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Este trabalho objetiva apresentar o Programa de Residência Multiprofissional em Saúde da Família, iniciado em março de 2015, com 41 residentes e respectivos preceptores, com coordenação local e estadual em 12 municípios da Bahia. Seu foco está na formação de profissionais de forma regionalizada, para o desenvolvimento da Atenção Primária, por meio da Estratégia de Saúde da Família, tendo em vista a promoção da saúde, ordenamento e consolidação das redes de atenção e a integralidade do cuidado. Especificadamente objetiva: a) Analisar as tendências atuais das Políticas de Saúde, e mais especificamente as de Atenção Básica no âmbito nacional, estadual e locorregional; b) Compreender a noção de Território, sua relação com o processo saúde-doença e modos de vida, desenvolvendo estratégias de cuidado em equipe interdisciplinar; c) Desenvolver ferramentas e metodologias de apoio matricial/matriciamento a fim de promover o cuidado colaborativo na Atenção Básica, contribuindo para a gestão do cuidado baseada na concepção de clínica ampliada, com vistas à intersetorialidade; d) Promover educação permanente a partir da integração com as equipes de saúde (de referência e de apoio matricial), equipe de residentes e comunidade; e) Fomentar estudos e pesquisas em Atenção Primária e Apoio Matricial a fim de qualificar as práticas desenvolvidas nas Redes de Atenção à Saúde; f) Ampliar a capacidade clínica, educativa e de escuta, desenvolvendo habilidades de comunicação, de gestão e de trabalho colaborativo; g) Reconstruir os padrões de relação nos serviços de saúde, integrando a gestão locorregional, por meio da articulação entre equipes de saúde e de Apoio Integrado. As estratégias pedagógicas do Programa estão pautadas no currículo integrado, baseado na Teoria Crítica e no referencial que considera as formas de construção do currículo como fatos sociais, o que proporciona uma compreensão global do conhecimento e promove maiores parcelas de interdisciplinaridade na sua construção. As competências elaboradas geram um fluxo de ação e reflexão no qual é possível superar a dicotomia entre teoria e prática, bem como, entre conhecimento, trabalho e vida. Este currículo pode contribuir significativamente para a formação de profissionais com autonomia, criticidade, abertos e capazes de refletir sobre as mudanças que ocorrem a todo o momento nos cenários de práticas da atenção primária.  Para desenvolvimento desta proposta, compete à aplicação de métodos ativos de aprendizagem que buscam a espiral construtivista, a representação dos movimentos desenvolvidos no trabalho coletivo dos grupos de residentes, possibilitando a aprendizagem significativa. Estes métodos enfatizam a ação de problematizar, pois têm como objetivo último, que o residente aprenda a relacionar três momentos: identificação de um problema, busca de fatores explicativos e proposição de soluções. O currículo integrado deste Programa está baseado na interdisciplinaridade, motivando um diálogo entre as áreas temáticas, possibilitando desconstruir e retrabalhar concepções a fim de implantar uma nova práxis na Atenção Básica. Quanto ao desenho metodológico o trabalho interdisciplinar é um eixo do Programa e, baseando-se na problematização do conhecimento, será tratado em abordagens temáticas, que a cada trimestre serão integradas em um único módulo. Tais abordagens temáticas foram selecionadas por proximidade e relação com as práticas vivenciadas, e são trabalhadas a partir de projetos interdisciplinares, com flexibilidade, atendendo às singularidades locorregionais. O acompanhamento pedagógico tem sido efetivado por meio de discussões quinzenais das narrativas e/ou do usuário-guia (estudo de caso) construídos individualmente e/ou em equipe de residentes e discutidos com os preceptores e/ou trabalhadores da Equipe de Saúde da Família (ESF). Tais discussões também poderão ser realizadas com o tutor por meio de fóruns virtuais interdisciplinares no AVA - Ambiente Virtual de Aprendizagem, durante todo o módulo, e que culmina com a realização de um Seminário Trimestral Interdisciplinar de Avaliação presencial (STI). Portanto, serão apresentadas no AVA seis narrativas a cada módulo temático, seguidas, cada uma, de sínteses reflexivas, cujo suporte teórico evidencia o aprendizado do residente. As narrativas e usuário-guia são de livre escolha do(s) residente(s), atendendo ao critério de ter ocorrido no campo de prática e seguindo os termos de referência para elaboração. Vale destacar que o usuário-guia deve ser de escolha do residente, juntamente com a ESF. Para as discussões das narrativas e usuário-guia, os residentes devem justificar a escolha, destacar o aspecto central que será discutido, articulando-o às temáticas que compõem o respectivo módulo. Os preceptores devem receber as narrativas ou usuário-guia com antecedência mínima de uma semana e estas deverão ser postadas no AVA para discussão a distância com os tutores. Os tutores, eventualmente, poderão apresentar narrativas disparadoras do processo de aprendizagem nos fóruns. Outro dispositivo de acompanhamento pedagógico é o diário cartográfico, desenvolvido no AVA, onde o residente registra e avalia seu itinerário formativo, sinaliza suas pendências e necessidades de reforço, para (re) adequação do plano de estudos, constituindo-se em sua autoavaliação e tem acompanhamento do tutor. A organização curricular se dá pelos Módulos Temáticos Interdisciplinares, de caráter flexível, considerando a realidade vivenciada pelo residente nos campos de prática:  Módulo 1 (R1) Território/Determinantes Sociais; Família, Saúde e Sociedade; Atenção Primária em Saúde. Módulo 2 (R1) Modelos de Atenção, Integralidade, Redes de Atenção à Saúde. Módulo 3 (R1) Fundamentos do Apoio Matricial; Educação Permanente; Ética. Módulo 4 (R1) Clínica Ampliada; Gestão do Cuidado - Projeto Terapêutico Singular; Trabalho em Equipe. Módulo 5 (R1) Promoção da Saúde; Intersetorialidade; Participação Social. Módulo 6 (R2) Informação e Comunicação em Saúde; Planejamento e Avaliação em Saúde; Projeto de Intervenção 1. Módulo 7 (R2) Projeto de Intervenção 2; Oficina de Negociação de Conflitos. Módulo 8 (R2) Projeto de Intervenção 3; Apresentação dos Trabalhos de Conclusão de Curso a TCC. A avaliação se dá de forma referenciada, objetivando dar retorno ao residente quanto ao seu processo de aprendizagem de modo processual, estabelecendo um plano para melhorar seu desempenho, quando necessário, possibilitando à equipe docente reorganizar as práticas educativas. A avaliação entre residentes e preceptores ocorre em encontros quinzenais e, mensalmente, entre residentes e tutores, por meio dos fóruns virtuais, sínteses reflexivas, diário cartográfico, visitas locais e nos STI. Rodas de conversa para avaliações com a comunidade e equipe da residência, poderão ser realizadas a cada semestre. Na construção do Trabalho de Conclusão de Curso - TCC será incentivada a elaboração de um projeto de intervenção exequível sobre a realidade vivenciada, com viabilidade de continuidade pelas sucessivas equipes de residentes. O residente egresso deve ser capaz de analisar as situações de saúde, compreendendo a singularidade do território, da família e do indivíduo, de organizar, coordenar e implementar atividades referentes à formulação e execução das políticas de saúde. Deve realizar suas atividades dentro dos padrões de qualidade e princípios da ética/bioética, tendo em conta que a responsabilidade da atenção à saúde não se encerra com o ato técnico, mas, sim, com a resolução do problema de saúde, ou seja, generalista, com formação humanística, capacidade crítica, compreendendo a saúde em suas múltiplas dimensões. O primeiro STI nos revelou que estamos trilhando um caminho de desafios, mas com potência de superação, haja vista as experiências apresentadas pelos residentes, o que nos faz entender que esta modalidade de formação é factível e o método muito especial para a formação que atenda às necessidades do SUS, portanto, da população.      

residência multiprofissional; saúde da família; educação permanente