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O presente trabalho descreve a experiência de uma acadêmica de odontologia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) na campanha de julho/agosto de 2015 do Projeto Rondon/MS, desenvolvida na cidade de Ladário-MS. Este trabalho visa destacar a importância de projetos como este, tanto para melhorar a qualidade de vida da população local, quanto para agregar à formação acadêmica futuros profissionais mais conscientes e humanizados. O Projeto Rondon/MS é uma organização sem fins lucrativos que tem por missão mobilizar a juventude universitária a fim de estimular uma consciência crítica a respeito das realidades do Estado de Mato Grosso do Sul, contribuindo para a construção de uma sociedade mais justa e solidária. Este projeto de extensão se baseia na filosofia humanista de Cândido Mariano da Silva Rondon, renomado coronel engenheiro, conhecido atualmente como Marechal Rondon. Ele comandou diversas comissões de linhas telegráficas no Amazonas e no Mato Grosso, que foram muito importantes para o avanço da comunicação no Brasil e para o povoamento e desenvolvimentos dessas regiões. Estas comissões o levaram a se deparar com diversos grupos indígenas que não haviam tido contato com a civilização. Estas experiências despertaram nele o sentimento de compaixão, sentimento este que, juntamente a sua ideologia positivista, o fez criar o Serviço de Proteção ao Índio em 1910, com o objetivo de defender um tratamento mais humanitário aos indígenas e integrar esses povos à sociedade. (TACCA, 2002) O caráter pacifista, humanista e assistencialista de suas comissões foi copiado para diversos programas da atualidade, inclusive para o presente projeto, que estendeu esta filosofia para a parte mais carente da população sul-mato-grossense, que assim como os índios que Rondon encontrou em suas expedições, são também marginalizados na sociedade cotidiana. Seguindo esta linha de pensamento, foi realizado nos dias 18 de julho a 7 de agosto de 2015 uma campanha do Projeto Rondon/MS na cidade de Ladário/MS. Esta contou com a ajuda de 28 universitários voluntários, um coordenador e uma médica veterinária professora da UFMS, os quais ficaram hospedados na Marinha do Brasil. As áreas de graduação dos acadêmicos eram diversas como por exemplo, odontologia, enfermagem, letras, pedagogia e jornalismo. Isso possibilitou uma integração multidisciplinar na qual cada um tinha algo a acrescentar e algo a aprender. A equipe de odontologia, da qual a acadêmica em questão fez parte, era composta por quatro universitários, sendo dois da UFMS e dois da Universidade Anhaguera-Uniderp. Logo nos primeiros dias, foram realizadas reuniões com o secretário municipal de saúde de Ladário, Dr. Cleber Colleone, para diagnosticar a situação de saúde bucal da população local e traçar um plano de ação para esta comunidade. As ações então planejadas tinham objetivos claros e divididos em faixa etária. Para as crianças de 0 a 4 anos buscaram viabilizar o primeiro contato delas, de forma lúdica, com os métodos de higiene oral e com o cirurgião dentista. Para o público de 6 a 12 anos a finalidade era elucidar sobre a evolução da doença cárie e como preveni-la, focando na melhor técnica de escovação, correto uso do fio dental, alimentação saudável e na importância do comparecimento frequente no cirurgião dentista. Já para a população de adolescentes e adultos o intuito era explicar sobre os riscos de desenvolvimento de câncer bucal, relatando a importância do autoexame. Informar sobre a transmissibilidade de algumas doenças pela boca, salientando a origem, sinais clínicos e formas de prevenção. Além de mostrar o modo correto manejo da prótese dentária. Para alcançar estes objetivos foram utilizados materiais lúdicos e/ou ilustrativos como dentes de EVA decorados, macro modelo odontológico, uma arcada dentária de isopor em tamanho ampliado, escova de dente, fio dental, uma fantasia de dente, teatro de fantoches com personagens voltados para odontologia, flipchart feito também de EVA explicando o processo de evolução da cárie, jogos recriados para odontologia como “odontodamas”, jogo da memória e dominó, desenhos para colorir, datashow, próteses dentárias para demonstração de higienização e armazenamento, assim como um banner auto explicativo e distribuição de panfletos sobre câncer bucal. As diversas atividades foram desenvolvidas no Centro Municipal de Educação Infantil (CEMEI) Neusa Assad Malta (23/07), no CEMEI Ernesto Sassida (27/07), na Casa de Acolhimento de Ladário (27/07), no bairro Seac de Ladário juntamente com a Operação Ágata, ação cívico social realizada pelas forças armadas nas regiões de fronteira (29/07). Também na Escola Municipal de extensão rural Maria Ana Ruso (30/07 e 4/08) e na feira de Ladário (01/08), onde foi desenvolvido o dia “D” do Projeto Rondon/MS com estandes de cada equipe de atuação disponibilizando informações, entretenimento e prestações de serviços gratuitos à população. Nos últimos dias, as atividades foram realizadas nas Escolas Estaduais Leme do Prado (3/08) e 2 de setembro (5/08). Além dessas atividades foi também realizada, com ajuda da equipe de odontologia, uma triagem nos adolescentes que residiam na Casa de Acolhimento de Ladário, adolescentes estes que foram afastadas do convívio familiar por decreto judicial. Esta triagem, feita pela dentista Rena Vaz, tinha por objetivo o preenchimento de uma ficha que dá a eles a oportunidade de participarem do programa “Turma do Bem”, um programa de dentistas voluntários que se dispõem a oferecer atendimento odontológico gratuito, para adolescentes que não têm condição de pagar. As consequências dessa campanha na população local não podem ser mensuradas em curto tempo, por se tratarem de ações de promoção e prevenção de saúde que atuam melhorando a qualidade de vida a longo prazo. Entretanto, através de depoimentos de ladarenses que vivenciaram as ações, é possível identificar o incrível impacto positivo que o Projeto Rondon/MS teve nesta comunidade. Como por exemplo no seguinte depoimento de Malquisua Dias Rota da Costa Carvalho, 52 anos, professora da E.E. Leme do Prado: “...o projeto vem em boa hora e trouxe para eles mais experiência de como eles devem fazer com a higiene bucal... eu gostaria que voltassem outras vezes porque eles aprenderam muito com a demonstração dos acadêmicos... ”. Porém, a maior mudança se encontra realmente na acadêmica em questão, que relata ter uma nova visão sobre a sociedade e sobre o seu papel neste meio social. Após essa experiência ela acredita em um país melhor para todos, mais igualitário e justo, e sabe que para que isso aconteça ela deve fazer sua parte sendo uma profissional mais consciente da realidade ao seu redor, exercendo a sua cidadania e doando parte do seu tempo para auxiliar ao próximo. Concluímos que esta campanha é importante pois teve efeitos benéficos e direto na população ladarense, proporcionando um intercambio social entre os universitários e a comunidade. Capacitou a comunidade local para atuar na melhoria de sua qualidade de vida e saúde, viabilizou a aplicação extramuros dos conhecimentos aprendidos em sala de aula, demonstrou a importância do trabalho em equipe e ensinou a superar as adversidades encontradas. E, despertou na acadêmica citada neste relato, o ideal humanista como o de Marechal Rondon, que seria muito bem-vindo na sociedade atual que prega o individualismo e descaso com os outros.

Projeto Rondon; Extensão universitária; Cidadania