Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL ÁLCOOL E OUTRAS DROGAS SOB A ÓTICA DO USUÁRIO: subsídios para a qualificação da consulta de enfermagem
Débora Biffi, Cintia Nasi

Última alteração: 2015-12-03

Resumo


Este estudo teve como objetivo compreender as expectativas dos usuários sobre as ações dos enfermeiros de um Centro de Atenção Psicossociais Álcool e outras Drogas (CAPSad). Trata-se de um estudo qualitativo, que utilizou o referencial teórico-metodológico da sociologia fenomenológica de Alfred Schutz. Existe uma relevância perceptível ao considerar, e tentar compreender, a essência humana durante o desenvolvimento do cuidado das pessoas durante o trabalho de enfermagem. A busca incessante por novas maneiras e métodos de olhar o cuidado justifica a adoção da investigação qualitativa com abordagem da fenomenologia social de Alfred Schützna Enfermagem (JESUS et al., 2013). A enfermagem, quanto ciência, necessita ampliar o olhar aos pacientes de saúde mental para possibilitar o desenvolvimento de um cuidado efetivo nesta área. Os participantes do estudo foram 15 usuários em tratamento no CAPSad do Grupo Hospitalar Conceição de Porto Alegre, os quais foram escolhidos por conveniência. Os usuários foram convidados a participar do estudo no próprio serviço. Posteriormente, as entrevistas foram agendadas de acordo com a disponibilidade do usuário e realizadas no próprio CAPS. A equipe de funcionários do CAPS auxiliou no convite aos usuários e na sua abordagem. Os critérios de inclusão utilizados para a coleta das informações foram: usuários em tratamento no CAPS com idade igual ou superior a 18 anos, que estejam em tratamento há, pelo menos, 3 (três) meses, Os Critérios de exclusão adotados foram: usuários com agudização dos sintomas que dificultassem a comunicação verbal no momento da entrevista. A primeira parte das entrevistas gerou uma categorização dos sujeitos, onde identificamos que as idades variaram entre 30 e 60 anos, perfazendo uma idade média de 44 anos, sendo 12 do sexo masculino. De acordo com o estado civil, nove eram solteiros, quatro divorciados e dois casados. Referente ao grau de instrução dos usuários, cinco possuíam o ensino médio incompleto, dois possuíam o ensino médio completo, quatro tinham o ensino fundamental incompleto, três possuíam o ensino fundamental completo e um encontrava-se cursando o técnico de enfermagem. Posteriormente a realização das entrevistas, essas foram transcritas, realizada leitura exaustiva das falas, e início do agrupamento das falas em categorias que subsidiaram a interpretação compreensiva. Durante a análise compreensiva dos relatos, surgiram cinco categorias: Satisfação dos usuários com o CAPS; Atividades desenvolvidas no CAPS; Concepções dos usuários sobre a Enfermagem do CAPS, Concepções dos usuários sobre o Tratamento da Dependência Química e Expectativas dos usuários quanto aos enfermeiros do CAPSad e uma subcategorização: Expectativas dos usuários quanto ao estabelecimento de vínculo com os enfermeiros. Buscamos compreender com esta pesquisa as expectativas dos usuários quanto ao tratamento dos profissionais de um CAPSad, além de conhecer as expectativas dos usuários quanto ao tratamento disponibilizado pelos enfermeiros do serviço. Durante esta pesquisa, buscamos desenvolver uma escuta que fosse capaz de extrair as vivências e experiências dos usuários do CAPS que aceitaram participar do estudo e desenvolver esta mesma troca com os enfermeiros deste serviço. Tal escuta desprovida de qualquer julgamento ou preconceito com os usuários, respeitando as perspectivas da escolha metodológica desta pesquisa: a fenomenologia. A partir da união dos dados obtidos com a caracterização dos sujeitos e as expectativas dos mesmos quanto ao CAPS, ao seu tratamento e aos enfermeiros, surge a possibilidade de construir uma consulta de enfermagem voltada especificamente para os usuários deste serviço. Para a construção desta consulta buscamos levar em consideração as particularidades e sugestões que os usuários acreditavam ser importantes para o desenvolvimento do seu processo terapêutico. E somamos a esta as considerações dos enfermeiros do CAPSad III, para que deste modo a consulta de enfermagem construída pudesse ser a mais completa possível e capaz de satisfazer as necessidades dos usuários, do serviço e dos enfermeiros. A consulta de enfermagem possibilita ao enfermeiro entrevistador conhecer melhor o usuário e seus anseios, dificuldades e angústias sobre o tratamento, além disto, favorece o estabelecimento de vínculos e fortalece o desenvolvimento do plano terapêutico. As consultas de enfermagem em saúde mental tornam- se cada vez mais indispensáveis pela ampliação que esta rede vem sofrendo. E o lugar que os enfermeiros assumem nesta nova configuração da assistência em saúde mental deve ser de facilitador deste processo terapêutico e a consulta de enfermagem vem dando sustentabilidade teórica a esta ideia.  E, assim, pôde-se observar e considerar que os vínculos criados entre usuários e enfermeiros no CAPS são capazes de favorecer a efetividade do tratamento desenvolvido por possibilitar a criação de um plano terapêutico que vá ao encontro das necessidades dos usuários. É de fato observado durante a realização desta pesquisa que existe uma singularidade em cada relação enfermeiro/usuário, que apesar de se tratar do mesmo serviço, o modo de interpretar e vivenciar cada experiência é único para cada usuário e para cada enfermeiro. Tal forma de encarar as experiências do cotidiano do CAPS possibilita a cada usuário uma forma distinta e única de experimentar os processos terapêuticos, as oficinas, os grupos e as reuniões, conferindo ao CAPS a singularidade que o torna tão diferenciado dentre os tratamentos de saúde mental. O enfermeiro é peça chave no desenvolvimento de cada plano terapêutico, de cada oficina, na organização e planejamento do CAPS, entre diversas outras funções que garantem ao usuário o tratamento desejado, ou o tratamento que é possível dispensar, e também é fundamental no oferecimento do amparo, da escuta e do conforto. Ao desempenhar uma escuta livre de qualquer expressão de julgamento o enfermeiro cria um vínculo de segurança e confiança diferente em cada usuário, vínculo utilizado para assegurar uma adesão e uma maior eficiência de todo o processo terapêutico.  

Palavras-chave


Saúde mental.Fenomenologia.Usuários de substâncias psicoativas.

Referências


JESUS, Maria Cristina Pinto de et al. A fenomenologia social de Alfred Schutz e sua contribuição para a enfermagem. RevistaEscola de Enfermagem da USP, São Paulo,v. 47,n. 3, jun. 2013.

SCHÜTZ, Alfres. Collected Papers 1: the Problem of Social Reality.Netherlands: Martins Nijhoff, The Hague,1962.

 

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