Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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RISCO OCUPACIONAL EM UNIDADES DE SUPORTE BÁSICO E AVANÇADO DE VIDA EM EMERGÊNCIAS EM UM MUNICÍPIO DO ESTADO DO AMAZONAS
Yara Nayá Lopes de Andrade, GISELE TORRENTE, Raiany Tayse Camilo Oliveira, Isaura Letícia Tavares Palmeira Rolim, Denise do Nascimento Pedrosa

Última alteração: 2016-03-21

Resumo


Introdução: Estudos demonstram o risco a que estão expostos os profissionais de saúde, dentre eles destacam-se aqueles do serviço de atendimento Pré-Hospitalar (APH), estando estes profissionais expostos a muitos riscos ocupacionais. Em Manaus, o SAMU entrou em funcionamento em fevereiro de 2006 atuando em parceria com o Estado na regulação dos leitos de urgência e emergência, otimizando e disciplinando a ocupação das vagas, priorizando os casos mais graves. O serviço permite a organização e a racionalização da rede pública. O acidente ocupacional ou de trabalho é aquele que ocorre pelo exercício do trabalho, a serviço da empresa ou, ainda, pelo serviço de trabalho de segurados especiais, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que cause a morte, a perda ou redução da capacidade para o trabalho, permanente ou temporária. A legislação brasileira contempla por meio de Norma Regulamentadora relativa à Segurança do Trabalho a existência de riscos ocupacionais peculiares a cada atividade profissional. Ao considerar essas condições de alto risco ocupacional que os profissionais de saúde (PS) da equipe de APH está submetida, este estudo tem por objetivo verificar e identificar quem mais se acidenta, como se acidenta e qual a incidência desses eventos nessa população, visando também se o profissional tem conhecimento dos riscos ocupacionais a que está submetido diariamente e se conhece a conduta pós-acidente. De posse dessas informações, os gestores do sistema ficam mais seguros no desenvolvimento de atividades preventivas, visando à melhoria na qualidade de vida e segurança profissional desses trabalhadores. Objetivo: Identificar o perfil dos acidentes ocupacionais ocorridos com os profissionais atuantes nas unidades de atendimento pré-hospitalar básico e avançado de vida. Método: Tratou-se de uma pesquisa exploratória, descritiva com análise quantitativa dos dados, por meio de entrevista com instrumento contendo 12 questões que abordaram: gênero, idade, categoria profissional, tempo de atividade no SAMU, conhecimento sobre risco ocupacional, quais os principais riscos que julgam estar expostos, sofreu acidente ocupacional? Tipo de acidente (fluídos corporais, mordedura humana entre outros), usava EPI no momento do acidente? Foi comunicado a gestor? Se houve afastamento do serviço e de que forma veem o uso dos EPI’s. O estudo se deu em uma unidade de Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU) da cidade de Manaus, -AM. O questionário foi aplicado após o aceite e assinatura do termo de consentimento livre e esclarecido (TCLE). Por conter informações sobre seres humanos, o estudo foi submetido a aprovação e aceite do comitê de ética e pesquisa sob o nº 2011/79. O SAMU é composto por Unidades de Suporte Básico (USB), onde a equipe profissional é composta por condutor socorrista, técnico de enfermagem/auxiliar e a Unidade de Suporte avançado (USA) é composta por médico, enfermeiro e condutor. Foram incluídos no estudo todos os servidores que atuam diretamente com paciente, com número definido pela fórmula de Barbetta (1994, p.45) com margem de erro de 5%. Os dados foram tabulados em planilha no Misrosoft Excel. Este trabalho foi submetido e aprovado pelo CEP sob nº 2011/79. Resultados: Os principais fatores de risco identificados foram: biológico com 19,3%, seguindo dos fatores físicos com 12,9%, químicos representando 6,8%; fatores psicossociais com 12,9%; ergonômicos com 12,9%. Em relação à ocorrência de acidentes, em detrimento de causas/fatores que poderiam ser evitados temos: profissionais que já se acidentaram com sangue 74,9%, seguido de 46,9% com fluído contendo sangue; com líquido amniótico 21,5%; 2,5% com líquido ascético, líquido pleural com 1,4% e outros com percentual de 16,4%. Identificamos também que a circunstância que mais gerou exposição aos acidentes foi com materiais perfurocortantes. Os acidentes ocorrem na maioria das vezes durante o transporte desses materiais para o recipiente de descarte e por descartes em locais inapropriados. Quanto ao resultado desta variável concluiu-se que os técnicos de enfermagem são os mais acometidos por acidentes envolvendo agulhas com lúmen, agulhas sem lúmen, vidros e lâminas, enquanto os condutores são, em sua maioria, acometidos por acidentes com intracath. Em relação ao uso do EPI’s, dos profissionais de nível médio participantes da pesquisa, 31 (11,1%) dos técnicos/auxiliares de enfermagem, disseram estar usando os EPI’s completos no momento dos acidentes, 69 (23,6%) usam de forma incompleta e 2 (0,5%) disseram não estar usando no momento do acidente. Já os enfermeiros 16 (5,7%) responderam que usam EPI completos e 33 (11,8%) usam incompletos. Quanto aos condutores 24 (8,6%) disseram estar usando os EPI’s completos no momento do acidente, 60 (21,5%) disseram estar usando de forma incompleta e 15 (5,3%) não estavam usando. Na categoria superior 9 (3,2%) dos médicos disseram estar usando EPI’s completos, 18 (6,4%) estavam usando de forma incompleta e 2 (0,7%) nãos estavam usando. Os profissionais, após sofrerem o acidente, tendiam a se afastar do local. Os principais motivos do afastamento segundo os relatos foram os exames que tiveram que realizar e a medicação tomada após os acidentes. Diante do fato foi feita a seguinte estimativa: Apenas 2 (0,7%) dos enfermeiros se afastaram após os acidentes. Os técnicos/auxiliares de enfermagem apenas 3 (1,0%) afastaram-se, 2 (0,7%)médicos e 6 (2,1%) dos condutores tiveram que se afastar do serviço. Durante a distribuição das respostas dos profissionais do serviço de atendimento médico de urgência a respeito da comunicação dos acidentes concluímos que, dos PS, 24 (8,6%) Enfermeiros responderam que informaram e 25 (8,9%) não informaram, dos Técnico/auxiliares de Enfermagem 28 (10%) informaram e 74 (26,5%) não julgaram importante. Dos médicos 15 (5,5%) comunicaram e 14 (5%) não comunicaram; dos Condutores apenas 19 informaram (6,8%) e 80 (28,7%) não comunicaram. Considerações finais: O estudo permitiu concluir que no ambiente de APH parece estar arraigado o sentimento de “naturalização” dos riscos ocupacionais, demonstrando que o profissional do serviço de atendimento médico de urgência cotidianamente convive em um ambiente insalubre ou de risco, o que pode diminuir a percepção do profissional de adotar medidas preventivas para a sua própria segurança. Constatamos que a adoção de condutas adequadas pós-exposição nem sempre está ligada ao nível de escolaridade, mas ao provável significado do evento para cada indivíduo. Identificamos que os principais fatores de risco na visão dos profissionais de saúde são: Biológicos, físicos, químicos, ergonômicos e psicossociais de acordo com os profissionais que trabalham nas ambulâncias e para os profissionais que trabalham nas lanchas foram às condições do tempo e péssima manutenção das mesmas. Consideramos necessária a estruturação de um sistema efetivo de notificação, vigilância, controle e acompanhamento rigoroso dos acidentes envolvendo material biológico incluindo os provenientes de materiais perfurocortantes, respingo em mucosas, em pele íntegra ou lesada, entre outras possibilidades.  Além disso, sugerimos uma abordagem profunda na aplicação e avaliação de estratégias educativas que visem à prevenção de acidentes ocupacionais, assim como reeducação do profissional quanto ao uso dos equipamentos de proteção individual.

Palavras-chave


Risco ocupacional; Enfermagem; Atendimento de Urgência

Referências


1 ZAPPAROLI, Amanda dos Santo; MARZIALE, Maria Helena Palucci. Risco ocupacional em unidades de Suporte Básico e Avançado de Vida em Emergências. Revista brasileira de enfermagem, 2006.

2 MINAYO, Maria Cecília de Souza; DESLANDES, Suely Ferreira. Análise da implantação do sistema de atendimento pré-hospitalar móvel em cinco capitais brasileiras. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2008.

3 MINAYO, Maria Cecília de Souza; DESLANDES, Suely Ferreira. Análise da implantação do sistema de  atendimento pré-hospitalar móvel em cinco capitais brasileiras. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 2008.

4 SÊCCO, Iara Aparecida de Oliveira; GUTIERREZ, Paulo Roberto; MATSUO, Tiemi. Acidentes de trabalho em ambiente hospitalar e riscos ocupacionais para os profissionais de enfermagem. Semana: Ciências Biológicas e da Saúde, Londrina, v. 23, p. 19-24, 2002.