Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

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A CRISE HÍDRICA VERSUS A REEMERGÊNCIA DE DOENÇAS NO ESTADO DA BAHIA
Cinoélia Leal de Souza, Kelly Albuquerque de Oliveira, Maria Alves da Silva

Última alteração: 2015-11-23

Resumo


Apresentação: O território brasileiro contém cerca de 12% de toda a água doce do planeta, apesar da abundância, os recursos hídricos brasileiros não são inesgotáveis, e o acesso à água não é igual para todos. Além disso, as características geográficas de cada região e as mudanças de vazão dos rios, que ocorrem devido às variações climáticas ao longo do ano, afetam a sua distribuição (MMA, 2015). Somam-se as questões econômicas, às questões climáticas, às ações humanas, e o resultado dessa interação pode provocar diversas implicações na saúde pública, sendo que há vários tipos de doenças que podem ser causadas por algum fator relacionado com a água. São exemplos: em locais com saneamento básico deficiente, falta de água tratada e/ou de rede de esgoto ou de alternativas adequadas para a deposição dos dejetos humanos), as doenças podem ocorrer devido à contaminação da água por esses dejetos ou pelo contato com esgoto despejado nas ruas ou nos córregos e rios. E ainda, a falta de água também pode causar doenças, pois, sua escassez impede uma higiene adequada. Incluem‐se também na lista de doenças de transmissão hídrica, aquelas causadas por insetos que se desenvolvem na água (BRASIL, 2009). Para Rouquayrol (2014), as doenças infecciosas emergentes são as que surgiram recentemente numa população ou as que ameaçam se expandirem no futuro, já as reemergentes são aquelas causadas por microrganismos conhecidos, que estavam sob controle, mas se tornaram resistentes ou estão se expandindo rapidamente em determinada área geográfica, como a dengue. No Brasil, houve uma queda das mortes por doenças infecciosas, de 50% para 5%, (de 1930 a 2007), contudo as mortes por HIV/AIDS e dengue por exemplo, cresceram a partir dos anos 1980. Entre as doenças transmissíveis com quadro de persistência, como hepatites virais, a tuberculose e a leptospirose (em áreas geográficas restritas e em períodos chuvosos), ainda apresenta muitos casos e complicações, sendo que grande parte dessas doenças apresenta a sua vinculação relacionada à água de alguma forma, e os números são maiores na região Nordeste do País (ROUQUAYROL, 2014). Com isso, pretendeu-se analisar a influência da escassez de água na saúde pública e na reemergência de doenças infecciosas no estado da Bahia de 2007 a 2012. Desenvolvimento do trabalho: Trata-se de um estudo epidemiológico, descritivo, exploratório de caráter transversal. O período escolhido para o estudo é referente à disponibilidade dos dados em todos os bancos de dados. A pesquisa realizada foi composta a partir de dados secundários provenientes do Sistema de Informação de Agravo de Notificação (SINAN) e com dados da Agência Nacional de Água do Brasil a qual é responsável pela coordenação do Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH), sistema de coleta, tratamento, armazenamento e recuperação de informações sobre recursos hídricos. Para análise da situação entre a escassez de água e a incidência de doenças reemergentes foram utilizados os seguintes indicadores: água (total de reservatórios, volume menor que 30% e volume acima de 90%); e os agravos à saúde (Cólera, Dengue, Febre Tifoide e Hepatite A). Para análise dos indicadores o processo envolveu a caracterização dos casos dos agravos estudados, utilizando as variáveis: faixa etária, sexo, raça e escolaridade dos casos notificados, assim como estimativa das incidências para o estado da Bahia para o período estudado. No segundo momento foi realizada a comparação ano a ano entre os agravos e o volume para compreensão do aumento ou redução das doenças em função da melhoria ou não da disponibilidade da água no estado ao longo do tempo. Resultados: Em relação à disponibilização de água no estado da Bahia, percebeu-se que a quantidade de reservatórios (total de 41 reservatórios de água) vem permanecendo constante nos últimos anos, com volumes cada vez menores, apesar da comprovada escassez de água em diversos municípios do estado da Bahia, sinalizando para a reavaliação das políticas públicas de fornecimento de água. Sabe-se que o Nordeste brasileiro apresenta condições hídricas desfavoráveis que combinam: evapotranspiração alta durante todo ano, baixa precipitação, subsolo desfavorável em muitas regiões e baixo desenvolvimento econômico social. A dengue, que foi reintroduzida no país em 1982, após o retorno do mosquito transmissor da doença na década de 1970, que havia sido eliminado das décadas de 1950 e 1960. No ano 2012, quatro sorotipos circulavam no país, com a disseminação recente do DENV4, sendo que o Brasil enfrenta atualmente uma epidemia (ROUQUAYROL, 2013). No período de 2007 a 2012 o número total de casos de dengue no estado da Bahia foi de 27.1629, problema que não é novo, mas que vem se intensificando nos últimos anos, aumentando o número de casos e de notificações. Tal situação é evidenciada nas diferenças sociais no acesso a recursos e equipamentos públicos implica diretamente no quadro de saúde das pessoas, quando se compara o número de casos de dengue, febre tifoide e hepatite A na Bahia de 2007 a 2012, o número de casos é extremamente mais elevado na população com menos de 8 anos de estudo, com 65,364 (66,33%), 41 (62,12%) e 1009 (84,58%) respectivamente. Em relação ao número de casos das mesmas doenças comparados em diferentes grupos etários, tem-se 137.612 (78,62) dos casos de dengue em pessoas declaradas negras e 37,431 (21,38%) não negras; para hepatite A 2.051 (80,20%) dos casos atribuídos a pessoas negras, e para febre tifoide o número de casos na população negra é de: 81 (78,31%) dos casos, o que demonstra a inequidade na distribuição e acesso aos serviços e equipamentos públicos de saúde, sociosanitários e hídricos. Como apontado por Pignatti (2004) apesar das diferentes manifestações clínico-epidemiológicas das doenças transmissíveis, a dinâmica do surgimento de novas doenças é complexa e necessita de um olhar transdisciplinar. O necessário fortalecimento dos programas de vigilância epidemiológica implica investimentos em infraestrutura criando as condições necessárias para a atuação oportuna, adequada e na amplitude necessária; o estabelecimento de um sistema de informações e, principalmente, a capacitação técnica. Segundo Souza e Andrade (2014), o Brasil avançou ao longo dos anos, com grandes conquistas da sociedade, sobretudo, no setor Saúde, com a criação do SUS, mas ainda enfrenta problemas básicos de estruturação, efetividade e acesso a serviços e equipamentos públicos básicos, como educação, infraestrutura, saneamento básico e saúde. Considerações finais: O Nordeste brasileiro convive a muitos anos com a escassez de água, e os problemas ambientais e de saúde advindos dessa situação, caracterizada principalmente pelo clima e relevo da região, o que torna fundamental a constante análise, avaliação e a proposição de ações e políticas de saúde que visem enfrentar tal situação e consequentemente melhorar a qualidade de vida da população. Nota-se que, as tendências nos indicadores de saúde/doença no que se refere a esse quadro ainda carece de muita atenção, pois doenças consideradas “do passado” ainda assolam muitas comunidades da região Nordeste do país, como a Dengue e atualmente a Chikungunya e a Febre Zica. Alternativas devem ser criadas para o enfrentamento da crise hídrica e das consequências que ela gera na saúde das pessoas.

Palavras-chave


Escassez de Água; Abastecimento de Água; Saúde pública; Saúde Ambiental; Meio ambiente.

Referências


BRASIL. Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Doenças relacionadas à água ou de transmissão hídrica. CCD/SES‐SP; 2009.

 

MMA. Ministério do Meio Ambiente. Água. Disponível em: <http://www.mma.gov.br/agua>. Acesso em: 02 de junho de 2015. <ftp://ftp.cve.saude.sp.gov.br/doc_tec/hidrica/doc/dta09_pergresp.pdf>. Acesso em 02 de junho de 2015.

 

PIGNATTI, M. Saúde e ambiente: as doenças emergentes no Brasil. Ambiente & Sociedade, v.4, n.1, 2003.

 

ROUQUAYROL, M. Z.; GURGEL, M. Epidemiologia e Saúde. 7ed. Rio de Janeiro: MedBook, 2013.

 

SOUZA, C. L.; ANDRADE, C. S. Saúde, meio ambiente e território: uma discussão necessária na formação em saúde. Ciência & Saúde Coletiva, v.19, n.10, p.4113-4122, 2014.