Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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INVESTIGAÇÃO DA SÍNDROME DE BURNOUT EM POLICIAIS MILITARES POR MEIO DO INSTRUMENTO DE MASLACH
Mellani Dumke, Paola Maritssa Dacol, Sérgio Maus Junior, Rosana Amora Ascari, Clodoaldo Antônio de Sá, Liana Lautert

Última alteração: 2015-10-30

Resumo


INTRODUÇÃO: Entre os diversos fatores que podem comprometer a saúde do trabalhador, o local de trabalho é apontado como um gerador de conflito, assim que o indivíduo percebe a lacuna existente entre o compromisso com a profissão e o sistema em que está inserido¹. No Brasil, a Política Nacional de Saúde do Trabalhador visa reduzir os acidentes e doenças relacionadas ao trabalho². Dentre as doenças ocupacionais elencadas nesta política, esta a Síndrome de Burnout (SB), que conforme o Ministério da Saúde (MS) predomina entre os profissionais da saúde, assim como em professores, policiais, bombeiros e demais profissões que estão sujeitas a ter um contato diário com o público e que possuem grande carga emocional³. O Burnout conhecido também como esgotamento profissional é descrito como um fenômeno composto por sentimentos de fracasso e exaustão, tendo como causa um desgaste excessivo de energia e recursos, mediado pela prática e estresse no cotidiano laboral. A SB é o produto do estresse crônico, encontrado tipicamente no ambiente do trabalho, principalmente quando existem pressão excessiva, desavenças, poucas recompensas emocionais e pouco reconhecimento, sendo então visto como um fenômeno psicossocial constituído de três aspectos: Exaustão Emocional (EE), Despersonalização (DE) e Baixa Realização Profissional (RP). A Exaustão Emocional é caracterizada por uma escassez de energia e um sentimento de esgotamento emocional, que tem a sobrecarga de trabalho como a causa principal. A Despersonalização acontece quando o profissional passa a tratar os clientes, os colegas de trabalho e a organização de forma estranha e impessoal. E a Baixa Realização Profissional caracteriza-se por uma disposição do trabalhador em autoavaliar-se de maneira negativa, sentindo-se insatisfeito e infeliz com seu desenvolvimento profissional, vivenciando uma queda no sentimento de competência e na sua capacidade de interagir com as pessoas4. Policiais em todo o mundo constituem uma das categorias de trabalhadores com maior risco de vida e de estresse5. No caso específico dos policiais militares, o nível de estresse tem sido apontado como superior ao de outras categorias profissionais, não só pela natureza das atividades que realizam, mas também pela sobrecarga de trabalho e pelas relações internas à corporação cuja organização se fundamenta em hierarquia rígida e disciplina militar. OBJETIVO: O presente estudo buscou identificar qual o risco para o desenvolvimento da Síndrome de Burnout nos trabalhadores da Policia Militar de Chapecó - Santa Catarina, Brasil, além de conhecer o perfil desses trabalhadores. MÉTODO: Trata-se de um estudo exploratório e descritivo de abordagem quantitativa, desenvolvido com policiais militares inseridos no 2º Batalhão da Policia Militar em Chapecó – SC, Brasil. Consideraram-se critérios de inclusão ser policial militar em atuação há pelo menos um ano no cenário pesquisado, que aceitaram participar do estudo, assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido. Foram excluídos do estudo os funcionários em férias, licença ou atestado no período da coleta de dados. O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa com parecer n. 756.207 de 14/08/2014. A coleta de dados deu-se por meio de questionário no período de outubro a dezembro de 2014. Os dados coletados foram tabulados no programa Excel® e importados para o programa SPSS - StatisticalPackage for Social Sciences, para análise estatística descritiva. O instrumento de coleta de dados pautou-se no Inventário (questionário) de Burnout (MBI-HSS) Maslach Burnout Inventury-Human Services Survey, para identificação do risco para o desenvolvimento de SB e, num formulário com dados sociodemográficos a fim de descrever o perfil dos trabalhadores participantes. RESULTADOS: Quanto ao perfil sociolaboral houve predomínio do sexo masculino (92%), entre 18 a 39 anos de idade (74%), casado ou em união estável (63%), graduado (58%), sem filhos (52%), que não trabalha noutro lugar fora da corporação (87%) e atua em escalas de plantão (69%). As variáveis: estado civil, número de filhos, turno de trabalho e possuir ou não outro emprego fora da corporação foram analisadas estatisticamente com as três dimensões do Burnout (Exaustão Emocional, Despersonalização e Baixa Realização Profissional).  Quanto ao estado civil, os indivíduos solteiros, casados e em união estável apresentaram nível de Exaustão Emocional alto, Despersonalização médio e baixa Realização Profissional alta. Sendo assim estes estão com risco de desenvolver a Síndrome.  Quanto o fato de possuir filhos ou não, os indivíduos que não possuem e os que possuem apresentaram nível de EE alto, DE médio e RP alto. Em relação aos horários de trabalho, os indivíduos que trabalham em turnos fixos e os que realizam escalas de plantão apresentaram nível de EE alto, DE médio e RP alto. Quanto o fator de possuir outro emprego ou não, os indivíduos que possuem outro emprego e os que não possuem apresentaram nível de EE alto, DE médio e RP alto. Nenhum indivíduo estava acometido pela SB neste estudo, uma vez que se considera em Burnout o indivíduo que revela altas pontuações de exaustão emocional (EE) e despersonalização (DE), associadas a baixos valores em realização profissional (RP)6. CONCLUSÃO: A partir da análise dos dados coletados, o estudo mostrou que não há incidência da síndrome de Burnout entre os policiais militares que participaram desta pesquisa. Porém, aponta que uma quantidade significativa de profissionais está em situação de risco para o desenvolvimento da referida síndrome, pois apresentam duas das três dimensões do Inventário de Burnout (MBI-HSS: MaslachBurnout Inventury-Human Services Survey). Sugere-se atentar para os sintomas apresentados, procurando meios de diminuir esse risco de desenvolvimento de Burnout através de intervenções pontuais, mantendo o bem-estar do trabalhador da polícia militar para que se mantenham ativos e assim, possam contribuir com a segurança pública. Os profissionais da saúde em geral podem promover e proteger a saúde dos trabalhadores através da promoção e prevenção da saúde, visando, assim melhorar a qualidade de vida dos profissionais.

Palavras-chave


Enfermagem; Estresse; Esgotamento profissional; Saúde do Trabalhador; Risco ocupacional.

Referências


[1] LAUTERT, Liana. O processo de enfrentamento do estresse no trabalho hospitalar um estudo com enfermeiras. In: Haag GS, Lopes MJM, Schuck JS. A enfermagem e a saúde dos trabalhadores. Goiânia: AB, 2001.

[2] BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria Executiva. Núcleo Técnico da Política Nacional de Saúde do Trabalhador. Textos Básicos da Saúde. Brasília: Editora MS, 2004.

[3] BRASIL. Ministério da Saúde. Organização Pan-Americana da Saúde no Brasil. Doenças relacionadas ao trabalho: manual de procedimentos para os serviços de saúde. Série A. Normas e Manuais Técnicos; n 114. Brasília: Editora MS, 2001. 580 p.

[4] CARLOTTO, Mary Sandra. Síndrome de Burnout em professores: prevalência e fatores associados. Psicologia: Teoria e Pesquisa. out/dez 2011, vol. 27 n. 4, p. 403-410. Disponível em: http://www.scielo.br/readcube/epdf.php?doi=10.1590/S0102-37722011000400003&pid=S0102-37722011000400003&pdf_path=ptp/v27n4/03.pdf

Acesso em: 15 maio 2015.

[5] SOUZA, Edinilsa Ramos de et al. Fatores associados ao sofrimento psíquico de policiais militares da cidade do Rio de Janeiro, Brasil. Cad. Saúde Pública,  Rio de Janeiro,  2012, v. 28, n. 7, p. 1297-1311. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csp/v28n7/08.pdf. Acesso em: 16 maio 2015.

[6] BENEVIDES-PEREIRA, Ana Maria T. Burnout: quando o trabalho ameaça o bem-estar do trabalhador. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2002, 282 p.