Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A fragmentação do tema violência nos conteúdos trabalhados em cursos da área da saúde: revisão da literatura
Carine Vendruscolo, Daiana Kloh, Elisangela Argenta Zanatta, Lucinéia Ferraz, Thais Cristina Hermes, Jean Henrique Kruger, Peterson Luiz Duarte, Sônia Dalmagro

Última alteração: 2015-10-19

Resumo


Apresentação: a violência está presente no processo de evolução da sociedade desde os tempos mais antigos e, de diferentes maneiras, sempre causou e ainda vem causando danos à população. A área da saúde tem grande responsabilidade quanto à atenção relacionada à violência, por estar em contato com a vítima e com o agressor. A Organização Mundial da Saúde (OMS) conceitua a violência como o uso intencional da força, poder ou ameaça contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo, com possibilidade de resultar em lesão, privação, dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou morte (KRUG et al., 2002). Dentre os diferentes espaços da sociedade em que está presente a violência, inclui-se o meio acadêmico, em que as relações interpessoais podem gerar conflitos. Nesse âmbito, se manifesta por meio de comportamentos agressivos dos acadêmicos entre si e com os professores, por vezes, configurando-se desde a forma mais abstrata até as mais visíveis. Embora ela esteja presente nos processos pedagógicos, não é totalmente percebida, provavelmente pela reprodução hierárquica, socialmente construída e mantida por docentes e discentes (CRUZ; PEREIRA, 2013). Objetivou-se analisar estudos que tratam do tema violência e sua expressão em produções no âmbito da formação em saúde, publicados no Brasil, para posterior pesquisa de campo com docentes de Universidades públicas com cursos de Enfermagem. Metodologia: para o presente trabalho, foram analisados oito estudos encontrados na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), os quais tratam da fragmentação do tema violência nos conteúdos trabalhados em cursos da área da saúde. Desenvolvimento: em relação aos estudos analisados, nota-se considerável atenção ao tema violência nas escolas médicas americanas, inclusive durante a residência, o que favorece a aproximação dos conteúdos teóricos com a prática. Nessa direção, apresentam diferentes possibilidades para a incorporação da violência entre parceiros sexuais às grades curriculares, como por exemplo o currículo baseado em problemas. Essa estratégia retoma o conteúdo a partir das necessidades da prática, além de valorizá-lo. Os autores chamam a atenção para a evidência de que os estudantes que receberam formação sobre essa temática se sentem mais capazes para reconhecer vítimas de violência sexual. Os estudos sinalizam um considerável distanciamento da temática violência contra a mulher com as grades curriculares de cursos da saúde. Essa falta de abordagem, na ótica dos autores, se traduz em falta de preparo profissional para atuação no Sistema Único de Saúde (SUS), sobretudo, na perspectiva emancipatória e intersetorial, pois a atenção à saúde tende a ser fragmentada e verticalizada – cada categoria profissional vê de um modo a condução do problema. Além da abordagem frágil, esse olhar fragmentado caracteriza também uma abordagem muito técnica ao problema. Nesse sentido, vale lembrar que o alto investimento em adequação da rede física, tecnológica, de medicamentos e de insumos, quando descolado do adequado preparo e envolvimento dos profissionais da saúde com a proposta do SUS não é uma estratégia eficiente para consolidar a Política de Saúde do Brasil. Pensando nisso, o Ministério da Saúde (MS) tem apostado em parcerias, associadas à abordagem integral do processo saúde-doença, com ênfase na Atenção Básica à saúde. Uma dessas parcerias, com o Ministério da Educação, resultou no Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde (Pró-Saúde), lançado em 2005, por meio da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (SGTES). O Pró-Saúde tem a integração ensino-serviço como essência, a partir de movimentos de aproximação da Instituição de Ensino Superior (IES) com os serviços públicos de saúde, bem como da fundamentação na realidade socioeconômica e sanitária da população brasileira (BRASIL, 2007a). O Programa é considerado como uma das ações estruturantes de reorientação da formação profissional em saúde, estratégias essenciais para transformar o modelo de aprendizado conteudista e fragmentado e o modelo de atenção à saúde biologicista, ainda hegemônicos no país. Os estudos, ainda, chamam a atenção para a fragilidade do ensino e também da rede de suporte e atenção à saúde, no que tange a violência à criança. Os autores consideram urgente pensar estratégias que contemplem a qualificação dos profissionais implicados na atenção. Referem que uma das possibilidades que se vislumbra é discutir casos no âmbito da equipe multiprofissional de saúde e ampliar as discussões éticas sobre as temáticas, nos processos educativos – formação e educação permanente. A abordagem precária, limitada a algumas disciplinas, deixa o estudante inseguro e com a sensação de despreparo para atuar na prática. Os autores recomendam a aproximação da gestão, do serviço e das IES, a fim de redirecionar currículos e demandas de educação permanente e/ou continuada. Anterior ao Pró-Saúde e outras ações estruturantes de reorientação da formação, já pensando em aproximar gestão, atenção, ensino e controle social, no âmbito dos processos educativos em saúde. Desde 2004 MS vem implementando a Política de Educação Permanente em Saúde (PNEPS) como ferramenta fundamental na construção de práticas democráticas de gestão do trabalho, a fim de garantir a qualidade do cuidado prestado, o acesso e a cobertura universal de saúde (BRASIL, 2007b). O envolvimento recíproco entre os segmentos ensino e serviço, na perspectiva da construção e desenvolvimento de propostas conjuntas no âmbito da formação e desenvolvimento profissional na área da saúde, torna possível a integração entre teoria e prática, a serviço da reflexão e da transformação da realidade (práxis). A partir desses pressupostos, elabora-se a educação problematizadora, num esforço permanente, em que os sujeitos se percebem criticamente no mundo, buscando soluções adequadas e comprometendo-se com a resolução dos problemas encontrados (FREIRE, 2005; 2006). Considerações Finais: diante de sua vasta abrangência na sociedade, considera-se baixo o número de artigos encontrados sobre a abordagem da violência na formação em saúde, além disso, o perfil das publicações encontradas centra-se apenas nas áreas de enfermagem, odontologia e medicina. Por estes motivos entende-se como importante a realização de pesquisas nesta área, independente da categoria profissional para melhor compreensão do tema. A violência emerge como temática que carece de atenção prioritária no processo de formação em saúde, sobretudo, quanto a problematização da temática na grade curricular como um tema transversal e no fortalecimento de apoio pedagógico aos docentes a fim de sensibilizar para a integralidade das ações à vítima e agressor. Nesse sentido, a aproximação entre a formação e a atenção em saúde é condição sine qua non, além do envolvimento de outros setores, com vistas às mudanças desejadas no ensino dos profissionais de saúde, refletindo na qualificação da prática. Ressalta-se a Educação Permanente e outras iniciativas interministeriais como dispositivos importantes para o adequado encaminhamento de questões como a violência que, além do difícil manejo, são problemáticas que refletem as necessidades emergentes da população brasileira. Entende-se por isso, a necessidade de estudos que sigam esta direção, especificamente relacionados à formação de profissionais com relação à temática violência.  

Palavras-chave


Violência; Ensino; Enfermagem

Referências


BRASIL. Ministério da Saúde. Ministério da Educação. Programa Nacional de Reorientação da Formação Profissional em Saúde – Pró-Saúde: objetivos, implementação e desenvolvimento potencial. Brasília: Ministério da Saúde; 2007a. 86 p. (Série C. Projetos, Programas e Relatórios).

 

BRASIL. Ministério da Saúde. Portaria GM/MS no 1.996/07, de 20 de agosto de 2007. Dispõe sobre as diretrizes para a implementação da Política Nacional de Educação Permanente em Saúde. [documento internet] 2007b. Disponível em: . Acesso em: 25 mar. 2012.

 

CRUZ, G.V., PEREIRA, W.R. Diferentes configurações da violência nas relações pedagógicas entre docentes e discentes do ensino superior. Revista Brasileira de Enfermagem, Brasília, v. 66, n. 2, p.241-250, abr. 2013. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/reben/v66n2/14.pdf>. Acesso em: 08 out. 2014.

 

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 41. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005, 213 p.

 

FREIRE, P. Extensão ou Comunicação. 13. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006, 93 p.

 

KRUG,  E.G., DAHLBERG, L.L., MERCY, J.A., ZWI, A.B., LOZANO, R., editors. World report on violence and health. Geneva: WHO; 2002.