Rede Unida, 12º Congresso Internacional da Rede Unida

Tamanho da fonte: 
A CONCEPÇÃO DOS MONITORES SOBRE A INFLUÊNCIA DO PET – GESTÃO NA FORMAÇÃO EM SAÚDE
Ana Paula Gossmann Bortoletti, Gimerson Erick Ferreira, Alcindo Antonio Ferla, William Rogério Aretz Brum, Êrica Rosalba Mallmann Duarte, Miriam Thais Guterres Dias

Última alteração: 2016-01-06

Resumo


Apresentação: Há algum tempo o Ministério da Saúde (MS) vem apontando a urgência acerca das discussões entre a consonância de gestão em saúde, formação de profissionais e controle social. Embora, existam propostas de transformação para os modelos de formação em saúde, através de mudanças de projetos pedagógicos e criação de programas como o Programa de Reorientação na Formação Profissional em Saúde (PRÓ-Saúde) e o Programa de Educação pelo Trabalho para a Saúde (PET Saúde), ainda assim a formação dos profissionais tem permanecido centrada na produção de ações curativas, hospitalocêntrica e teórico-centrada, distante do modelo de saúde idealizado pelo SUS, pautado no protagonismo do controle social, na gestão compartilhada e nas redes de saúde. Para assegurar a transformação deste cenário faz-se necessário antes de tudo uma (des) construção e (re) construção dos currículos que formam estes profissionais, sendo necessário que os mesmos se pautem em torno dos princípios e diretrizes do SUS, norteado pela humanização, integralidade e cogestão junto aos usuários. Partindo dessa premissa em 2011 iniciou-se na Universidade Federal do Rio Grande do Sul o PET Saúde – Gestão*. Este programa empreendeu com o objetivo de possibilitar aos estudantes vivências e participação na concepção da gestão em saúde, como uma construção sistemática e coletiva, para a implantação de uma gestão e assistência de saúde inovadora e qualificada, com bases no monitoramento, mapeamento e avaliações de ações integradas entre ensino e serviço 1. Este estudo buscou conhecer a percepção dos monitores do PET - Gestão acerca da influência que as vivências proporcionadas por este programa tiveram para sua formação. Desenvolvimento do trabalho: O trabalho foi desenvolvido por meio de uma pesquisa qualitativa, exploratória e descritiva, tendo como campo um distrito de saúde do município de Porto Alegre/RS, no qual os monitores do PET - Gestão realizam suas atividades. A amostra foi composta por 14 monitores e ex-monitores do programa independentemente de idade, sexo e curso da saúde. Os dados foram coletados em novembro de 2014, através de entrevistas gravadas, sendo as informações analisadas mediante a análise de conteúdo. Aos participantes foi solicitado que falassem sobre suas vivências no PET - Gestão e sobre como esta experiência contribuiu na formação de cada um. O estudo seguiu a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde, sendo aprovado pelo CEP/UFRGS. Resultados: Ao participarem das entrevistas os estudantes refletiram sobre as vivências e aprendizados proporcionados pelo PET - Gestão e de que maneira esta experiência contribuiu para seu desenvolvimento pessoal, acadêmico e profissional. Após a interpretação das falas dos participantes foram identificadas três categorias empíricas: o saber empreendedor, aprendizado em ato e o quadrilátero da formação, que estão relatadas a seguir. O saber empreendedor aludido no estudo não possui a significância do aprendizado empresarial e/ou econômico, mas sim, entendido como a capacidade de mobilizar e ampliar saberes, de transformar e inovar, vislumbrando a autogestão para o futuro. Para os alunos, o PET - Gestão proporcionou novos aprendizados, ampliou os conhecimentos sobre trabalhar em saúde, estimulou o pensamento crítico, mobilizou conhecimentos para a resolução de demandas, bem como possibilitou a reflexão sobre o futuro profissional. A análise das falas sugere a necessidade de uma reconstrução dos métodos de ensino, do ensino teórico centrado, para o participativo e problematizado. Uma formação que relacione teoria e prática, mediante hipóteses e soluções é determinante para transformar a metodologia da transmissão do conhecimento e as práticas tradicionais, diretivas e acríticas, propiciando a formação de sujeitos capazes de reconhecer e atuar sobre os problemas da realidade. Tal transformação não ocorre somente com as mudanças curriculares, esta transformação necessita ocorrer no corpo docente, no modo que eles percebem os estudantes, como coparticipativos no processo de formação, estando o professor e o estudante compartilhando significados. Alguns monitores refletiram acerca do impacto deste programa em suas escolhas como futuros profissionais, reforçando a importância de conhecer e experimentar novos campos de conhecimento e trabalho. Sendo assim, é importante superar os moldes tradicionais de ensino e dar centralidade às metodologias questionadoras e instigadoras que favoreçam a reflexão acerca de novas possibilidades pode colaborar para que os alunos possam se tornar verdadeiramente protagonistas em suas escolhas 2. O aprendizado em ato relaciona-se ao encontro do aluno com a realidade do SUS nos diferentes espaços da rede básica, onde o pensar e o fazer são praticados simultaneamente de forma a (des) construir e (re) construir sua visão sobre o SUS, colaborando de maneira profícua com o amadurecimento e protagonismo do estudante em sua formação. Segundo os alunos para compreender os SUS é necessário mais do que se defrontar com os artigos da Constituição Federal ou suas leis orgânicas, a real compreensão vem da vivência no palco onde ele acontece, ou seja, na rede de saúde, com seus trabalhadores, usuários e programas. Pode-se então proferir que a prática fecunda a teoria, pois o SUS com toda a sua história, políticas, atores, ideias e ideais não pode ser compreendido somente no papel, o SUS necessita ser problematizado. O quadrilátero da formação é a representação de quatro eixos que devem estar integrados a fim de proporcionar a atenção integral em saúde, ao versamos sobre ele discutimos as cenas que envolvem usuários, gestores, profissionais da saúde e instituições de ensino, constituindo os atores que consolidam o SUS 3. Para estes monitores o PET – Gestão oportunizou conhecimentos para além dos currículos dos cursos, propiciou experiências inéditas e viabilizou o intercâmbio de ideias e valores. O encontro com os serviços de saúde e seus coabitantes possibilita a transformação do paradigma do modelo de assistência, no qual somente o profissional de saúde é responsável pela qualidade da resposta assistencial. A imersão dos estudantes nos locais de trabalho não favorece somente a construção desses futuros profissionais, mas também, qualifica-os como cidadãos, com habilidades e conhecimentos capazes de fazer saúde de forma compartilhada, propagando a produção da saúde de forma coletiva. Para estes futuros profissionais a inserção nos cenários onde ocorre a produção de cuidado, possibilita a percepção do controle social como parte do processo de produção da saúde, assegurando o cuidado integral através da compreensão das demandas e necessidades das pessoas, grupos e comunidades em uma nova visão de fazer saúde. Considerações finais: Este estudo revelou que o PET – Gestão influenciou para além da formação acadêmica, interferiu de maneira positiva no desenvolvimento pessoal e profissional dos monitores do programa, apontando a relevância da estruturação de uma formação que contemple as redes de atenção à saúde em sua totalidade como um campo integrado ao ensino, propiciando diferentes formas de desenvolvimento para os estudantes. Constatou-se que a inserção destes estudantes nos campos de atuação favorece um aprendizado problematizado, podendo possibilitar a formação de futuros profissionais mais reflexivos, proativos, autônomos e com um olhar mais amplo sobre as redes de saúde, percebendo a multidisciplinaridade, interdisciplinaridade e o trabalho coletivo como definidores da atenção integral. Sendo assim, desvela-se então a necessidade da continuidade de ações que fortaleçam o encontro da academia com os cenários onde se dá o desenvolvimento do cuidado e onde se encontram todos os atores envolvidos no processo de produção da saúde, podendo privilegiar uma gestão compartilhada, tendo o usuário e seu protagonismo como foco central nas ações de cuidado. * A partir desse momento usaremos apenas PET-Gestão. 

Palavras-chave


Recursos Humanos em Saúde; Educação em Saúde Política de Saúde; Serviços de Saúde

Referências


1 Duarte ÊRM, Reis RA, Benites DF, Stein DC, Calegari DP, Réus DR et al. Gestão das ações de integração Ensino-serviço e educação Permanente em saúde no distrito Glória/Cruzeiro/Cristal. In: Ferla AA, Rocha CMF, Dias MTG, Santos LM, organizadores. Integração ensino- serviço: Caminhos possíveis? Porto Alegre (RS): Rede UNIDA, 2013. 140 p.

2 14 Moreira MA. Aprendizagem Significativa Crítica. 1ª ed. Porto Alegre (RS): do autor;2005. 47p.

3 Ceccim RB, Feuerwerker LCM. O Quadrilátero da Formação para a Área da Saúde: Ensino, Gestão, Atenção e Controle Social. Cad. Saúde Pública. 2004 set/out;14(1):41-65.