Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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EFETIVIDADE DA PAPAÍNA ASSOCIADA AOS ÀCIDOS GRAXOS ESSENCIAIS NA CICATRIZAÇÃO DE ÚLCERAS POR PRESSÃO E FERIDAS
MARIA CRISTINA CHIAPINOTTO

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


Apresentação: As úlceras por pressão são consideradas um problema grave e frequente nos pacientes acamados e portadores de doenças crônico-degenerativas, porém é fundamental que o enfermeiro esteja capacitado para fazer uma correta avaliação da úlcera de forma a estabelecer o acompanhamento e tratamento adequado a cada caso. Alguns estudos têm recomendado o uso de Papaína e Ácidos Graxos Essenciais (AGE) para seu tratamento. A Papaína é uma enzima proteolítica presente no látex do vegetal Caricapapaya (mamão-papaia), que tem ação bactericida, bacteriostática e anti-inflamatória, assim, estimula o crescimento tecidual uniforme, promove o desbridamento enzimático do tecido necrótico e diminui a formação de queloides (RIBEIRÃO PRETO, 2011 , p. 47). A mesma tem indicação no tratamento de úlceras abertas, infectadas e no desbridamento de tecidos desvitalizados ou necróticos em diferentes concentrações conforme o ferimento. Para a úlcera necrótica, deve ser utilizada a papaína a 10%, em casos com exsudato purulento, de 4 a 6%, e nas úlceras com tecido de granulação, a 2% (RIBEIRÃO PRETO, 2011). Os AGE são necessários para manter a integridade da pele e a barreira de água, e não podem ser sintetizados pelo organismo, não há contraindicação de uso concomitante com outras coberturas, podendo ser aplicado diretamente no leito da úlcera ou em gaze o suficiente para mantê-la úmida até a próxima troca. Nos últimos anos, a enfermagem vem buscando conhecimentos relativos à prevenção e tratamento com feridas, e estes conhecimentos e experiências acumulados pelos enfermeiros especializados contribuem consideravelmente para o aumento da capacidade de observação, julgamento e escolhas, proporcionando uma prática mais autônoma e não iatrogênica (SILVA et al., 2011). É importante que o profissional de enfermagem tenha conhecimento, não apenas dos produtos disponíveis no mercado para realização do tratamento, mas também da fisiologia da cicatrização, dos fatores de risco e das etapas do processo de reparo tissular, tornando-se fundamental para o correto diagnóstico do tipo de lesão e para a indicação do produto adequado para a prevenção ou tratamento da lesão (SALOMÉ, 2009). Este relato de caso objetiva demonstrar a importância de uma adequada avaliação da ferida para a escolha correta do tratamento, bem como a eficácia do uso da Papaína em diferentes concentrações associado ao AGE no processo de desbridamento, granulação e cicatrização de úlcera por pressão. Desenvolvimento do trabalho: Realizou-se o acompanhamento e tratamento de um paciente acamado, portador de úlcera por pressão na região sacrococcígea, realizado pela enfermeira no período de junho a novembro de 2012, no domicílio do paciente. Os registros ao longo dos cinco meses foram realizados em diário de campo e fotográfico. A análise dos dados foi realizada por categorização temática (MINAYO, 2010). A eficácia terapêutica foi avaliada a partir das características da úlcera (aparência e tamanho), das características do entorno da lesão e das características do exsudato, durante os cinco meses de tratamento (BRASIL, 2002). O diagnóstico e tratamento do referido caso foi subsidiado pelo Caso Clínico Interativo sobre Úlceras Venosas e por Pressão, disponibilizado pela Universidade Federal de Pelotas RS, como parte das atividades de prática clínica do Curso de Especialização em Saúde da Família (CEOLIN; CASARIN; MACHADO, 2012). O familiar responsável autorizou e assinou as duas vias do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.  O presente relato apontou a eficácia do uso da papaína associada ao AGE na cicatrização de úlcera por pressão, quando acompanhado de cuidados básicos, como a orientação sobre a forma de realização do curativo e a movimentação no leito, mesmo em um paciente sem acompanhamento nutricional adequado. Resultados: A úlcera media, inicialmente, 20x15cm de diâmetro, apresentava profundidade grau IV, com tecido necrosado e cruento, observava-se cavidade profunda, com exposição do osso na região sacra, drenagem de secreção purulenta em grande quantidade, com odor fétido. Uma análise criteriosa realizada pela enfermeira subsidiou a escolha da cobertura a ser utilizada como terapêutica inicial, de acordo com a gravidade e o tipo da lesão. Iniciado como cobertura primária, a Papaína 6%, em forma de creme no leito da ferida e gaze embebida com AGE para manter o meio úmido e acelerar o processo de granulação tecidual, por último, chumaço de gaze e algodão protegendo a ferida proporcionando segurança e conforto ao paciente favorecendo a cicatrização (BRASIL, 2002). Com a evolução da lesão, quando não havia mais tecido de necrose, somente tecido de granulação, foi utilizada a Papaína 2% e manteve-se a cobertura com gaze embebida com AGE e chumaço. O resultado obtido com este caso foi extremamente satisfatório com total cicatrização da úlcera por pressão em um total de 160 dias de tratamento. Como consequência desta experiência foi colocada em prática o uso da Papaína associada ao AGE em outros pacientes com diferentes tipos de úlceras causadas por: Tromboangeite Obliterante na região das coxas com total cicatrização em 72 dias de tratamento, úlcera por Abcesso Peritoneal em região abdominal com cicatrização total em 51 dias de tratamento, Infecção de Parede Abdominal em ferida operatória de apendicectomia com cicatrização total em 21 dias de tratamento. Tais resultados possibilitaram a avaliação da evolução de diferentes tipos de úlceras em pacientes com condições delicadas e crônicas, com respostas satisfatórias, além de obter o baixo custo do tratamento com papaína. Considerações Finais: O presente relato de caso demonstrou o sucesso do tratamento de uma extensa úlcera por pressão e outras feridas, realizado a partir de uma avaliação por parte do enfermeiro, onde apontou a eficácia do uso da papaína associada aos AGE na cicatrização das úlceras e lesões. Esta experiência oportunizou-nos tratar vários tipos de feridas com resultados satisfatórios para o paciente onde demonstra que as ações a serem implementadas e os recursos a serem usados é o que vai permitir a tomada de decisão para a escolha do tratamento correto, no entanto, é muito importante que o enfermeiro esteja capacitado para realizar o cuidado de feridas, uma vez que frequentemente este profissional atende pacientes portadores dessas afecções e conduz o tratamento. No entanto, é preciso que as condutas sejam baseadas em evidência científica para garantir a efetividade do tratamento. Esta capacitação deve incluir o cuidado de pacientes acamados através da atenção domiciliar.  

Palavras-chave


Úlcera por Pressão; Cuidados de Enfermagem; Papaína e Ácidos Graxos Essenciais.

Referências


Referências: Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas Públicas. Departamento de Atenção Básica. Manual de condutas para úlceras neurotróficas e traumáticas. Brasília: Ministério da Saúde; 2002; Ribeirão Preto. Secretaria Municipal da Saúde de Ribeirão Preto. Comissão de Assistência. Assessoria e Pesquisa em Feridas. Manual de Assistência Integral às Pessoas com Feridas. 3a ed. Ribeirão Preto: Secretaria Municipal de Saúde; 2011; Salomé GM. Avaliando lesão: práticas e conhecimentos dos enfermeiros que prestam assistência ao indivíduo com ferida. Saúde Coletiva. 2009;35(6):280-7; Minayo MCS. O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde. 12a ed. São Paulo: HUCITEC; 2010; Ceolin T, Casarin ST, Machado RA. Caso clínico interativo: Úlcera Venosa em MMII. Pelotas: Especialização em Saúde da Família – EAD, Universidade Federal de Pelotas; 2012.