Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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Educação Permanente em Movimento: relato de experiência no sul do Brasil
Carine Vendruscolo, Denise Antunes Azambuja Zocche, Edlamar Kátia Adamy

Última alteração: 2015-10-19

Resumo


Apresentação: A Política de Educação Permanente em Saúde (EPS) no Brasil ancora-se no ideário da necessidade do encontro entre gestores, formadores, trabalhadores e usuários da área – quadrilátero da educação em saúde (CECCIM; FEUERWERKER, 2004) – num movimento de atuação viva no território, em que todos os sujeitos são protagonistas. Essa ideologia sustenta que a transformação do modelo de atenção à saúde, hegemonicamente biomédico, depende da permanência de processos educativos, a partir dos acontecimentos cotidianos que permeiam o processo de trabalho, na direção do cuidado integral das coletividades. Nessa perspectiva, o Curso de Especialização e Aperfeiçoamento “EPS em Movimento” é um convite aos trabalhadores da esfera pública de atenção à saúde - Sistema Único de Saúde (SUS) - para a invenção de práticas de aprender, de cuidar e de fazer/viver a EPS como movimento, em que todos possam dar destaque a potência do trabalho vivo em ato. Considera-se que a educação no mundo do trabalho em saúde, ocorre a partir das experiências cotidianas, em que se inventam novos conhecimentos, reafirmando outros já apropriados, num agir sensível e tecnológico no campo do cuidado (MERHY, 2013). Os encontros são possíveis mediante experiências singulares, estranhamentos, incômodos e criação de diferentes formas de agir e estar com os outros (EPS EM MOVIMENTO, 2014). O território onde inserem-se as práticas de cuidado é um local promotor de encontros e trocas que potencializa a diferença e configura-se como potencial espaço de aprendizagem, mediante movimentos que ativem potências criadoras de vida (DELEUZE, 2002). A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), atendendo ação conveniada com o Ministério da Saúde, por meio do Departamento de Gestão da Educação na Saúde, da Secretaria de Gestão do Trabalho e da Educação na Saúde (DEGES/SGTES/MS), mediante articulação do Núcleo de Educação, Avaliação e Produção Pedagógica em Saúde (EducaSaúde), lançou, em 2014, os Cursos de Especialização em Formação Integrada Multiprofissional, Educação Permanente em Saúde, Aperfeiçoamento em Atualização Multiprofissional , Educação e Ensino da Saúde – EPS em Movimento. Estes têm como objetivo ativar processos de EPS nos territórios, reconhecendo práticas e saberes existentes no cotidiano do trabalho, incentivando assim, a produção de novos sentidos no fazer saúde, a partir da invenção de práticas de aprender, de cuidar e de viver, destacando a potência do trabalho vivo em ato (EPS EM MOVIMENTO, 2014). O presente relato de experiência trata das vivências de um grupo de alunos do EPS em Movimento do Rio Grande do Sul, durante o processo de formação no referido Curso. Desenvolvimento: A turma de alunos vive em um território situado no interior do Estado do Rio Grande do Sul (RS), região sul do Brasil. Trata-se de um grupo de trabalhadores da área da saúde, dentre os quais encontram-se enfermeiros, técnicos de enfermagem, Agentes Comunitários da Saúde e Contador, todos desenvolvendo atividades de trabalho ligadas ao SUS. Convidado a refletir sobre suas vivências no cotidiano do processo laboral, o grupo tem como desafio agregar novas produções, oriundas de suas experiências e modos de existência na vida e, mais especificamente, no mundo do trabalho. A proposta os provocou no sentido de deixar-se “afectar” e, ao mesmo tempo, “rastrear” movimentos de EPS no território de atuação profissional, entendendo que não é possível mostrar como se faz, mas partindo do pressuposto que todos fazem EPS e gestão em seus espaços e modos de existência. O processo de formação acontece por meio de uma plataforma virtual, mediada por um tutor, o qual também passou por uma formação prévia de um ano para desempenhar tal atividade. A plataforma conta com ferramentas pedagógicas, entre as quais: diário cartográfico, caixa de afecções, fórum de debates, chat e uma diversidade de material para tutoria e pedagógico. As atividades pressupõem a interação constante do grupo, virtualmente. Nessas, o aluno e convidado a narrar histórias que vivencia e/ou “rastreia” no mundo do trabalho em saúde, refletir sobre elas a partir da troca com os colegas e do apoio dos referenciais teórico-filosóficos que sustentam a EPS e o SUS. São previstos, no tempo de formação que corresponde a um ano, três momentos presenciais. Nesses, o grupo é convidado a resolver possíveis dúvidas operacionais e a compartilhar potencialidades e fragilidades da proposta. Também são realizadas avaliações e, no encontro final a apresentação do Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), o qual consiste em um projeto de intervenção, relato de experiência, narrativa, entre outras possibilidades de produção oriundas da práxis – processo ação com reflexão que se fundamenta no compromisso com a transformação social (FREIRE, 2005). Ao final do curso os alunos terão o título de especialistas ou aperfeiçoamento em EPS. O diário cartográfico é uma possibilidade de produção de visibilidades e dizibilidades (novas possibilidades de ver e dizer) a partir dos acontecimentos e afecções que se estabelecem no viver a vida, dos afetos e das práticas (DELEUZE; GUATTARI, 1995). A caixa de afecções é uma caixa virtual que se configura como dispositivo para apoiar os sujeitos na construção do diário cartográfico. Até o presente, o grupo do RS desenvolveu cerca de 50% das atividades previstas no processo de formação. Como potencialidades da proposta, destacam-se as inserções criativas compartilhadas na caixa de afecções, os relatos cotidianos do processo de trabalho, mediados por reflexões que tangenciam a proposta da EPS e as avaliações positivas dos alunos sobre a metodologia inovadora do Curso, evidenciadas nas suas falas, sobretudo durante o segundo encontro presencial. Como fragilidades, toma-se a ausência, por vezes prolongada, de alguns alunos na plataforma e algumas dificuldades operacionais com a mesma. Considera-se ainda que, após o segundo encontro, foram minimizadas algumas fragilidades, segundo os alunos, por terem compreendido o objetivo da proposta, bem como, pelo aprofundamento em relação ao referencial teórico-filosófico que fundamenta a mesma. Considerações Finais: A interação efetiva entre os alunos e com o tutor, possibilitada pelo espaço virtual (plataforma) tem provocado movimentos significativos em relação à mudança que se deseja, tanto na compreensão quanto na ação dos sujeitos, na direção da mudança de modelo e qualificação da pratica em saúde. O compromisso com a EPS, por meio de metodologias de ensino mediadas por ferramentas como a caixa de afecções, o diário cartográfico e outras, tem se mostrado efetivo até o presente, em relação à compreensão dos pressupostos que norteiam a Política de EPS e o SUS, mas sobretudo, como possibilidade para o rastreamento de movimentos de EPS que acontecem no território em que atuam, nessa direção.      

Palavras-chave


Educação Permanente em Saúde; Sistema Único de Saúde; Políticas Públicas de Saúde

Referências


CECCIM, R. B.; FEUERWERKER, L. C. M.. O quadrilátero da formação para a área da saúde: ensino, gestão, atencao e controle social. Physis:, Rio de Janeiro, v. 14, n. 1, p. 41-65, 2004.

DELEUZE, G. Espinosa: Filosofia Pratica. Sao Paulo: Escuta, 2002. DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Felix. Mil Plato?s: capitalismo e esquizofrenia. Rio de Janeiro: 34, 1995. (Coleção Trans, v.1)

DELEUZE, G. Espinosa: Filosofia Pratica. Sao Paulo: Escuta, 2002.

EPS EM MOVIMENTO. Entrada, Apresentação. 2014. Disponível em: <http://eps.otics.org/material/entrada-apresentacao/entrada-apresentacao/>. Acesso em: 05 set. 2015.

FREIRE. Pedagogia do oprimido. 41. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2005, 213 p.

MERHY, Emerso Elias. Educação Permanente em Saúde em Movimento: uma política de reconhecimento e cooperação, construindo encontros no cotidiano das praticas de saúde. PortoAlegre: [s.n], 2013. Texto escrito como contribuição para o DEGES/SGTES/MS.