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A organização de conhecimentos oriundos de várias áreas da ciência, tendo a atividade clínica relacionada à doença e ao sofrimento mental como o centro, forma o grande campo que se convencionou chamar de saúde mental. O cuidado em saúde mental, quando realizado em contextos que incluem a concepção do processo saúde-doença como multideterminado necessita de novos suportes teóricos. O campo da saúde mental, marcado pelo concurso de diferentes disciplinas que fazem face à complexidade do seu objeto, exige a necessária revisão dos processos de trabalho e organização dos serviços onde se processa o atendimento. São diversas as funções que devem ser assumidas pelos profissionais que atuam ou preparam-se para atuar nesse campo. A análise dos currículos dos cursos de graduação dos profissionais que mais comumente compõem o campo da atenção à Saúde Mental evidencia a distância entre os processos formadores e as exigências da prática. Uma das consequências são profissionais com dificuldades para desenvolver a clínica e/ou a gerência nas instituições e serviços públicos. Atualmente a Reforma Psiquiátrica brasileira no contexto do SUS é marcada pela implantação das Redes de Atenção Psicossocial, substituição do modelo de atenção asilar e implantação de Centros de Atenção Psicossocial, regulamentados pela Portaria GM 336/2002. Os CAPS assumem especial relevância no cenário das novas práticas em saúde mental no País. Essa mudança paradigmática deve englobar a relação que se estabelece com o usuário, equipe, família, a comunidade e o território. O objeto de intervenção torna-se mais complexo, interdisciplinar e as práticas e os saberes tradicionais devem ser reconstruídos para responder a essa transformação. O Ministério da Saúde preconiza que esses serviços tenham papel articulador e que trabalhem em Rede: Atenção Básica, Estratégia da Saúde da Família; urgências e emergências; leitos de psiquiatria em hospital geral; estratégias de desinstitucionalização nos Serviços Residenciais Terapêuticos e estratégias de reabilitação psicossocial nos projetos de geração de renda na perspectiva da Economia Solidária. A Portaria Nº 3.088, de 23 de dezembro de 2011, da Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) no âmbito do SUS, traz para a pauta a reflexão sobre a formação de profissionais para atuarem na lógica das Redes de Atenção. A formação de profissionais por meio de educação permanente, a articulação com outros segmentos da sociedade civil e a regulação da RAPS são alguns dos desafios que se fazem presentes no cenário atual. Compete aos profissionais de saúde o cuidado integral ao indivíduo, família e comunidade, isto é, o planejamento, a execução e gestão de todas as ações em saúde para viabilizar o cuidado de acordo com as diretrizes apontadas acima. Assim, faz-se necessário o desenvolvimento de programas para fortalecer a formação clínica e de investigação para o mundo do trabalho, visando o aperfeiçoamento da assistência. Tais Programas, no âmbito do lato sensu e stricto sensu, podem ser especializações, residências, mestrado profissional, mestrado e doutorado acadêmicos. O papel do mestrado e doutorado acadêmicos para a formação em pesquisa é bem estabelecido nas áreas profissionais da saúde, mas há grande carência de cursos para o aprimoramento para o mundo do trabalho, como Residências Multiprofissionais e Mestrados Multiprofissionais. A proposta do presente Programa de Residência Multiprofissional visa instrumentalizar os profissionais da saúde para responderem às necessidades de saúde da população com conhecimentos e práticas clínicas aprimoradas. Este Programa de Residência Multiprofissional em Saúde Mental tem como objetivo preparar profissionais para o exercício de prática profissional nos diversos Pontos de Cuidados de uma Rede de Atenção Psicossocial da Coordenadoria de Saúde Oeste do Município de São Paulo. O Profissional Residente adquirirá habilidades para prestação de assistência em saúde visando responder às demandas da sociedade por práticas qualificadas. Deverá desenvolver conhecimentos e habilidades consistentes e atualizados na área de saúde mental que possibilitem o exercício de sua atividade profissional de forma reflexiva, transformadora e ética e ser capaz de atuar com autonomia e em colaboração com outros profissionais na promoção e manutenção da saúde, identificação e recuperação dos agravos à saúde. Neste sentido, o Departamento de Enfermagem Materno-Infantil e Psiquiátrica da Escola de Enfermagem da USP tem executado projetos do Ministério da Saúde, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo como o PET Saúde Mental, desde 2009 e Residências em outras especialidades, desde 2013, além da Cooperação Técnica com SMS/SP – Coordenação Regional de Saúde Oeste, desde 2007, que viabiliza o ensino teórico-prático de saúde mental do Curso de Graduação em Enfermagem. Compreendendo a importância dos Programas de Residência Multiprofissional em Saúde para a formação de profissionais para o SUS na perspectiva do trabalho em Rede, a Escola de Enfermagem da USP vem desenvolvendo o Programa de formação e produção de conhecimento interdisciplinar em saúde mental, que envolve profissionais, residentes, gestores, corpo docente, tutores, preceptores, coordenação, usuários e familiares nos cenários de prática dos Pontos de Cuidado da RAPS pactuados com a SMS/SP, a saber: Eixo 1: UBS Jardim Edite com Estratégia Saúde da Família e Consultório na Rua da UBS Magaldi; Eixo 2: Atenção especializada no Centro de Atenção Psicossocial III Itaim Bibi; Eixo 3: Atenção de Urgência e Emergência no Pronto Socorro Municipal da Lapa; Eixo 6: Estratégias de Desinstitucionalização no Serviço Residencial Terapêutico vinculado ao CAPS Itaim Bibi, populações albergadas e em situação de rua; Eixo 7: Estratégias de Reabilitação Psicossocial no Empreendimento Econômico Solidário O Bar Bibitantã e no Ponto de Cultura e Comércio Justo da Benedito Calixto. Além dos Pontos de Cuidados para formação na Rede e em Rede, os Residentes têm previstas atividades de formação no nível da gestão local, junto à Coordenação de Saúde Oeste da Secretaria de Saúde do Município de São Paulo. Os Trabalhos de Conclusão de Residência, em processo de concepção e elaboração, deverão abordar uma necessidade concreta advinda da prática e desenvolver estratégias de superação dela, na perspectiva da transformação da realidade local, do serviço, dos usuários singulares e familiares ou do território.

educação; saúde mental; reforma psiquiátrica, residência multiprofissional