios contributivos. RESULTADOS: Se desejarmos formar profissionais participativos e transformar a academia em um espaço de discussão e construção de saberes, a orientação, focada apenas na exposição de determinado conhecimento pelo professor e no aprendizado do aluno, restrito somente ao que é exposto nas disciplinas e conteúdos ministrados em sala de aula, torna-se obsoleto e descontextualizado o profissional que se deseja formar. As Diretrizes Curriculares para os Cursos de Graduação em Saúde e Enfermagem preveem a formação de profissionais críticos, reflexivos e participativos, sendo estes sujeitos de seus processos de aprendizagem e preocupados no aprofundamento e compartilhamento de conhecimentos. Esse tipo de abordagem participativa, direcionada ao emprego dos conhecimentos de forma a compreender o contexto dos discentes e docentes, e, habitualmente voltado aos princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS)4, se faz necessária na formação de estudantes da área da saúde. Os discentes que, em sua formação, já começam a ter contato com práticas coletivas por via de discussões em grupo sobre determinados assuntos, estarão mais preparados para se inserir em uma forma de gestão do Sistema, tendo o perfil adequado para tanto. Além disso, a Enfermagem é uma profissão coletiva e que atua para o coletivo; o profissional gerencia e lidera a equipe, deve elaborar planos de cuidados, faz promoção e prevenção em saúde na comunidade, visa o bem-estar profissional e pessoal da equipe e população em que está inserido. Nesse sentido, considera-se como potencialidade do Grupo de Orientação Coletiva a possibilidade do encontro entre docentes e discentes que possuem interesses comuns em termos de produção acadêmica, voltada à formação do enfermeiro apto ao trabalho para a atenção às necessidades da comunidade e à qualificação do SUS. Para além, as discussões fomentam o desenvolvimento de habilidades metodológicas mais ativas, permitindo aos indivíduos serem sujeitos e protagonistas do processo de construção do conhecimento. CONSIDERAÇÕES FINAIS: No intuito de formar profissionais crítico-reflexivos, com potencial para atuar de acordo com as diretrizes do SUS, é necessário que se permitam construções coletivas, pautadas no diálogo, desde o início da graduação, trazendo estes acadêmicos para perto da realidade que encontrarão quando se depararem com a prática em saúde, exercitando os mais diferentes encontros com a diversidade e pluralidade de opiniões. A construção da inteligência coletiva do grupo em questão tem ajudado acadêmicos das fases iniciais a se incluírem no mundo das produções científicas, como também vem fazendo com que os acadêmicos das fases mais avançadas possam praticar e desenvolver o olhar científico em seus conhecimentos. É essencial para a vida futura do acadêmico que o mesmo saiba praticar métodos de pesquisa e também, discorrer sobre assuntos algumas vezes, de conhecimento empírico, e debater coerentemente. O estímulo ao debate e ao relacionamento social entre acadêmicos de diversas fases, e diferentes opiniões, contribui ao desenvolvimento crítico e social do estudante, além de fazer com que o mesmo, desperte um olhar ético relacionado aos temas debatidos, e às diversas formas de analisar determinados assuntos. Contribuir na formação de futuros profissionais comprometidos ao trabalho em equipe, respeitando os pareceres éticos e individuais de cada um, tem por consequência um trabalho de qualidade, e uma assistência em saúde coletiva, com olhares interdisciplinares e comprometidos com a integralidade do cuidado.

Palavras-chave


Educação Superior; Enfermagem; Orientação;

Referências


1Bembem,Ângela Halen ClaroSANTOS, Plácida Leopoldina Ventura Amorim da Costa. Inteligência coletiva: um olhar sobre a produção de Pierre Levy. Perspectivas em Ciência da Informação , Belo Horizonte, v. 18, n. 4, p. 139-151, out./dez. 2013.

 

2EPS EM MOVIMENTO. Entrada, Apresentação. 2014. Disponível em: <http://eps.otics.org/material/entrada-apresentacao/entrada-apresentacao/>. Acesso em: 07 set. 2015.

 

3 Freire P. Pedagogia do oprimido. 41 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005, 213 p

4 Brasil. Lei nº 8080, de 19 de setembro de 1990: dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes e dá outras providências. Diário Oficial da União; 20 de setembro de 1990.