Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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EFEITOS DA INTERVENÇÃO CINESIOTERAPÊUTICA E PEDAGÓGICA SOBRE A INTENSIDADE DA DOR E DESCONFORTO CORPORAL EM TRABALHADORES RURAIS NA ATIVIDADE LEITEIRA
Themis Goretti Moreira Leal de Carvalho, Angélica Facco, Victória Medeiros da Rosa, Priscila Rodrigues da Silva, Daisiane Cazarotto, Susana Cristina Domenech, Lincoln Silva, Noé Gomes Borges Júnior

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


Introdução   A atividade leiteira rural está frequentemente associada a queixas relacionadas às dores em segmentos da coluna vertebral e membros, essas queixas impactam na produtividade do sujeito que na maioria diminuem sua produtividade (SEHNEM, 2011). Estudos epidemiológicos têm indicado que o trabalho agrícola (mais especificamente a atividade da ordenha) compreende uma ocupação de alto risco com relação as DORT, pois a maior parte do trabalho está associada com levantamento e transporte de carga pesada, adoção de posturas inadequadas e uma exposição a vibrações de ferramentas. Além disso, o trabalho agrícola possui movimentos repetitivos, particularmente durante a ordenha, e a organização do trabalho e equipamentos são muitas vezes tradicionais em seus projetos (TONIAL, 2004). O estudo tem como objetivo geral reconhecer as principais lesões e desconfortos osteomioarticulares, nos produtores rurais envolvidos na atividade leiteira, desenvolvendo ações de proteção, promoção e reabilitação da saúde desses trabalhadores. Material e Métodos: A pesquisa é um processo descritivo transversal, no qual o compromisso da EMATER, REDE LEITE, UDESC e UNICRUZ foram o alicerce fundamental de sua trajetória metodológica. Caracteriza-se por ser do tipo descritivo com delineamento transversal (GIL, 2010), sendo desenvolvida em parceria com o Programa em Rede de Pesquisa-Desenvolvimento em Sistemas de Produção com Pecuária de Leite no Noroeste do Rio Grande do Sul. A população contemplada totaliza 23 trabalhadores rurais de pequenas propriedades dos municípios de Boa Vista do Cadeado/RS, Boa Vista do Incra/RS, Catuípe/RS, Cruz Alta/RS, Fortaleza dos Valos/RS, Pejuçara/RS e Santa Barbara do Sul/RS, vinculadas a EMATER, e que realizam atividade de ordenha de leite. As coletas dos dados (antes e após programa de Oficinas Pedagógicas e prática de exercícios físicos diários - Cinesioterapia Laboral) foram na Clínica de Fisioterapia no campus da universidade- UNICRUZ. Para a coleta de dados utilizamos os seguintes procedimentos: 1º) Aplicação do Questionário do Trabalhador adaptado de Moraes, 2002, constituído de questões fechadas e abertas, que tem como objetivo levantar dados específicos, dados pessoais e as condições de trabalho; 2º) Aplicação do protocolo de Avaliação de Desconforto nas Partes do Corpo (DPC) de Corlett e Manenica, 1980 – modificado. A escala divide o corpo humano em segmentos e para cada um deles os sujeitos do estudo assinalaram com um “X” a parte do corpo em que sentem um nível de desconforto (dor constante), leve desconforto (dor esporádica) e conforto (sem dor).   Resultados e Discussões O grupo de mulheres (n=12) tem idade média de 51,17±4,82 anos, e o de homens (n=11), 51,27±4,54 anos. Foi implantado por 4 meses, com o grupo pesquisado, um Programa de Cinesioterapia Laboral planejado, orientado e supervisionado, visando buscar além dos benefícios físicos em si (respiração, alongamento muscular e melhor oxigenação), momentos de descontração, e um desligamento momentâneo dos problemas e posturas exigidas pelo trabalho. Com referência às dores e desconfortos no pescoço e ombro, constatamos que tanto os homens quanto as mulheres relataram sentir menos dores da primeira para a segunda avaliação. Enfatizando que as mulheres se sobressaíram na involução das dores no pescoço, já nos ombros alguns homens haviam relatado sentir uma dor constante na primeira avaliação, em contrapartida na segunda esta dor passou a não existir mais. Os braços e antebraços, são um dos membros mais afetados também, pelo fato de estarem sempre em movimento em qualquer AVD ou atividade física que for realizada. Como as dores esporádicas e constantes eram elevadas tanto no gênero masculino quanto no feminino na primeira avaliação, e na segunda nenhum homem relatou ter alguma dor constante e as mulheres reduziram expressivamente o índice de dor constante e esporádica. O mesmo ocorreu no antebraço, pois as dores nos homens e nas mulheres eram de esporádicas a constantes, e na segunda avaliação, o gênero masculino relatou não sentir mais dores constantes, passando a estar em sua maioria sem dores, e algumas mulheres ainda relataram ter dores constantes, porém boa parte delas relatou que não sentiam mais dores e desconfortos como antes do programa cinesioterapêutico e das oficinas pedagógicas. Os equipamentos e máquinas agrícolas são muitas vezes projetados para os requisitos físicos e capacidades do homem. Porém, a pesada carga de trabalho das mulheres empenhadas em certos tipos de trabalho rural é muitas vezes desproporcional a sua capacidade física. Além disso, as mulheres que estão envolvidas em várias tarefas em uma propriedade rural, também realizam os serviços domésticos como, por exemplo, o preparo de refeições ou lavagem de roupas, que poderiam agravar os problemas musculoesqueléticos (ULBRICHT, 2003). Para ambos os sexos, as dores do punho apresentaram melhora, reduzindo significativamente as dores esporádicas e constantes, sendo que grupo do gênero masculino relatou (100%) ausência de dores/desconfortos após a intervenção. As mulheres demonstraram ter mais algias, fato comprovado pela dupla jornada de trabalho que elas exercem (AVD’s e a atividade leiteira), aumentando assim os fatores de risco. A região lombar foi a mais comprometida em ambos os gêneros, pelo fato das posturas inadequadas durante as atividades do dia a dia. Tomando como exemplo, quando um produtor usa um banquinho muito baixo para sua estatura, acaba acarretando dores na região lombar e joelhos também. Percebe-se que os produtores obtiveram uma melhora na sintomatologia dolorosa após a participação nas Oficinas Pedagógicas e realização de exercícios laborais durante três meses em ambos os gêneros. A redução das dores esporádicas e constantes foi significativa, aumentou o número de pessoas que não sentem dores. Conclusão:   Poder criar uma condição mais saudável à saúde da família trabalhadora rural envolvida na ordenha leiteira é uma realidade e necessidade fundamental. Uma vez que, a diminuição de sua produção resulta em um impacto econômico na renda familiar dos mesmos e em todo país, gerando grandes transtornos. Com a prática de cinesioterapia laboral diária e realização de oficinas pedagógicas de educação e saúde, promovemos um auxílio no alívio da sintomatologia dolorosa dos produtores leiteiros, causadas por desgastes e posturas incorretas adotadas no dia a dia no campo, durante anos exercendo a profissão. Pequenas adequações do ambiente de trabalho e da forma como os trabalhadores desenvolvem as suas atividades motoras e a realização de um programa cinesioterapêutico, podem reduzir significativamente a presença de dores e desconfortos corporais, trazendo assim mais qualidade de vida para os trabalhadores.

Palavras-chave


Trabalhador rural. Atividade leiteira. Desconfortos corporais. Educação em saúde.

Referências


GIL, A.C. Como elaborar projetos de pesquisa. 5 ª ed, São Paulo: Atlas, 2010.

 

SEHNEM, E. As relações das posturas corporais e idosos e o histórico no trabalho rural. Dissertação apresentada ao programa de pós-graduação em Ambiente e Desenvolvimento do Centro Universitário UNIVATES. Lajeado, 2011.

 

TONIAL, A. Avaliação da Prevalência, Perfil e Sintomatologia dos Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho em Membros Superiores nos Ordenhadores da Grande Florianópolis. Dissertação de Mestrado em Engenharia de Produção da Universidade Federal de Santa Catarina. Florianópolis, 2004.

 

ULBRICHT, L. Fatores de Risco Associados à Incidência dos DORT entre Ordenhadores em Santa Catarina. Tese de Doutorado apresentada ao Curso de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, UFSC. Florianópolis, 2003.