Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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PSICODINÂMICA DO TRABALHO: UM ESTUDO COM PROFESSORES DA REDE PRIVADA DE ENSINO
Gabriel Luis Pereira Nolasco, Barbara Maranim Teixeira, Branca Maria de Meneses, Cleberson da Silva Alves, Ludemila dos Santos Almeida, Marinthia Cárcaro Martins

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


O trabalho do professor é caracterizado pelo exercício da docência, sendo uma das profissões mais antigas da sociedade. De fato o professor no educar, reconstrói toda a história do passado até o futuro, fazendo suas inter-relações nas diversas ciências e contribuindo para aquisição de conhecimento de seus alunos. Sabendo da importância do papel deste profissional na educação e na constituição psíquica do sujeito, e vendo como o trabalho age interferindo na saúde e vida dos indivíduos, este trabalho constitui-se num estudo que busca compreender a prática do trabalho docente de professores em uma escola privada e sua associação com a Síndrome de Burnout. A Psicodinâmica do Trabalho de Dejours surge dos estudos influenciados por Le Guillant, que desenvolveu estudos nos anos 50, o que possibilitou correlacionar o trabalho e psicopatologia. No entanto, foi com os estudos de Dejours (1992), com a publicação do seu livro, Travail: usure mentale: essai de psychopathologie du travail, em 1980, traduzido no Brasil, em 1987, com o nome de A Loucura do Trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. Para Dejours (1992) o sofrimento é campo da Psicodinâmica do Trabalho; é cheio de significação e, portanto, campo de batalha entre duas esferas do aparelho psíquico: o seu funcionamento, propriamente dito, e os mecanismos de defesa, por exemplo, a sublimação tratada na discussão. Outro fator decisivo para aqueles que estudam a Psicodinâmica do Trabalho, é que esta visa o estudo da coletividade, ou seja, no ambiente de trabalho. Diante disso, não caberia nesse sentido uma clínica voltada ao sofrimento de psíquico individual já que é neste ambiente coletivo do trabalho que esse surge. Com relação a coleta de dados, foi constituída por 14 (quatorze) professores de uma instituição privada de Ensino infantil, fundamental e médio, da cidade de Campo Grande – MS, que estão exercendo sua atividade durante o ano de 2014 e, presente durante a aplicação do inventário. Com relação ao gênero, 42,9% dos participantes foram mulheres (n=6) e 57,1% do gênero masculino. Sobre a idade: 7% entre 18 e 29anos e (n=1); 36% entre 30 e 39 anos (n=5) e 57% entre 40 e 49anos (n=8). Em relação ao estado civil: 72% dos entrevistados são casados (n=10); 21% são solteiros ou divorciados (n=3) e 7% não responderam (n=1). Sobre o grau de instrução: 72% dos participantes responderam que possuem graduação completa (n=10) e 28% dos participantes possuem pós-graduação ou mestrado (n=4). Para levantamento dos dados, utilizou-se o instrumento, auto aplicado, Maslach Burnout Inventory (MBI – ED, 1986). Este instrumento é utilizado para avaliar como o sujeito vivencia seu trabalho e é composto por 22 itens que indicam frequência de respostas, numa escala de pontuação que varia de 0 a 6, sendo 0 para “nunca”, 1 para “uma vez ao ano ou menos”, 2 para “uma vez ao mês ou menos”, 3 “algumas vezes ao mês”, 4 “uma vez por semana”, 5 “algumas vezes por semana” e 6 “todos os dias”. O MBI tem validez fatorial e consistência interna de suas escalas satisfatórias, sendo que a variável burnout foi obtida através do cálculo da média das pontuações obtidas, nas diferentes dimensões estabelecidas pelo modelo e que apontou o índice alcançado em cada uma delas. São três dimensões estabelecidas pelo modelo de Maslach: exaustão emocional, despersonalização e diminuição da realização pessoal no trabalho (Carlotto&Palazzo, 2006). Contudo, não utilizamos este padrão para analisar os dados coletados, assim como também não utilizamos todos os dados coletados e, sim, apenas os itens de maior incidência nas respostas. Os dados obtidos foram registrados em tabela, sendo esta classificada de acordo com o maior número percentual de respostas obtidas em cada item. Para análise dos dados optamos pela análise dos dados quantitativos onde, de modo geral, verificamos as relações existentes entre as diversas variáveis possíveis. Para Dejours (1992, p. 11) “ falar da saúde é sempre difícil. Evocar o sofrimento e a doença é, em contrapartida, mais fácil: todo mundo o faz”. Ou seja, a necessidade de se estudar a Psicodinâmica do Trabalho nasceu a medida que Dejours et al. sentiram que existia um sofrimento psíquico decorrente das relações de trabalho que encontra –se a classe trabalhadora. Já em relação Homem – Trabalho, Dejours (1992) deixa claro que são três as questões primordiais que corroboram para o surgimento da doença: a) o trabalhador – o organismo, não é uma máquina e, sim, pode adoecer; b) o trabalhador possui uma história e logo uma identidade, desejos, aspirações que, consequentemente, o faz um ser singular mesmo estando em um ambiente coletivo; c) por se tratar de um ser uno, com desejos e motivações por conta da sua história de vida, são características que se apresentam como estrutura da personalidade. Ou seja, diante disso será que no ambiente de trabalho todos os desejos, motivações, aspirações são desenvolvidas? Será que no espaço do mundo do trabalho há lugar para a singularidade? Caso não haja tal equilíbrio entre singularidade e a coletividade o aparelho psíquico pode não aguentar e pode criar saídas, como o sofrimento. Diante desse levantamento teórico sobre os conceitos básicos: subjetividade e sublimação, que alicerçam a psicodinâmica do trabalho iniciaremos uma discussão sobre os resultados obtidos através dos questionários aplicados em professores e correlacioná-los com a teoria proposta. Em primeira instância, chamou-nos atenção o fato de nossos resultados terem deflagrado contradição ao que vem sido evidenciado na literatura, por exemplo, os resultados obtidos por Carlotto&amp e Palazzo (2006) onde foi apontada a possibilidade da síndrome de burnout na população docente. Os mesmos autores reafirmam que expectativas familiares, mau comportamento dos alunos, e falta de participação nas decisões institucionais são os fatores com maiores índices de estresse para categoria. No entanto, é de suma importância salientar que a despersonalização é fator primordial para que a síndrome desencadeie, já que a exaustão emocional e o baixo rendimento profissional podem estar associados a outras síndromes e não, exclusivamente, ao burnout. Com isso os dados obtidos suscitam uma divergência e para explicar tal levantamento elencamos algumas hipóteses: a) os participantes da pesquisa terem resguardado informações; b) as condições ambientais de trabalho dos pesquisados são favoráveis aos trabalhadores, permitindo assim a elaboração de estratégias defensivas e os processos sublimatórios inibindo o desencadeamento da síndrome. Contudo, acreditamos que a teoria dejouriana dá conta de explicar, por meio de sua metodologia a aparente divergência apresentada em nossos dados, apesar de não termos aprofundado na investigação dos dados, acreditamos que este trabalho dá subsídios para um estudo introdutório sobre a temática.

Palavras-chave


Professores, Trabalho, Psicodinâmica do Trabalho

Referências


Carlotto, M. S., &Palazzo, L. S. (2006). Síndrome de burnoute fatores associados: um estudo epidemiológico com professores. Cad. Saúde Pública, 22 (5), 1017-1026.

Dejours, C. (1980). A carga psíquica do trabalho. In M. I. Stocco (Coord.), Psicodinâmica do trabalho: contribuições da escola dejouriana a análise da relação prazer, sofrimento e trabalho (2007) (pp. 21-32). São Paulo: Atlas.

Dejours, C. (1992). A loucura do trabalho: estudo de psicopatologia do trabalho. São Paulo: Cortez-Oboré.